Jovens portugueses perdem terreno no ranking mundial da literacia financeira
O nível de literacia financeira dos jovens portugueses baixou nos últimos quatro anos e, segundo o PISA 2022, apresenta desigualdades socioeconómicas que têm de ser combatidas.
O mais recente relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) da OCDE, divulgado esta quinta-feira, apresenta uma análise detalhada sobre o nível de literacia financeira dos jovens com 15 anos em 20 países.
Portugal, que participou pela segunda vez nesta avaliação, obteve uma pontuação média de 494 pontos, conferindo aos jovens portugueses um nível de literacia financeira ligeiramente abaixo da média da OCDE, que se fixou nos 498 pontos, mas acima de países como Espanha (486 pontos) e Itália (484 pontos).
No entanto, juntamente com a Polónia, o relatório destaca que Portugal apresentou “uma diminuição significativa” do desempenho do nível de literacia dos jovens no espaço dos quatro anos que separam o PISA de 2018 e o relatório de 2022, espelhando assim um decréscimo do nível de literacia financeira neste período.
“Tendo em conta os resultados em literacia financeira do PISA 2022 para Portugal, é necessário refletir e atuar sobre como melhorar a literacia financeira dos alunos e em como a escola, como garante de igualdade de oportunidades, pode contribuir para essa formação“, refere o Ministério da Educação, Ciência e Inovação em comunicado.
Recorde-se que a literacia financeira integra com a disciplina Cidadania e Desenvolvimento no currículo escolar, fazendo parte do conjunto de módulos obrigatórios em pelo menos dois dos três ciclos do ensino básico.
Entre as duas dezenas de países avaliados pelos técnicos da OCDE, a comunidade flamenga da Bélgica lidera com 527 pontos entre os mais financeiramente instruídos, seguida pela Dinamarca com 521 pontos e as províncias canadianas com 519 pontos.
No extremo oposto figuram países como o Brasil, a Bulgária e a Malásia, que apresentaram desempenhos significativamente abaixo da média da OCDE.
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Um dos aspetos mais preocupantes revelados pelo estudo é a disparidade de desempenho entre alunos de diferentes contextos socioeconómicos: em média, “os alunos de contextos socioeconómicos mais favorecidos superaram os seus pares menos favorecidos em 87 pontos”, lê-se no relatório. Esta tendência é também observada em Portugal, com os dois grupos a estarem separados por 74 pontos, sublinhando assim a necessidade de políticas educativas que promovam a equidade.
Outra realidade destacada pelo PISA 2022 é a disparidade do nível de literacia financeira entre rapazes de raparigas. “Em alguns países, como Áustria, Costa Rica e Dinamarca, os rapazes superaram as raparigas, enquanto noutros, como Bulgária e Malásia, verificou-se o oposto”, revelam os técnicos da OCDE. Em Portugal, os rapazes superaram em 1,6% as raparigas em literacia financeira.
Embora o desempenho médio dos estudantes portugueses esteja próximo da média da OCDE, a diminuição observada desde 2018 é motivo de preocupação e exige uma análise cuidadosa das políticas educativas em vigor, sugere a OCDE.
Um dado positivo relativamente a Portugal é que 86% dos estudantes sentem-se confiantes na sua capacidade de gerir dinheiro, uma das percentagens mais elevadas entre os países avaliados.
No entanto, esta confiança nem sempre se traduz em competências práticas, especialmente entre os alunos com baixo desempenho, destaca o PISA 2022.
Para combater os desafios colocados aos jovens portugueses no contexto da literacia financeira, os responsáveis da OCDE sugerem várias medidas que abrangem, sobretudo, cinco áreas distintas:
- Apoiar os alunos com baixo desempenho: Implementar programas de apoio direcionados para alunos que apresentam dificuldades em literacia financeira.
- Combater as desigualdades socioeconómicas: Desenvolver políticas que promovam a equidade desde os primeiros anos de escolaridade.
- Envolver os pais e a comunidade: Incentivar a participação dos pais e da comunidade no processo educativo, promovendo uma cultura de literacia financeira.
- Integrar a literacia financeira no currículo escolar: Garantir que todos os alunos tenham acesso a uma educação financeira de qualidade, integrada no currículo escolar.
- Promover a educação financeira digital: Adaptar os programas educativos às novas realidades digitais, preparando os alunos para um mundo financeiro cada vez mais digitalizado.
Os resultados do PISA 2022 sobre literacia financeira esboçam um panorama complexo para Portugal, revelando tanto progressos como desafios significativos.
Embora o desempenho médio dos estudantes portugueses esteja próximo da média da OCDE, a diminuição observada desde 2018 é motivo de preocupação e exige uma análise cuidadosa das políticas educativas em vigor, sugere a OCDE.
As disparidades socioeconómicas e de género identificadas no estudo sublinham a necessidade urgente de implementar estratégias mais inclusivas e equitativas no sistema educativo português. Torna-se por isso fundamental que as autoridades educativas abordem estas questões de forma prioritária para garantir que todos os jovens, independentemente do seu contexto, tenham acesso a uma educação financeira de qualidade.
A elevada confiança dos estudantes portugueses na sua capacidade de gerir dinheiro é um ponto positivo que pode ser aproveitado. No entanto, é crucial que esta confiança seja acompanhada por competências práticas sólidas. Isto requer uma abordagem educativa que combine teoria e a prática, preparando efetivamente os jovens para os desafios financeiros do dia-a-dia.
(Notícia atualizada às 13h17 com declarações do Ministério da Educação, Ciência e Inovação.)
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