Crise nos media? Veja as contas dos grupos não cotados em bolsa
Das 13 empresas de media não cotados em bolsa analisadas pelo +M, apenas três apresentam resultados positivos em 2023. Público e Global Notícias têm as contas mais negativas.
A crise de que tanto se fala no setor dos media está espelhada nas contas no Portal da Transparência, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Se já se sabia que a dona da SIC e do Expresso tinha fechado o último ano com um prejuízo de 2 milhões de euros e a dona da TVI e da Plural com um resultado líquido de 319 mil euros, quando saímos do universo das empresas cotadas em bolsa, os resultados não deixam grande margem para dúvidas: das 13 empresas analisadas pelo +M, apenas três apresentaram resultados positivos em 2023. Medialivre, Bauer Media Áudio Portugal e RTP são as exceções, que parecem confirmar a regra.
Neste universo, é de notar que a RTP está na esfera do Estado, com receitas provenientes da contribuição audiovisual (190 milhões) e comerciais (45 milhões) e que a dona da Rádio Comercial, da M80, da Cidade FM ou da Smooth FM não tem rádios de informação.
Os melhores resultados foram alcançados pela Medialivre, dona da CMTV, do Correio da Manhã, do Record, da Sábado ou do Jornal de Negócios, criada no final de 2023, na sequência da operação de Management Buy Out (MBO) que levou a Cofina Media a mudar de mãos. Fechou o último ano com um resultado líquido de 7,24 milhões de euros, mesmo assim uma quebra de 37,8% na comparação com 2022. Os rendimentos totais do grupo liderado por Luís Santana foram no último ano de 74,76 milhões de euros, o passivo total é de 60,45 milhões e o capital próprio de 32,96 milhões.
Começam então os resultados negativos. O grupo Renascença Multimédia passou de 67,8 mil euros positivos em 2022 para 67 mil euros negativos no exercício do último ano. Os rendimentos totais foram de 16,26 milhões de euros (os da Bauer Media, a título de curiosidade, situaram-se nos 25,7 milhões), o passivo total é de 4,98 milhões e o capital próprio de 8,36 milhões.
Segue-se a Trust in News, dona da Visão, da Exame e da Caras, que no Portal da Transparência surge com um resultado líquido negativo de cerca de 115 mil euros. Com um pedido de adesão a um Processo Especial de Revitalização em curso, a empresa obteve receitas de 13,64 milhões de euros. O capital próprio é negativo em 78,19 milhões de euros e o passivo total situa-se nos 30,17 milhões. O Estado, a Impresa Publishing (a quem Luís Delgado comprou os títulos no final de 2017) e o Novobanco são os principais credores, com 48%, 12% e 11%, respetivamente.
Também no vermelho, surge a Swipe News, dona do ECO, do +M, da Advocatos ou do Capital Verde, com resultados líquidos negativos de 234,82 mil euros, que comparam com os 748,79 mil euros negativos do exercício anterior. A empresa obteve rendimentos totais de 2,48 milhões de euros, o passivo total era no final do ano de 2,59 milhões e o capital próprio negativo em 1,62 milhões.
A Agência Lusa, na qual o Estado reforçou a participação no final de julho, fechou o último ano com um prejuízo de 254,63 mil euros, que compara com os 109,6 positivos de 2022, e a Newsplex, dona do Nascer do Sol e do I já escalou o patamar do meio milhão de prejuízo, ao fechar o exercício com resultados negativos de 574,40 mil euros. Comprada em julho de 2022, obteve no último ano receitas totais de 1,32 milhões de euros, o capital próprio é negativo em 2,53 milhões e o passivo total situa-se nos 2,88 milhões. Sunny Media (37,4%), Segurança Social (25,61%) e Autoridade Tributária são, sempre de acordo com o Portal da Transparência, os detentores relevantes do passivo.
Já acima da fasquia do milhão de euros negativos, com 1,25 milhões, surge a Observador on Time. A dona do Observador e da Rádio Observador obteve rendimentos totais de 6,67 milhões de euros, tem um capital próprio de 1,69 milhões e um passivo total de 2,45 milhões. A CGD e o Banco Comercial Português (27,8% e 4,5%) são os principais detentores relevantes do passivo.
A Media9 Par, formada no verão de 2022 pelo empresário N’Gunu Tiny para reunir o Jornal Económico, a Forbes e o Novo – cuja edição em papel foi encerrada já em março de 2024 –, fechou o último ano com um prejuízo de 1,92 milhões de euros. Com rendimentos totais de 2,44 milhões de euros, a empresa apresentou um capital próprio negativo de 1,07 milhões de euros e regista um passivo total de 3,93 milhões.
A duplicar o prejuízo surge ainda o Público, que fechou 2023 com um resultado líquido negativo de 4,48 milhões de euros. O título da Sonacom obteve receitas de 16 milhões de euros, apresenta um capital próprio de 3,81 milhões e regista um passivo total de 7,75 milhões de euros.
Os piores resultados são, sem surpresa, até por todas as notícias ao longo dos últimos meses e cujo desfecho é conhecido, os da Global Media, que apresentou em 2023 resultados negativos de 7,28 milhões de euros, aos quais se juntaram os 3,25 milhões negativos da TSF.
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