Tomás Froes justifica saída dos trabalhos da Dentsu Creative do Festival CCP
"Tudo isto resulta de uma decisão precipitada, muito pouco ponderada e, atrevo-me a dizer, muito leviana", comenta ao +M. O CCP garante que "o processo decorreu de forma igual com todos os trabalhos".
“Estamos tristes, claro que estamos , mas não podíamos deixar de manifestar com firmeza a nossa posição, não apenas por nós DC, mas pela indústria, pela criatividade, por todos”, comenta com o +M Tomás Froes, CEO da Dentsu Creative Iberia, a propósito da retirada dos trabalhos da agência do Festival CCP, na sequência da votação para shortlist do filme “É uma menina”, do BPI.
Numa declaração por escrito, o responsável diz acreditar que “tudo isto resulta de uma decisão precipitada, muito pouco ponderada e, atrevo-me a dizer, muito leviana“.
“Tenho pena, e sinceramente não consigo entender, que o júri não tenha pelo menos ‘estudado’ esta campanha com alguma profundidade, porque percebiam de imediato o impacto e reconhecimento que teve na indústria criativa”, acusa. Refere os prémios ganhos, nacional e internacionalmente, e “o reconhecimento que teve da sociedade civil em todo o mundo, com mais de 5 milhões de partilhas do filme e com milhões de comentários a elogiar aquele que é uma mensagem de verdadeiro empower, uma história de enorme superação de uma miúda que como tantas outras queria jogar futebol ao mais alto nível e atingiu o seu sonho”.
“Não percebo mesmo — ou então fizeram-no de forma deliberada o que não quero acreditar que seja possível. Por isso fico-me pelo erro e pela decisão precipitada”, afirma.
“Respeitamos muito o CCP e o trabalho que fazem”, frisa, mas “esperava uma posição firme do clube sobre isto, assumido o erro desta decisão”. “Errar é humano, faz parte da vida. E com os erros todos podemos e devemos aprender para o futuro. Foi o que transmiti ao clube antes de qualquer comunicado”, continua o fundador da agência.
Tomás Froes diz que a resposta que obteve foi “um comunicado a falar de regras e regulamentos, deixando a entender que um grupo de quatro ou cinco pessoas reunidas numa sala, se sentem com uma autoridade moral superior a milhões de pessoas a quem este filme tocou de forma muito especial. E que se sentem com a legitimidade de “acusar” e decidir fazer um “pré julgamento” à campanha que nada tem a ver com questões criativas ou técnicas, mas sim com opiniões ideológicas , totalmente subjetivas e que, na nossa opinião, abrem um precedente muito grave nos critérios sobre os quais vamos julgar criatividade e e ideias no futuro“, aponta.
“E foi por isso, e apenas por isso, que decidimos retirar todas as peças inscritas por nós“, justifica, acrescentando que antes de o fazerem informaram, em conversa com Susana Albuquerque — “que muito respeitamos pessoal e profissionalmente”–, este ponto de vista.
Entretanto, na tarde desta segunda-feira, o CCP explicou ao +M que “depois da polémica iniciada nas redes sociais, questionou o presidente de júri sobre este processo. “O presidente indicou-nos que o trabalho tinha sido levado a discussão por um jurado, que tinham sido apresentados argumentos a favor e contra o filme ficar na shortlist, e que o trabalho foi depois votado três vezes, tendo a maioria dos jurados deliberado que ele deveria sair da shortlist”.
“Entendemos o gesto de protesto, apesar de o lamentarmos. A Dentsu Creative tem todo o nosso respeito e admiração pelo trabalho que desenvolve, e lamentamos que esta decisão signifique que o anuário deste ano fica sem a sua participação”, comentava a direção do clube.
“A direção do CCP lamenta o sucedido por vários motivos. Em primeiro lugar, lamentamos que tenha sido violada a confidencialidade das discussões e das deliberações em sala. Cada jurado deve sentir-se seguro naquele contexto de votação para expressar a sua opinião com o resto do grupo. Cada jurado só tem um voto. Cada grupo de júri tem oito jurados mais um presidente. As votações do júri em sala são soberanas e a direção não pode, de nenhuma forma, interferir nas discussões e nas deliberações”, responde por escrito a direção do CCP.
“Lamentamos ainda alguns equívocos que têm sido criados nas redes sociais. O trabalho em causa não foi expulso do Festival. Aliás, está na shortist de Craft, onde foi inscrito pelo Ministério dos Filmes. Os prémios serão revelados na Gala do dia 24. A votação do trabalho na categoria de Publicidade seguiu todos os passos do regulamento e uma maioria de votos decidiu que ele não deveria ficar na shortlist nessa categoria”, esclarece ainda, acrescentado que está a seguir a discussão que tem acontecido nas redes sociais e reconhecendo que vivemos “tempos complexos”.
“No sentido de nos adaptarmos a estes tempos, depois desta edição do Festival faremos uma reflexão séria sobre os passos a dar no futuro, nomeadamente sobre como continuar a sensibilizar o júri para que os trabalhos a concurso sejam julgados pelo seu desafio, pela excelência da resposta criativa, pela sua relevância, qualidade da execução e impacto”, prossegue.
Sobre a exclusão, a direção do CCP explica que “o processo decorreu de forma igual com todos os trabalhos que foram levados a discussão em sala”. Ou seja, depois da primeira fase de votação em casa, há uma linha de corte definida pelo presidente de júri acima da qual os trabalhos passam a shortlist e abaixo da qual ficam de fora. O regulamento prevê que o júri, em sala, pode levar a discussão qualquer trabalho para que ele seja acrescentado ou retirado desta shortlist prévia. Todas as discussões e deliberações em sala são privadas e protegidas por um acordo de confidencialidade assinado à entrada, descreve o CCP.
A categoria de Publicidade, recorde-se, tem como presidente Diogo Anahory (DJ) e conta com Fernando Silva (Uzina), Francisco Chatimsky (Mafalda&Francisco), Hernâni Correia (Leo Burnett), Ivo Martins (O Escritório), Patrícia Cordeiro (Judas), Patrick Stillwell (Dentsu Creative), Sara Soares (VML) e Sofia Anjos (Worten), como jurados.
Os vencedores do 26º Festival CCP vão ser conhecidos no dia 24. Em shortlist estão 346 trabalhos. A Dentsu, avança a direção do CCP, fez 12 inscrições no Festival, das quais nove chegaram a shortlist. O trabalho “É uma menina” está na shortist de Craft, onde foi inscrito pela Ministério dos Filmes
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