“Relacionamento económico entre Portugal e EUA tem sido mais ou menos imune às mudanças de administração”

  • ECO
  • 22 Janeiro 2025

A relação económica entre os Estados Unidos e Portugal foi o mote da conversa com os responsáveis da AmCham. Chegada de Trump ao poder traz ameaças mas também oportunidades.

As relações entre Portugal e os Estados Unidos têm vindo a consolidar-se ao longo dos anos, mantendo-se sólidas apesar das mudanças na Casa Branca. O regresso de Donald Trump ao poder não deverá alterar essa dinâmica.

Esta foi a principal ideia deixada na conversa com António Martins da Costa, Presidente da AmCham – Câmara de Comércio Americana em Portugal, Paulo Teixeira, CEO da Pfizer Portugal e presidente da Comissão Especializada de Saúde da Amcham, e João Bugalho, CEO do Arrow Global Group Portugal e presidente da Comissão Especializada de Imobiliário da AmCham.

Assista aqui à entrevista na íntegra:

“Se olharmos para o histórico do relacionamento económico entre Portugal e EUA, ele tem sido mais ou menos imune às mudanças de administração americana”, referiu António Martins da Costa, sublinhando que, mesmo em cenários de mudança política, como a transição entre as administrações Obama, Trump e Biden, o crescimento do investimento e comércio com Portugal manteve-se sólido.

O presidente da AmCham antecipa uma alteração de políticas, mas considera que os gestores devem ser “de alguma forma imunes” e adaptar-se. “Nós temos que ser agnósticos relativamente à política. O que não significa que sejamos agnósticos relativamente às políticas”, diz.

António Martins da Costa, Presidente da AmCham

"Se olharmos para o histórico do relacionamento económico entre Portugal e EUA, ele tem sido mais ou menos imune às mudanças de administração americana.”

António Martins da Costa, Presidente da AmCham

Donald Trump escolheu Robert F. Kennedy Junior, um ativista antivacinas e crítico da indústria farmacêutica, para liderar o Departamento de Saúde. Paulo Teixeira não antecipa, ainda assim, mudanças substanciais. “Nós não acreditamos, independentemente daquelas que são as suas posições pessoais e aquilo que foi de alguma forma também veiculado na comunicação social durante a campanha eleitoral, que as coisas mudem naquilo que diz respeito às políticas que são implementadas“, considera.

O CEO da Pfizer Portugal salientou ainda o papel central dos Estados Unidos como motor da economia global no setor farmacêutico, enfatizando a crescente distância entre a competitividade europeia e americana. “O setor da saúde e o setor farmacêutico são dos principais motores da economia americana. O peso destes setores no mercado global aumentou nos últimos anos, muito devido à perda de competitividade da Europa”, destacou.

Os componentes para medicamentos são a categoria de produto que Portugal mais exporta para os EUA. Apesar da perspetiva de aumento das taxas aduaneiras, Paulo Teixeira acredita que os medicamentos e matérias-primas farmacêuticas não serão significativamente afetados, dado o impacto negativo que isso poderia ter nas próprias empresas americanas: “Portugal continua a aumentar as exportações neste segmento e acreditamos que esta dinâmica se manterá nos próximos anos”.

Paulo Teixeira, CEO da Pfizer Portugal

"O setor da saúde e o setor farmacêutico são dos principais motores da economia americana. O peso destes setores no mercado global aumentou nos últimos anos, muito devido à perda de competitividade da Europa.”

Paulo Teixeira, CEO da Pfizer Portugal

Muitos economistas temem que a política económica do novo Presidente dos EUA acelere a inflação e interrompa o ciclo de descida dos juros. João Bugalho, não antecipa um impacto negativo no mercado imobiliário, em particular o português. Para o CEO do Arrow Global Group Portugal, “há uma sustentação dos preços“, que resulta de um volume de procura internacional onde se destaca o mercado americano, “neste momento talvez o maior”.

“O mercado imobiliário português está top of the mind do cliente americano, muito por causa das características únicas do país, como o clima e a qualidade de vida”, afirmou João Bugalho. Apesar das limitações de escala do mercado português, sublinhou que os americanos valorizam serviços de qualidade e estão dispostos a pagar por eles, o que representa uma oportunidade transformadora para o setor imobiliário em Portugal. “Há um claro interesse por parte dos operadores locais para conseguir endereçar esse mercado e há muitos esforços a serem feitos nesse sentido”, sublinhou.

João Bugalho, CEO da Arrow Global Group Portugal

"Se alguma coisa mudar até pode ser positiva, estritamente do ponto de vista de mais americanos a virem visitar, mais americanos a comprarem a seguir à visita e mais americanos a olharem para Portugal como um país onde podem viver na reforma e ter uma qualidade de vida muito interessante.”

João Bugalho

CEO do Arrow Global Group Portugal

Como deve Portugal posicionar-se face ao novo contexto da política americana e um eventual aumento das taxas aduaneiras? António Martins da Costa destaca que para os EUA é uma mais-valia ter Portugal como parceiro transatlântico: “Portugal tem uma zona económica marítima exclusiva enorme, é um dos maiores países do mundo nesse aspeto, e os Açores representam uma ligação estratégica crucial entre os continentes americano e europeu”. O presidente da Amcham Portugal referiu também a relevância de infraestruturas como o porto de Sines, que está posicionado como uma porta de entrada na Europa para mercadorias provenientes do Pacífico, reforçando a posição de Portugal no comércio global.

António Martins da Costa destacou ainda o papel da diáspora portuguesa nos EUA. “A comunidade portuguesa é uma comunidade de grande capacidade de trabalho, de criação de riqueza. E neste momento temos uma segunda onda, que é a onda já de gestores, de académicos, de investigadores, que neste momento estão a reforçar os laços entre Portugal e os Estados Unidos”.

"A comunidade portuguesa é uma comunidade de grande capacidade de trabalho, de criação de riqueza. E neste momento temos uma segunda onda, que é a onda já de gestores, de académicos, de investigadores, que neste momento estão a reforçar os laços entre Portugal e os Estados Unidos.”

António Martins da Costa

Presidente da Amcham Portugal

Paulo Teixeira defendeu que Portugal deve fazer mais para reforçar o setor empresarial da saúde, apostando na inovação. “Falamos há anos sobre o potencial de Portugal para criar um verdadeiro ecossistema de saúde, que não só fomente a criação de empresas portuguesas, mas também atraia investimento estrangeiro”, apontou o CEO da Pfizer Portugal, lamentando a perda de tecido industrial ao longo dos anos e reiterando a importância de estratégias que recuperem e ampliem este setor.

O gestor considera que Portugal tem de reduzir os custos de contexto que o tornam menos competitivo. “Sentimos que é difícil nós conseguirmos atrair investimento e colocar Portugal no mapa, para que uma empresa americana possa olhar para Portugal”, desabafou. Paulo Teixeira apontou ainda que “Portugal demora muito tempo a conseguir aprovar a inovação terapêutica“, o que também penaliza a atração de investimento.

 

João Bugalho lamenta também os custos de contexto na habitação, mas está otimista para o mercado imobiliário. “É difícil explicar a um cliente americano porque é que uma casa demora quatro anos a fazer, mas mesmo assim há um interesse que continua a existir e uma procura sobre o produto português”.

Apesar dos desafios, todos os oradores concordaram que as relações entre Portugal e os Estados Unidos continuam robustas e prometem novas oportunidades de crescimento. Seja na saúde, no imobiliário, na tecnologia ou no comércio transatlântico, Portugal demonstra potencial para consolidar a sua posição como parceiro estratégico de um dos maiores players económicos mundiais.

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