Exportações portuguesas de alta tecnologia aeroespacial duplicam no primeiro semestre. Vendas para EUA disparam 500%

Exportações portuguesas de Produtos de Alta Tecnologia ultrapassaram dois mil milhões de euros no 1º semestre. Maior crescimento registou-se na área aeroespacial e há expetativa que assim continue.

As exportações portuguesas de produtos de alta tecnologia aeroespaciais estão em rota de crescimento e a expectativa é que continuem a acelerar, com o aumento do número de empresas nesta área e contratos internacionais alcançados. As exportações de Produtos de Alta Tecnologia (PAT) continuam a crescer, tendo aumentado 7,7% nos primeiros seis meses deste ano, face a igual período de 2023, ultrapassando os dois mil milhões de euros, de acordo com os dados solicitados pelo ECO ao Instituto Nacional de Estatística (INE).

Para este crescimento tem contribuído em larga medida o aumento da venda de bens ao exterior na área aeroespacial produzidos em Portugal. Entre janeiro e junho deste ano, dos nove bens com a classificação de Produtos de Alta Tecnologia (PAT) considerados pelo INE, as exportações na área aereoespacial registaram a maior taxa de variação homóloga, ao disparar 100%, atingindo mais de 67 milhões de euros.

No primeiro semestre deste ano, entre os principais países de destino encontram-se a Ucrânia, com 24,9 milhões de euros exportados e uma taxa de crescimento de 210%, e os Estados Unidos, com 16,4 milhões de euros, refletindo um aumento de 507%. Em menor escala, seguem-se o Reino Unido, com 9,6 milhões de euros, Espanha, com 5,7 milhões de euros, e França, com 5,3 milhões de euros.

Em declarações ao ECO, Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, destaca que os dois principais destinos de exportação nesta área têm, sobretudo, a ver com “a situação que se está a viver na Ucrânia, já que em particular na área aeronáutica estão em causa drones” mas a evolução resulta “também de toda a tecnologia de comunicação através do espaço e observação”.

No caso das exportações para a Ucrânia o impulso deve-se sobretudo aos drones da empresa portuguesa aeroespacial Tekever, fundada em 2001 por antigos alunos do Instituto Superior Técnico (IST), que conta atualmente com mais de 350 trabalhadores.

No caso das exportações para a Ucrânia o impulso deve-se sobretudo aos drones da empresa portuguesa aeroespacial Tekever, fundada em 2001 por antigos alunos do Instituto Superior Técnico (IST), que em 2010 identificou uma oportunidade de mercado no desenvolvimento deste produto e que conta atualmente com mais de 350 trabalhadores.

O responsável da Agência Espacial Portuguesa, organização criada pelo Governo português para implementar a Estratégia Nacional para o Espaço (Portugal Espaço 2030), destaca que o crescimento das exportações na área aeroespacial – que inclui também a aeronáutica – resulta da produção de “novas empresas que se estabeleceram em Portugal e contratos que algumas empresas ganharam no contexto internacional”. Entre 2020 e 2023 surgiram seis novas empresas nesta área em Portugal, sendo a maioria estrangeiras, embora startups portuguesas também marquem presença, segundo dados da agência.

Entre as mais de 80 empresas ligadas ao setor espacial e 30 centros de investigação atualmente em Portugal, Ricardo Conde aponta como exemplo os casos da GeoSat –Global Earth Observation Satellites, Beyond Gravity Portugal ou da RFA Portugal. Em Lisboa e Vale do Tejo existe a maior concentração, com 45 empresas ou centros de investigação da área espacial, seguindo-se o Centro, com 36, e em menor número o Norte, com 25. Nos Açores existem nove, no Alentejo seis, no Algarve cinco e na Madeira dois.

Em Lisboa e Vale do Tejo existe a maior concentração, com 45 empresas ou centros de investigação da área espacial, seguindo-se o Centro, com 36, e em menor número o Norte, com 25. Nos Açores existem nove, no Alentejo seis, no Algarve cinco e na Madeira dois.

“A aposta no crescimento dos setores reflete também a estratégia nacional para o espaço”, salienta. O país tem participado em Programas de I&D e Inovação da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (AESA), tendo ainda protocolos estabelecidos com a NASA. Na totalidade de 2023, por exemplo, o investimento público em atividades do espaço foi o mais alto de sempre, atingindo 135 milhões de euros, de acordo com dados da Agência Espacial Portuguesa.

O presidente da Agência Especial Portuguesa acredita que o crescimento das exportações portuguesas nesta área irá continuar na segunda metade do ano. “Haverá mais contratos certamente ganhos pelas empresas. O ano está a correr bem”, disse. Para Ricardo Conde, “a questão agora é preparar caminho para os próximos anos, para o desenvolvimento não ser só de produtos, mas também de serviços, de modo que Portugal seja também provador de sistemas”.

Haverá mais contratos certamente ganhos pelas empresas. O ano está a correr bem. A questão agora é preparar caminho para os próximos anos, para o desenvolvimento não ser só de produtos, mas também de serviços.

Ricardo Conde

Presidente da Agência Espacial Portuguesa

Do ecossistema aeroespacial português fazem ainda parte empresas como a portuguesa Lusospace, que irá lançar em outubro o microsatélite PoSAT-2. Com um custo de cerca de um milhão de euros, o microsatélite será enviado para o espaço a bordo do foguetão Falcon 9, da empresa norte-americana SpaceX, e ficará posicionado numa órbita baixa, a cerca de 500 quilómetros de altitude da Terra, acima da Estação Espacial Internacional, a “casa” e laboratório dos astronautas, de acordo com a informação adiantada pela empresa à Lusa. Destacam-se ainda, entre outras, neste ecossistema a Active Space Technologies, a Altice Portugal, a Amorim Cork Composites, a D-Orbit, a Eye2Map, a Lusospace, ou a VisionSpace Portugal.

Telecomunicações têm o maior peso nas exportações de PAT

Apesar de as exportações portuguesas de bens na área aeroespacial terem registado a maior taxa de variação homóloga, são os produtos eletrónicos, na área das telecomunicações, que continuam a valer metade das vendas de produtos de alta tecnologia ao exterior.

As exportações portuguesas de telecomunicações de PAT cresceram 15% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado, para 1.162 milhões de euros. No pódio dos destinos encontra-se Espanha, com mais de 329 milhões de euros exportados e um crescimento de 41%, seguindo-se a Alemanha, com um aumento de 13% para cerca de 313 milhões de euros, e os Estados Unidos com 81,6 milhões de euros (com uma queda de 6%).

Por seu lado, as exportações de instrumentos científicos subiram cerca de 37% para 207 milhões de euros, enquanto os produtos farmacêuticos recuaram 13% para 229,8 milhões de euros. Já as exportações de produtos químicos caíram 4% para 118,7 milhões de euros e as de máquinas elétricas 18% para 113,2 milhões de euros.

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