Regulação excessiva pode pôr em causa estratégias de sustentabilidade

  • ECO
  • 17 Maio 2024

Cláudia Falcão, responsável pelas relação com os investidores da Jerónimo Martins, alerta ainda que o excesso de regulação pode impedir o crescimento de empresas de menor dimensão.

Cláudia Falcão, representante para as relações com os investidores da Jerónimo Martins.Hugo Amaral/ECO

Cláudia Falcão, responsável pela relação com os investidores da Jerónimo Martins, volta a estar nomeada para o prémio de melhor IRO nos Investor Relations and Governance Awards, da consultora Deloitte. Em resposta por escrito ao ECO alerta que as exigências regulatórias trazem custos significativos e, se levadas longe demais, podem “pôr em risco o ritmo de implementação das estratégias de ESG”.

A evolução da política monetária e o crescente risco geopolítico têm contribuído para uma maior volatilidade nos mercados financeiros. Que desafios coloca este contexto à gestão da relação com os investidores?

Um contexto mais volátil e difícil de prever, não apenas ao nível dos mercados financeiros, mas também ao nível da economia real, exige que as equipas de Investor Relations (IR) se tornem proativamente mais disponíveis para falar com os investidores sobre os desenvolvimentos que observam nos mercados em que estão presentes.

As empresas que operam em contacto com os consumidores têm acesso privilegiado aos sinais emitidos pela economia real. Ao partilhar esta sensibilidade contribuem para uma maior transparência em relação aos desenvolvimentos observados nos mercados e, embora não seja possível eliminar o risco que advém de uma maior volatilidade, podem certamente somar informação com valor para a comunidade de investidores.

Considera que as crescentes exigências regulatórias e de compliance são necessárias ou a sua complexidade é um entrave à atração de capital e ao desenvolvimento dos mercados?

Tem havido, e perspetiva-se que continue a haver, um aumento significativo de regulamentação e das exigências de relato em matérias de ESG, com vários standards de reporting a ganharem forma nas mais diversas áreas de responsabilidade corporativa.

Se é certo que muitas destas medidas contribuíram para que os desenvolvimentos a nível das estratégias de sustentabilidade dos vários agentes económicos se tornassem mensuráveis e comparáveis, é também inegável que acresce muita complexidade à atividade de reporting das empresas, a que se associa um crescimento significativo dos custos.

Seria fundamental, à luz das exigências que se espera que continuem a aumentar, perceber até que ponto este esforço pode pôr em risco o ritmo de implementação das próprias estratégias de ESG no sentido em que as empresas abrangidas por estes requisitos irão – no curto-prazo – orientar os seus esforços para o reporting e para a gestão necessária para acomodar as necessidades regulatórias. Por outro lado, estas exigências poderão também revelar-se como constrangimentos significativos ao desenvolvimento da actividade económica de empresas de menor dimensão, que não têm ainda os seus processos preparados para dar resposta às alterações regulatórias e para reportar esta informação, nos formatos exigidos, aos seus clientes ou aos mercados.

Que impacto pode vir a ter a inteligência artificial no trabalho de um responsável pela relação com os investidores?

Ferramentas de IA desenvolvidas à medida para a área de IR e que garantam a segurança da informação, podem, sob supervisão, simplificar tarefas mais rotineiras de preparação de relatórios e composição ou melhoria de textos, deixando mais tempo para a equipa se centrar em análises mais estratégicas.

Como é que os temas do ESG já estão a mudar o papel dos IRO e vão fazê-lo no futuro?

Uma empresa que tenha uma visão de longo prazo, incorpora necessariamente as dimensões de ESG na sua estratégia. Estas fazem naturalmente parte da sua comunicação com o mercado de capitais e estão presentes na informação que é divulgada aos investidores.

Esta já é a realidade hoje. Dependendo da complexidade dos temas, que no caso de ESG pode ser elevada do ponto de vista técnico e regulatório, o IRO deve trabalhar em estreita colaboração com os especialistas de ESG da sua empresa, como forma de permitir que os investidores tenham acesso a esclarecimentos cabais em determinadas temáticas.

Se, no passado, muitas das interlocuções de ESG apenas aconteciam em reuniões com analistas especialistas nestas matérias, hoje o mais frequente é que as próprias apresentações de resultados financeiros abordem projetos de ESG, já que são parte integrante da estratégia das empresas.

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