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Suspender oito títulos, despedir 50 pessoas e pagar dívida em 15 anos. O plano de Luís Delgado para a dona da Visão

Carla Borges Ferreira,

A quatro dias do final do ano, Delgado entregou ao tribunal um plano de recuperação da Trust in News. Se os ordenados não forem pagos esta semana, administrador de insolvência recomenda liquidação.

Suspender ou colocar à venda oito títulos e ajustar a periodicidade de mais quatro, reduzir em cerca de 50 pessoas o quadro de funcionários e pagar 40% da dívida aos credores comuns em 15 anos, com bullet (amortização única) de 60% na 150.ª prestação. Estas são as principais medidas do plano de insolvência da Trust in News (TiN) entregue por Luís Delgado ao tribunal na noite de sexta-feira, e ao qual o +M teve acesso.

Para eliminar fontes de prejuízo, as publicações com margens negativas ou altos custos de produção serão suspensas ou colocadas à venda, lê-se no plano, que prevê a suspensão da TVMais, Telenovelas, Caras Decoração, Prima, Visão Saúde, Activa (disponível para venda ou trespasse), Visão Surf e This is Portugal e Courrier Internacional (suspenso desde o início de 2024).

A Visão História passa a trimestral, a Exame Informática e a Visão Junior a bimestral, e a Exame mantém-se como mensal, “em parceria com outro grupo editorial”, prevê o plano.

Para os recursos humanos, está prevista a “redução proporcional ao encerramento das publicações e redução conjunta com reorganização do quadro de trabalhadores de todas as publicações que se mantêm, com acompanhamento do Administrador de Insolvência (AI) para assegurar o acesso dos colaboradores ao subsídio de desemprego e ao Fundo Laboral”, o que levará à saída de cerca de 50 dos 136 trabalhadores. O espaço físico da empresa será reduzido em 70%.

Em simultâneo, e “para minimizar o impacto da reestruturação nos colaboradores”, o plano prevê “medidas de apoio” como o aumento do subsídio de refeição até ao limite máximo, a reposição do seguro de saúde e o pagamento em duodécimos do subsídio férias e Natal de 2025, com acordo do trabalhador.

Além da suspensão ou venda de títulos, de redução de quadros e da diminuição de instalações, o plano prevê a redução de custos operacionais, como o de licenças de software, a colaboração com outros grupos editoriais para produção e distribuição de publicações específicas, a descontinuação do departamento de arte das revistas femininas a criação de um núcleo geral de fotografia, com a redução do número de fotógrafos dedicados às publicações, centralizando a gestão, a descontinuação do departamento de produção, com a integração das funções na direção administrativa e financeira (DAF) — com a manutenção de dois coordenadores — ou a redução de 20% em papel e impressão.

A área de novos negócios e assinaturas serão incorporadas ao departamento comercial e a gestão de IT passará a ser feita em outsourcing, apenas com dois funcionários internos.

Com estas medidas, a Trust in News reforça o compromisso de se tornar uma empresa mais ágil, eficiente e alinhada às exigências do mercado atual, enquanto garante a continuidade das suas operações e prepara-se para um futuro sustentável”, defende o documento.

Quanto à dívida, o plano defende que os credores serão “beneficiados com a continuidade da atividade da empresa, obtendo maior satisfação quando comparado com um cenário de liquidação“, defende-se no documento de 52 páginas.

Assim, ao Estado, Segurança Social e Autoridade Tributária, o plano prevê o pagamento dos cerca de 17 milhões de euros em dívida em 150 prestações. A dívida de quase 2,5 milhões de euros aos trabalhadores, por seu turno, será saldada em 120 meses.

Para os chamados créditos comuns, situados nos 15,4 milhões de euros, Luís Delgado propõe um período de carência de dois anos, e pagamento de 40% da dívida em 15 anos, com bullet de 60% na 150.ª prestação. Caso haja interesse da parte dos credores comuns e garantidos, o pagamento de 50% da dívida poderá ser convertido em permutas de publicidade e branded content, propõe também o documento.

Na comparação do plano com uma eventual liquidação, o documento frisa que, “com o apoio que se pretende que seja contínuo, à atividade da ora devedora, recorrendo a crédito comercial e financeiro, só assim permitirá que se possam gerar os cash-flows suficientes para poder honrar os compromissos que se assumem no presente plano”. “De modo a viabilizar toda esta operação esta distinção teria que se efetuar, sendo imperioso, um incremento dos prazos de pagamento, de modo a reduzir o montante disponível para fazer face ao serviço da dívida mensal. Sem esta diferenciação, os devedores inevitavelmente serão arrastados para a insolvência, situação muito mais gravosa todos os intervenientes”, argumenta o documento.

“A comparação entre a satisfação dos interesses dos credores com este plano versus um cenário de liquidação é consideravelmente superior no primeiro caso. No pressuposto de um cenário de não aprovação do plano, a maioria dos credores não veria os seus créditos a serem satisfeitos“, frisa o documento entregue por Luís Delgado.

A apresentação de um plano de recuperação foi prometida por Luís Delgado, que perdeu a gestão efetiva da empresa no início de dezembro, na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no âmbito dos requerimentos dos grupos parlamentares do Livre e do PS sobre a situação em que se encontra o grupo que detém 17 marcas, entre as quais a Visão e a Exame. O plano, disse na altura, seria apresentado, nem que fosse “para memória futura”.

Não sei como vai acabar a empresa, até pode acontecer como já ouvi, que o administrador de insolvência, se não tiver dinheiro para pagar os ordenados irá imediatamente para liquidação”, referiu. Ou seja, “liquidada imediatamente a empresa e eu não posso fazer nada”, enfatizou Luís Delgado.

O início desta semana será então decisivo. André Correia Pais, nomeado no dia 4 de dezembro administrador de insolvência da empresa, confirmou ao +M a intenção de comunicar ao tribunal que em sua opinião a empresa deve entrar em liquidação se não conseguir pagar os ordenados deste mês. “Não teria ‘cara’ de manter a empresa em laboração se não pagar os ordenados. Em consciência, é o que posso fazer”, resumiu antes do Natal.

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