BRANDS' ECO “A sustentabilidade é um dos pilares do futuro empresarial”
Conferência da NERLEI CCI refletiu sobre os desafios da fileira da casa em matéria ambiental, mas também das oportunidades trazidas pela inovação. Evento contou com dezenas de profissionais.
Design ecológico e desenvolvimento de produto assente na inovação, estes são dois importantes fatores que as empresas devem ter em conta para fazer face às novas exigências em matéria de sustentabilidade. “Este desafio também pode trazer às empresas portuguesas uma oportunidade para alavancarem a sua atividade”, começou por dizer o presidente da NERLEI CCI – Associação Empresarial da Região de Leiria/Câmara de Comércio e Indústria. António Poças, que falava durante a abertura da conferência Sustentability In Product Development, sublinhando que “não há sustentabilidade sem rentabilidade”.
Este é um equilíbrio que os gestores têm de ser capazes de fazer, sob pena de perderem competitividade num mercado cada vez mais global e exigente. Para que o consigam fazer, as organizações precisam de “promover a troca de ideias e soluções”, colaborando entre si e apostando na “inovação ambiental”. “Entre muitas oportunidades, posso destacar a valorização da marca. Produtos sustentáveis podem atrair consumidores dispostos a pagar mais por essas práticas”, refere.
Pedro Filipe Silva, responsável de sustentabilidade da The Navigator, recordou o “grande investimento” da multinacional ao longo dos últimos anos para “reduzir as emissões” e diminuir a pegada da sua atividade. “Todas as nossas florestas, que representam cerca de 10% a 15% de toda a nossa matéria-prima, fazem sequestro de CO2”, apontou, lembrando que já foram capturadas 6,2 milhões de toneladas de CO2. O objetivo é reduzir as emissões totais em 85%, quando comparado com valores de 2018, até 2035. “Na investigação e desenvolvimento (I&D) temos um investimento grande de 40 milhões de euros e, sem ele, é impossível desenvolver o nosso negócio”, acrescentou.
A aposta na inovação fez com que a empresa passasse de uma atividade focada na produção de papel de escritório, a principal área de negócio em 2014, para a multiplicação de segmentos. “Em 2021, lançámos a Gkraft, uma marca nova que vai ser importante para a produção de sacos de papel, caixas de cartão e polpa moldada”, partilhou.
Já Pepa Casado D’Amato, fundadora e investigadora espanhola da Futurea, explicou que, quando falamos de sustentabilidade, “há várias áreas da empresa que precisam de estar envolvidas” para garantir o sucesso da estratégia. Especialista em design, D’Amato referiu que organizações que “usam o design como elemento-chave tiveram, entre 2017 e 2021, um turnover 19,6% maior do que aquelas que não o fizeram”, evidenciando a importância desta disciplina. “O design não é apenas uma ferramenta para nos tornar mais competitivos, mas também mais sustentáveis”, assegurou.
A durabilidade, assinalou, é uma das características mais valorizadas pelos consumidores e é, também, uma das mais importantes quando o tema é o desenho de um produto verde. Por outro lado, a facilidade em desmontar é igualmente crucial. “Há, por exemplo, uma empresa que permite a construção de uma cozinha personalizada, mas que depois pode ser desmontada e transportada para outra casa”, exemplificou.
“O ideal seria nunca deitarmos nada fora, mas isso é um grande desafio”, começou por dizer Sebastian Bergne. O designer industrial britânico acredita que é possível cobrar mais por um produto sustentável se não tiverem de ser substituídos com tanta frequência. “Desenvolvi um conjunto de utensílios de cozinha que têm um peso inferior a uma garrafa de plástico pequena. Se quisessem, podiam deitar estes utensílios fora juntamente com as garrafas de plástico”, apontou.
Sobre a legislação relacionada com os rótulos de produtos verdes, o especialista considera que vai ajudar “as pessoas que estão a desenvolver produtos”, por um lado, e “também aquelas que estão a comprar”, por outro. “Precisamos de legislação, porque caso contrário a mudança drástica não vai acontecer”, afirmou.
Stefan Nilsson, fundador sueco da Trendstefan.se, esteve na conferência para partilhar dezenas de exemplos de empresas que estão a trabalhar o tema da sustentabilidade a partir da inovação no design, desde sapatos criados a partir de cascas de maçã (feitos em Portugal) até cadeiras feitas a partir de redes de pesca. “Normalmente, quando falamos em algum produto que é sustentável pensamos imediatamente no material, embora essa não seja a única forma de ser sustentável”, alertou. Aliás, o perito diz mesmo que, muitas vezes, o material usado pode ser verde, mas que as técnicas usadas para o colar ou embalar não o são. Sobre as novas gerações e a forma como olham os temas ligados ao ambiente, Stefan Nilsson considera que há uma “incoerência” entre o que defendem e o que praticam. “Todos os dias chegam 88 aviões da China à Suécia com produtos da Shein. E nós, os suecos, somos os bons alunos”, ironizou.
