Colonizadores nunca teriam capacidade para pagar o justo valor das reparações, diz presidente angolano
A questão não envolve só Portugal, mas outras potências como Inglaterra, França, Bélgica ou Espanha e "isso ia dar uma revolução inimaginável", disse João Lourenço.
O Presidente angolano disse esta terça-feira que Angola “nunca colocou” a questão das reparações históricas porque “teria de se mexer em muita coisa” e os países colonizadores não teriam capacidade de pagar “o justo valor” pelas reparações. João Lourenço falava em conferência de imprensa, após um encontro com o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, que hoje iniciou uma visita de três dias a Angola.
Questionado sobre o tema das reparações históricas, que foi levantado inicialmente pelo seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, o chefe do executivo angolano disse que a questão não foi colocada durante os 49 anos de independência do país e não vai ser colocada “nunca”, comparando o assunto às fronteiras que “foram mudando”.
“Esta questão é um pouco como as fronteiras entre os países, esta questão, se é levantada hoje, traz muita discussão e solução nenhuma, porque as fronteiras entre os países, ao longo dos séculos foram mudando”, disse o chefe de Estado, lembrando que Angola já foi o Reino do Congo. “Agora imaginem que Angola vinha com a pretensão de restaurar o antigo Reino do Congo (…) só cria conflitos, eu comparo isso à questão das indemnizações”, reforçou.
Além disso, acrescentou, os “países colonizadores não teriam nunca capacidade real de fazer a reparação no justo valor. É impossível”. Por outro lado, teria de se “mexer em muita coisa”, já que a questão não envolve apenas Portugal, mas envolve outras potências colonizadoras como Inglaterra, França, Bélgica ou Espanha e “isso ia dar uma revolução inimaginável”.
“Da parte de Angola, tal como nunca colocámos esta questão, pensamos não vir a colocar no futuro”, reforçou. Luís Montenegro, que não foi diretamente questionado pela jornalista que dirigiu a pergunta a João Lourenço, afirmou apenas nada ter a acrescentar a estas declarações.
O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu, em abril, que Portugal deve liderar o processo de assumir e reparar as consequências do período do colonialismo e sugeriu como exemplo o perdão de dívidas, cooperação e financiamento.
O Governo PSD/CDS-PP liderado pelo social-democrata Luís Montenegro afirmou que “não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português e que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.
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