Grupo José de Mello decide refinaria de lítio “nos próximos meses” e admite parceiros
O Grupo José de Mello fechou 2023 com lucros de 95 milhões de euros, mais 3% que no ano anterior. OPA da Bondalti em Espanha está em fase de interação com as autoridades.
O Grupo José de Mello irá decidir “nos próximos meses” o investimento numa fábrica de refinação de lítio, através da Lifthium. A localização está ainda em avaliação, podendo ser em Portugal (Estarreja) ou Espanha. O presidente executivo, Salvador de Mello, abriu a porta à entrada de parceiros no projeto mais à frente.
“Neste momento a Lifthium está a estudar todas as condições para vir a tomar uma primeira decisão de investimento nos próximos meses, em função da verificação das condições necessárias”, afirmou o responsável durante a apresentação das contas do grupo, esta terça-feira, em Lisboa.
“É um projeto pioneiro, novo a nível europeu, e há um conjunto de avaliações que têm de ser feitas: da tecnologia, verificações comerciais, e a possibilidade de ter contratos comerciais da matéria-prima e com clientes atrativos”, detalhou Salvador de Mello.
A Lifthium foi criada no seio da Bondalti, a empresa do setor químico do grupo, para investir na refinação de lítio. Passou entretanto a ser detida em 75% diretamente pelo Grupo José de Mello, mantendo-se a Bondalti com 15%. “É um projeto que estamos a abraçar com muito interesse e entusiasmo com o objetivo de virmos a ser um player relevante na refinação de lítio a nível europeu“, apontou o CEO.
Em cima da mesa está a construção de uma primeira fábrica de lítio, estando em análise duas localizações: Estarreja, em Portugal, e Torrelavega, em Espanha. “Temos a possibilidade de fazer o investimento em Portugal e em Espanha. A verificação da atratividade das condições do local é também um aspeto relevante”, referiu Salvador de Mello, acrescentando a existência de “incentivos”, “rapidez de execução” e “condições de licenciamento”. “Ao dia de hoje estamos a trabalhar nas duas hipóteses”, afirmou.
Salvador de Mello detalhou que, neste momento, o grupo está a “trabalhar para as condições de investimento numa fábrica” apenas, mas admitiu avançar para outras. Duarte Braga, CEO da Lifthium, apontou recentemente à Bloomberg para o investimento de mil milhões em duas fábricas, uma em Portugal e outra em Espanha, valores que Salvador de Mello não confirmou.
A instabilidade política interna também é uma realidade. O que saiu das eleições não garante estabilidade e tranquilidade que nos deixe a todos sossegados.
O presidente do grupo José de Mello admitiu trazer mais investidores para o negócio da refinação de lítio. “Neste momento estamos a fazer o trabalho por nossa conta”, mas “vemos com bons olhos trazer parceiros para o projeto, mais à frente”, afirmou. A Lifthium fez já testes bem-sucedidos no Canadá, adiantou o responsável. “Os testes já estão a acontecer e já existem os primeiros exemplares de lítio para demonstração”. Para Estarreja está prevista uma unidade de demonstração reforçada da matéria-prima, falta decidir onde será feita a produção em grande escala.
Lucros crescem 3% em “contexto desafiante”
O Grupo José de Mello — que detém a Bondalti, a CUF, a José de Mello Residências, a Lifthium e uma participação de 17% na Brisa — fechou 2023 com lucros de 95 milhões de euros, um aumento de 3% face ao ano anterior. Os proveitos cresceram 5% para os 1.319 milhões e o EBITDA 6% para os 204 milhões. Números que Salvador de Mello destacou como sendo “históricos para o grupo”. O endividamento baixou 21% para os 721 milhões de euros.
“O contexto que vivemos é extremamente desafiante fruto da instabilidade geopolítica a nível internacional que tem marcado os últimos anos e continua a marcar 2024 e vai acompanhar-nos nos próximos anos”, sublinhou Salvador de Mello. “A instabilidade política interna também é uma realidade. O que saiu das eleições não garante estabilidade e tranquilidade que nos deixe a todos sossegados“, acrescentou, apontando ainda “um contexto de inflação elevada, que está a descer, mas que teve um impacto significativo em custos e nas taxas de juro” e “a desaceleração do crescimento económico a nível europeu”.
O grupo investiu 251 milhões em 2023, processo que vai prosseguir no futuro. “Temos previstos investimentos de mais de 500 milhões de euros até 2025 e um reforço significativo da internacionalização caso se confirmem as operações em curso”, afirmou Salvador de Mello.
OPA em Espanha em fase de interação com autoridades
A Bondalti lançou em março uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre 100% das ações da espanhola Ercros, através da subsidiária Bondalti Ibérica, com sede em Barcelona. A operação está condicionada à aceitação de mais de 75% do capital. O valor total da operação ronda os 329 milhões de euros.
O regulador do mercado espanhol, a Comisión Nacional del Mercado de Valores (CNMV), aprovou o início de avaliação da OPA. Para que a operação possa avançar, o Governo espanhol terá também de pronunciar-se, podendo recorrer ou não ao chamado “escudo anti-OPA”.
“É uma operação que faz muito sentido e que terá sucesso, mas teremos de aguardar as interações com as entidades competentes“, afirmou Salvador de Mello, rejeitando comentar se já existiu algum diálogo com o Executivo liderado por Pedro Sánchez.
“A operação está a decorrer com normalidade. Nada nos leva a crer que exista um problema processual. É um processo público que tem de ser avaliado pelas autoridades competentes e não queria entrar em detalhe”, acrescentou o presidente executivo.
O Grupo Mello anunciou mudanças na administração, com a eleição em assembleia-geral de Inês Caldeira e Luísa Delgado para membros do conselho de administração, em substituição de Isabel Jonet e Maria Amélia de Mello, que cessaram funções.
(notícia atualizada pela última vez às 13h20)
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