Na mesa-redonda, moderada pelo diretor da CNN Portugal, Anselmo Crespo, os desafios impostos pela sustentabilidade foram o tema central da discussão com quatro oradores de referência. Participaram Pedro Filipe Silva (The Navigator Company), Pepa Casado D’Amato (de Espanha, Futurea), Sebastian Bergne (do Reino Unido, designer industrial) e Stefan Nilsson (da Suécia, Trendstefan.se). Além dos desafios, os especialistas abordaram as vantagens e as oportunidades trazidas por uma tendência crescente de sustentabilidade nas empresas.
Para os quatro, é consensual que a legislação sobre sustentabilidade na União Europeia é positiva e desejável. Concordam ainda que o design é uma ferramenta essencial para conseguir criar produtos mais amigos do ambiente. “Agora temos a questão da sustentabilidade, que é apenas mais um fator que temos de satisfazer quando desenvolvemos um produto”, rematou Sebastian Bergne.
No evento esteve ainda o presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, que reconheceu que a reflexão feita durante a conferência “é um sinal muito positivo para o futuro” e lembrou que este é um sector importante para a economia nacional. “O sector fileira da casa é bastante representativo no país. Temos aqui um ecossistema muito importante que importa apoiar e, sobretudo, despertar para estas problemáticas”, afirmou.
Sustentabilidade estrada fora
Paralelamente à conferência a NERLEI CCI realizou um Roadshow composto pelos oradores internacionais presentes – Pepa Casado D’Amato (Espanha), Sebastian Bergne (Grã-Bretanha) e Stefan Nilsson (Suécia) -, assim como por um conjunto de especialistas e jornalistas europeus, entre eles: Teresa Herrero (Espanha) [Ex-chefe de redação da revista Elle Decor España, fundou em 2019 a plataforma Teresa Herrero Living]; Sabrina Sciama (Itália) [Gestora de conteúdos de blogues empresariais, portais de arquitetura e design e colabora com várias revistas da especialidade como a Interni e a IFDM]; Pilar Marcos Arango (Espanha) [Diretora e Editora da Revista Diseño Interior], e Ilaria Fatone [reconhecida designer de interiores radicada em França].
O RoadShow começou no Norte do país rumo a Guimarães com a visita à Herdmar produtor de cutelaria com mais de 100 anos de história e um dos maiores produtores de cutelaria de mesa do mundo. A comitiva foi descendo rumo a Santa Maria da Feira (distrito de Aveiro) fazendo uma paragem na Dimas e Silva, Lda especializada na transformação da cortiça, onde foi possível ver todos os processos de aproveitamento dos resíduos em novas aplicações, como por exemplo, o pó da cortiça na indústria cosmética. Seguiu-se a Codil, já em Oliveira de Azeméis, que na visita à fábrica mostrou as várias áreas relacionadas com a produção e inovação em utilidades domésticas plásticas, a sua reciclagem e sustentabilidade. No dia seguinte, já na zona de Leiria, foram visitadas a Jomazé, em Alcobaça, especializada na produção de cerâmica decorativa de alta qualidade; e a Vasicol, de Porto de Mós, que partilhou a sua experiência sobre a produção de cerâmica utilitária, decorativa e de jardim, combinando o tradicional e o moderno no design e produção de produtos em barro vermelho.
O balanço do Roadshow foi bastante positivo com os opinion makers a mostrarem-se impressionados com as técnicas de produção, tratamento dos resíduos provenientes da transformação das matérias-primas e a importância da incorporação do pilar da sustentabilidade como foco dos empresários portugueses.
Esta Conferência Internacional com Roadshow de Opinion Makers é uma ação do projeto International Business 2023-25 que a NERLEI CCI está a desenvolver e que visa promover a competitividade e capacidade exportadora num conjunto de PME das fileiras casa, escritório e automóvel, através da participação coletiva em feiras internacionais e missões empresariais e da implementação e promoção de ações de marketing internacional, de transformação digital e do desenvolvimento do e-commerce nas PME. É financiado pelo Portugal 2030, no âmbito do PITD – Programa Inovação e Transição Digital, no montante de 7.373.726,41 euros, dos quais 3.997.426,0 euros são provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
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