Contra-ataque na Ercros “força” Bondalti a melhorar preço da OPA
Investidores da Ercros defendem que o preço oferecido nas OPA da Bondalti e da italiana Esseco não considera o valor justo da empresa. Analistas concordam e antecipam novas ofertas concorrentes.
Está tudo em aberto na disputa pela aquisição da Ercros. Segundo analistas, o preço “muito abaixo do valor intrínseco da Ercros” proposto nas ofertas públicas de aquisição (OPA) da portuguesa Bondalti e da italiana Esseco deixa tudo em aberto na luta pelo controlo da gigante espanhola. Os analistas antecipam o surgimento de outras ofertas e dizem que a Bondalti, se não quiser ficar para trás, terá que melhorar a contrapartida oferecida na operação. Para já, a empresa portuguesa não quer comentar qual será o seu próximo passo, afirmou uma fonte da empresa ao ECO.
O lançamento de uma OPA por parte da química portuguesa sobre a totalidade do capital da Ercros por 3,6 euros por ação [preço entretanto ajustado para 3,505 euros após o pagamento do dividendo de 0,096 euros brutos], colocou a empresa espanhola no radar de outros players do setor europeu, que negoceia em valores deprimidos, tornando as empresas mais fragilizadas vulneráveis a movimentos de concentração.
A italiana Esseco foi a primeira a apresentar uma proposta concorrente à oferta realizada pelo grupo português, propondo-se a pagar 3,84 euros [ajustados para 3,745 euros para deduzir o dividendo pago pela empresa] por cada ação da Ercros, um preço que investidores e analistas continuam a considerar insuficiente para compensar os acionistas pelo potencial de sinergias, que os analistas calculam que ronda os 50 milhões de euros.
“Face aos múltiplos pouco exigentes e ao potencial de sinergias [de 50 milhões de euros], esperamos que ambos os concorrentes melhorem os preços das suas respetivas ofertas” para aumentar a probabilidade de sucesso das OPA, argumenta o analista da Mirabaud, que considera o preço oferecido pelos italianos — 7% superior à contrapartida da Bondalti — “baixo” e que “não partilha o potencial de sinergias com os acionistas da Ercros”.
Bondalti atraiu a atenção de outras partes interessadas na Ercros dada a sua posição dominante no mercado espanhol.
A OPA da “Bondalti atraiu a atenção de outras partes interessadas na Ercros dada a sua posição dominante no mercado espanhol“, comenta Jose Ramon Ocina, analista da Mirabaud, numa primeira reação à OPA lançada pela Esseco no passado dia 28 de junho.
O banco de investimento, que avalia a empresa com um preço-alvo de 4,55 euros — um “target” que diz não incluir as potenciais sinergias que poderão resultar da concentração de ativos num grande grupo — , refere que este é “um excelente timing para ambas as ofertas“, com o setor sob pressão.
Depois de ter fechado o último ano com uma faturação de cerca de 750 milhões de euros e lucros de 27,5 milhões de euros, a empresa espanhola comunicou ao mercado que deverá passar de lucros de 16,5 milhões de euros a prejuízos de 2 milhões na primeira metade do ano, arrastada pela crise que afeta o setor.
O mau momento dos resultados tem-se refletido no preço das ações, que negociavam 40,6% abaixo do preço oferecido pela Bondalti aquando do lançamento da OPA. Os títulos, entretanto, reagiram à oferta concorrente lançada pela empresa italiana, tendo mesmo chegado a negociar acima dos 3,84 euros oferecidos na OPA da Esseco, mas permanecem abaixo das avaliações dos analistas para a empresa e do máximo de 4,80 euros fixado em abril de 2023.
A oferta da Esseco também não reflete o valor intrínseco da Ercros e deixa a porta aberta a novas ofertas.
“A oferta da Esseco também não reflete o valor intrínseco da Ercros e deixa a porta aberta a novas ofertas“, defende a LightHouse, que avalia a Ercros com um target de 4,70 euros, num comentário feito pelos analistas após a divulgação da nova oferta sobre o capital da empresa espanhola.
Os especialistas dizem que o preço “está muito abaixo do valor intrínseco da Ercros considerando o potencial de geração de free cash flow“, que “‘força’ a Bondalti a melhorar a sua oferta”.
Os mesmos especialistas referem que, uma vez que consideram que a Ercros poderá ser um excelente parceiro estratégico para ambas as empresas, em termos de produtos e geograficamente, “o nosso cenário base mostra-nos o preço [das ofertas] a subir e uma ‘guerra de preços’ é altamente provável”.
Investidores “rejeitam” ofertas
A opinião dos analistas está em linha com a posição da administração e dos investidores da empresa. Os acionistas que participaram na assembleia-geral de acionistas, que decorreu no passado dia 28 de junho, já após ter sido conhecida a segunda oferta sobre a Ercros, manifestaram que o preço oferecido em ambas as operações subavalia o negócio da química espanhola.
“Valorizamos os nossos ativos e o nosso património líquido. Oferecer 4,40 euros por ação era o mínimo para se pegar no telefone”, afirmou um dos proprietários, citado pelo El Economista. “Estas OPA não têm nenhuma possibilidade de sucesso. Subestimam completamente a empresa”, acrescentou Joan Casas, um dos maiores acionistas da empresa que, com a sua mulher, controla cerca de 10% do capital.
Estas OPA não têm nenhuma possibilidade de sucesso. Subestimam completamente a empresa.
Em resposta aos investidores, o chairman e CEO da Ercros, Antonio Zabalz, disse: “O futuro da OPA depende dos acionistas. Se não gostarem, votem contra”. Ao contrário da oferta portuguesa, que foi “não solicitada” e “não acordada.” Zabalz adiantou ainda que “houve conversações entre assessores da Ercros e assessores da Esseco”.
O desfecho das ofertas será decidido pelos pequenos investidores, uma vez que menos de 21% das ações correspondem a participações superiores a 3% do capital. O advogado Víctor Manuel Rodríguez Martín, que liderou importantes revoltas de pequenos investidores à frente da Ercros, tornou-se o maior acionista da química espanhola, no passado dia 11 de março. O investidor, que considera o valor da oferta “baixo”, passou a controlar mais de 6% da companhia que a empresa portuguesa quer comprar.
Apesar de o advogado ser o maior investidor individual, o casal Joan Casas Galofré e Montserrat García Pruns (6,015% mais 3,61%) controla, em conjunto, perto de 10% do capital da empresa. Já o fundo norte-americano Dimensional Fund, participado pelo ex-ator e governador Arnold Schwarzenegger, detém 4,99%.
“A estrutura acionista atomizada da Ercros e a baixa liquidez da ação aumenta as hipóteses de sucesso da oferta mais atraente”, antecipa a Mirabaud.
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