Empresa do IVAucher deixa cair investimento de 28 milhões no Porto
Antiga SaltPay alega “alterações significativas dos contextos macroeconómico, social e laboral” para desistir dos incentivos financeiros contratualizados para criar um centro de competências no Porto.
A fintech britânica Teya, anteriormente designada por Salt Pay, que se tornou conhecida em Portugal por ter sido a parceira do Estado para operacionalizar o programa IVAucher, desistiu dos incentivos financeiros que tinha contratualizado com a AICEP para criar no Porto um centro global de competências para o desenvolvimento de tecnologia de suporte a um “ecossistema unificado de soluções de alto valor acrescentado”, ancorado em sistemas de pagamentos eletrónicos, para o segmento dos pequenos e médios comerciantes.
Segundo as informações recolhidas pelo ECO, o investimento ascendia a 28,5 milhões de euros e tinha garantido um incentivo público a rondar os 5,6 milhões de euros, aprovado pelo Compete a 30 de dezembro de 2021. Por se tratar de um “projeto de grande dimensão”, com um custo total elegível superior a 25 milhões de euros, e “se revelar de especial interesse para a economia nacional”, foi então alvo de um contrato de investimento assinado com a AICEP, assegurando a concessão de apoios no âmbito do regime especial do sistema de incentivos às empresas.
No entanto, de acordo com um despacho assinado a 18 de julho pelo ministro da Economia, Pedro Reis, a Teya Portugal formalizou no início deste ano um pedido de desistência dos incentivos financeiros em causa, alegando que “as alterações significativas dos contextos macroeconómico, social e laboral afetaram a sua capacidade de executar os investimentos planeados em conformidade com as disposições do contrato” rubricado com a agência pública responsável pela captação de investimento estrangeiro, que em junho passou a ser liderada pelo economista Ricardo Arroja.
A revogação por mútuo acordo do contrato de investimento “não importa a devolução de quaisquer quantias” por parte da subsidiária portuguesa da britânica Teya, que tem sede em Carcavelos (concelho de Cascais), uma vez que o pagamento do incentivo financeiro atribuído ao projeto de investimento não chegou a ser efetuado. De acordo com os dados fornecidos ao ECO pelo Ministério da Economia, a empresa tem atualmente 47 trabalhadores na região da capital e 110 na cidade do Porto, onde tem instalado um tech hub.
Questionada pelo ECO sobre os pormenores que levaram à desistência deste projeto e também relativos aos incentivos específicos que tinham sido acertados no contrato de investimento rubricado com a AICEP no último dia do ano de 2021 — agora revogado por mútuo acordo, segundo o despacho do Governo –, a Teya alega que “os detalhes relativos ao acordo em si estão sob confidencialidade”.
Temos várias vagas abertas no momento para continuar a crescer a nossa presença [no país]. (…) Mantemo-nos também empenhados em promover um mercado de pagamentos aberto e concorrencial em Portugal.
Confirmando os dois escritórios e “várias vagas abertas no momento para continuar a crescer a presença” no país, fonte oficial do grupo indica apenas que “serve PME portuguesas com serviços de aceitação de pagamentos e software para as ajudar a gerir e a crescer os seus negócios”. “Mantemo-nos também empenhados em promover um mercado de pagamentos aberto e concorrencial em Portugal”, acrescenta.
Vende Pagaqui após ciclo de prejuízos em Portugal
Fundada em 2019 com o objetivo de criar soluções de software de pagamento rápidas e seguras, com serviços associados para PME, a antiga SaltPay, que em abril de 2023 mudou o nome para Teya, tem sede em Londres e 1.100 funcionários espalhados por 17 escritórios pelo mundo. O de Carcavelos está junto ao jardim da Quinta de Alagoa; o da Invicta está englobado no Porto Business Plaza (antigo Central Shopping), junto ao Campo 24 de Agosto, onde tem como vizinhas as francesa Natixis ou Bouygues Telecom Services.
De acordo com o relatório da Informa D&B, consultado pelo ECO, a Teya Portugal, que tem sede no edifício 1 do número 42 da Rua de Cantábria, em Carcavelos, é controlada pela empresa-mãe Teya Europe Ltd (Reino Unido) e tem como gerentes Daniela Mastrorocco, Felipe Beirão da Veiga e Nuno Filipe Magalhães Pires. A informação oficial mais recente recolhida pela consultora, relativa a 2022, mostra que a sociedade portuguesa registou um volume de negócios de 14 milhões de euros e prejuízos de 19 milhões de euros, que acumulam com os resultados negativos nos dois anos anteriores (4,5 milhões em 2021 e quase 300 mil euros em 2020).
Já em fevereiro de 2024, três anos depois de ter sido integrada pela então SaltPay, foi anunciada publicamente a venda da empresa de pagamentos Pagaqui por parte da Teya, que tem atualmente João Fonseca como country manager para Portugal. Fundado em 2014 e na altura da transação com uma rede de 2.500 pontos de venda, distribuídos por lojas, quiosques, cafés, pastelarias e papelarias, o negócio passou para as mãos da portuguesa Eupago, que reclama a liderança nacional no setor de pagamentos eletrónicos.
Um artigo sobre “quantas das scaleups britânicas mais financiadas são rentáveis”, publicados em maio pelo portal especializado Sifted, apoiado pelo Financial Times, evidenciou que a fintech londrina Teya, que diz ter 300 mil clientes ativos (entre pagamentos e software) e fazer 500 milhões de transações por ano, já recebeu 1,2 mil milhões de dólares de financiamento (1,09 mil milhoes de euros), mas ainda não é rentável, tendo reportado perdas de 230 milhões de libras (267,5 milhões de euros) em 2022.
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