Bolsa nacional rende pouco, mas continua a superar a concorrência

Apesar de um desempenho histórico modesto, as ações portuguesas ainda batem a maioria dos ativos. Mas nem tudo o que reluz é ouro e a estratégia a seguir é crucial para ter bons resultados.

A bolsa nacional está longe de ser o mercado com o melhor desempenho do mundo. Nos últimos 50 anos, por exemplo, as ações portuguesas contabilizaram uma taxa de rendibilidade real média de apenas 0,9% por ano. É muito pouco. No entanto, fica bem acima do desempenho alcançado por outros ativos, como as obrigações do Tesouro e os bilhetes do Tesouro que, no mesmo período, apresentaram perdas reais anuais de 0,5% e 0,8%, respetivamente.

A mesma conclusão é revelada por um estudo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) apresentado na segunda-feira, que tem por base um período de investimento de 25 anos – entre 31 de dezembro de 1996 e 31 de dezembro de 2021 –, o comportamento de vários ativos e instrumentos financeiros e diferentes estratégias de investimento.

As ações revelam-se no ativo mais rentável no longo prazo, desde que esses ganhos não sejam “comidos” pelas comissões de negociação.

De acordo com a CMVM, 15 mil euros aplicados a 31 de dezembro de 1996 numa carteira de títulos que replicasse o índice acionista PSI Geral resultaria num valor acumulado de 53.941,16 euros ao fim de 25 anos, sem considerar comissões e impostos, como resultado de uma taxa de rendibilidade média de 5,25% por ano.

Este retorno nominal de quase 39 mil euros foi 25% superior ao gerado por uma aplicação semelhante em obrigações do Tesouro a 10 anos, 41% acima do oferecido por Certificados de Aforro e mais do dobro do ganho gerado com juros de depósitos a prazo.

Mesmo após a dedução de comissões e impostos, o diferencial dos retornos oferecidos entre estes ativos financeiros não se altera significativamente, mantendo-se o investimento em ações como a aposta mais rentável para os investidores. O mesmo sucede quando é considerado o efeito da inflação na carteira dos investidores.

Segundo cálculos da CMVM, 15 mil euros aplicados a 31 de dezembro de 1996 numa carteira que replicasse o PSI Geral chegou a 31 de dezembro de 2021 com a total preservação do capital inicialmente investimento acrescido de um ganho real (subtraído pelo efeito da subida da inflação) e já descontado de impostos e comissões de 18.122,98 euros, como resultado de uma taxa de rendibilidade média real de 3,2% por ano. Já os mesmos 15 mil euros aplicados em depósitos a prazo ao longo destes 25 anos traduziram-se em perdas reais de 3.234 euros, correspondente a uma taxa de rendibilidade real média anual de -1% durante este período.

No entanto, não deve ser descurado que, se em vez de uma carteira que replicasse o PSI Geral, fosse apenas considerado as maiores empresas da Euronext Lisboa presentes no índice PSI (outrora PSI 20), o investimento de 15 mil euros a 31 de dezembro de 1996 ter-se-ia traduzido em ganhos de apenas 6.077,78 euros (já considerando os dividendos pagos) — cerca de 0,14% por ano — e ficaria abaixo dos ganhos de 6.552,39 euros oferecidos pelos Certificados de Aforro.

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Peso das comissões penalizam fortemente ganhos em bolsa

As simulações da CMVM salientam também que nem sempre uma estratégia feita apenas de reforços regulares na bolsa portuguesa se revela no plano mais bem-sucedido para os investidores.

Segundo contas da CMVM, uma carteira construída a 31 de dezembro de 1996 que replicasse o PSI Geral através de uma dotação inicial de 600 euros e, durante 25 anos fosse reforçada também com 600 euros por ano, chegaria a 31 de dezembro de 2021 com um montante investido de 15 mil euros que se traduziu num ganho real acumulado de 3.667 euros, o equivalente a apenas 17% dos 18.122,98 euros gerados com um só investimento inicial de 15 mil euros.

Apesar dos momentos de crise nos últimos 25 anos, os mercados de valores mobiliários em Portugal, sobretudo o acionista, apresentaram-se como alternativas viáveis e vantajosas para investimentos de longo prazo.

O fosso ainda seria maior se em vez de um reforço anual fosse adotado uma estratégia de reforços constantes de 50 euros mensais e com uma dotação inicial de também 50 euros. Neste caso, o investimento numa carteira que replicasse o índice PSI Geral teria uma perda líquida real de 394,66 euros, que compara com perdas de 2.203,4 euros de uma aplicação exclusivamente em depósitos a prazo e com ganhos de 1.834,18 euros gerados por Certificados de Aforro com o mesmo método de investimento.

Esta discrepância de resultados é explicada por dois movimentos:

  • O tempo: Quanto mais cedo for realizado o investimento, mais tempo esse capital tem para crescer e tirar proveito do movimento dos juros compostos, com a carteira a valorizar não apenas sobre o capital inicial mas também e sobretudo sobre os ganhos que for gerando ao longo do tempo.
  • As comissões: As ações revelam-se no ativo mais rentável no longo prazo, desde que esses ganhos não sejam “comidos” pelas comissões de negociação. Isso é particularmente visível quantas mais transações forem realizadas e quanto menor for o montante aplicado de cada vez que se vai ao mercado.

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O exercício da CMVM teve também em conta a análise do desempenho dos fundos de investimento abertos nacionais por classe de risco. As conclusões apontam para que os fundos da classe 4 (risco elevado) foram os que proporcionaram os maiores retornos líquidos ao longo dos últimos 25 anos. Por exemplo, um investimento regular de 600 euros anuais em fundos da classe 4 resultaria num valor líquido de 26.383,86 euros ao final de 25 anos, superando significativamente outras opções.

O estudo da CMVM conclui que, apesar dos momentos de crise nos últimos 25 anos, os mercados de valores mobiliários em Portugal, sobretudo o acionista, apresentaram-se como alternativas viáveis e vantajosas para investimentos de longo prazo. Segundo o exercício da CMVM, Investir em ativos sintéticos que replicam o PSI Geral e em fundos abertos de risco elevado teria proporcionado retornos líquidos superiores aos tradicionais depósitos bancários e à dívida pública, como obrigações do Tesouro e Certificados de Aforro.

Estes resultados sublinham a importância de uma estratégia de diversificação e a consideração de produtos financeiros mais dinâmicos para maximizar os retornos de investimento.

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