Corte das taxas do BCE abre a porta a novos alívios nas prestações do crédito
Ao cortar as taxas diretoras, o BCE prolonga a tendência de queda das taxas Euribor e abre a porta a novas correções das prestações do crédito à habitação. Mas a queda das taxas de juro será gradual.
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou na quinta-feira uma nova redução das taxas de diretoras, o segundo corte este ano, num movimento que terá impacto direto nas finanças das famílias portuguesas, particularmente junto daquelas com crédito à habitação.
A taxa de juro de facilidade permanente de depósito, a mais relevante atualmente na condução da política monetária do BCE, baixou 25 pontos base, fixando-se agora nos 3,5%, enquanto as taxas de juro de refinanciamento e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez foram cortadas em 60 pontos, passando para 3,65% e 3,9%, respetivamente.
A autoridade monetária da Zona Euro justificou a decisão com a “avaliação atualizada realizada pelo Conselho do BCE quanto às perspetivas de inflação, à dinâmica da inflação subjacente e à força da transmissão da política monetária”. O BCE considerou que era “apropriado dar mais um passo no sentido de moderar o grau de restritividade da política monetária”.
Para as famílias com crédito à habitação estas são boas notícias. Como os empréstimos da casa têm maioritariamente como indexante as taxas Euribor que acompanham de perto as subidas e descidas das taxas diretoras do BCE, será natural assistirem a novas quedas da prestação do crédito nos próximos meses à medida que as suas taxas forem revistas.
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Essa realidade fica bem espelhada pelo comportamento das taxas Euribor particularmente desde junho, após o primeiro corte das taxas de juro pelo BCE em quase cinco anos. Desde então que as Euribor têm entrado numa correção constante, como resultado de o mercado estar a antecipar justamente o corte de 25 pontos base concretizado na reunião de 12 de setembro. Daí que, atualmente, as Euribor mais utilizadas no crédito à habitação (a 3, 6 e 12 meses) estão a negociar entre 3,5% (3 meses) e 2,96% (12 meses).
O efeito desse movimento foi justamente sentido já em setembro no orçamento das famílias que viram os seus contratos de crédito à habitação serem recentemente revistos, e com isso gerado uma queda da prestação da casa. De acordo com cálculos do ECO, um empréstimo nessas condições no montante de 150 mil euros a 30 anos, indexando à Euribor a 12 meses e com um spread de 1%, teve uma redução de 81 euros este mês face à prestação de agosto.
No entanto, é pouco provável que até ao final do ano se assista a uma queda das Euribor da mesma magnitude da que ocorreu nos últimos três meses, pelo menos de acordo com as expectativas dos analistas, que não perspetivam mais cortes no curto prazo, dado que o Conselho do BCE tem apenas previsto a realização de mais duas reuniões até ao final do ano: 17 de outubro e 12 de dezembro.
Segundo os dados mais recentes da LSEG divulgados esta quinta-feira, os analistas atribuem uma probabilidade de cerca de 70% de que o BCE opte por não mexer nas taxas na reunião do próximo mês, voltando assim a fazer uma nova pausa na política monetária. Apenas 30% das apostas apontam para um novo corte, sinalizando uma postura cautelosa por parte da autoridade monetária europeia.
É nesse sentido que Salman Ahmed, economista da Fidelity International, antecipa que “o próximo corte de 25 pontos base ocorra em dezembro, com o BCE provavelmente a manter-se em espera em outubro, o que é mais hawkish do que o mercado está a prever”, descreve o especialista numa nota enviada aos clientes da sociedade gestora.
Porém, é previsível que as taxas Euribor continuem a resvalar ao longo de 2025, como resultado da realização de novos cortes das taxas diretoras por parte do BCE, em função de um abrandamento da taxa de inflação, como é antecipado pela autoridade monetária da Zona Euro.
Isso ficou bem claro no discurso de Christine Lagarde, presidente do BCE, no decorrer da conferência de imprensa após o anúncio da recente decisão do Conselho do BCE, ao sublinhar que a direção das taxas diretoras é “bastante óbvia” e “decrescente”. É também isso que mostram os contratos forward sobre as Euribor a três meses e seis meses, que colocam ambas as taxas abaixo dos 3% até ao final do ano e perto dos 2% até ao final de 2025.
O recente corte das taxas de juro pelo BCE, mas sobretudo o discurso adotado por Largarde, marca um ponto de viragem significativo para a economia europeia e em particular para as famílias com crédito à habitação. Embora o alívio imediato seja bem-vindo, é crucial manter uma perspetiva cautelosa e realista.
A trajetória descendente das taxas Euribor oferece um vislumbre de esperança para muitos mutuários, prometendo uma redução nos encargos mensais com a habitação. No entanto, é importante sublinhar que este processo será provavelmente gradual e sujeito às flutuações económicas globais.
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