“Retoma” é palavra de ordem nas fusões e aquisições em 2025

Especialistas dos bancos Morgan Stanley e Goldman Sachs, da consultora BCG e bases de dados de M&A internacionais fazem as suas previsões: mais negócios EUA-Europa, inclusive na banca e digital.

Será 2025 o ano em que se volta a respirar de alívio no mercado global das fusões e aquisições (M&A)? As consultoras e os bancos de investimento internacionais acreditam que sim e anteveem que a palavra de ordem para os próximos 12 meses é retoma.

“Depois de um 2024 turbulento, definido por eleições cruciais nas principais economias e por mudanças nas políticas dos bancos centrais, o panorama de M&A parece preparado para uma retoma há muito esperada. A descida da inflação, as taxas de juro mais baixas e a recuperação das avaliações durante grande parte do ano passado fizeram subir as expectativas”, estima a Boston Consulting Group (BCG).

O Morgan Stanley acredita que este ano terá uma “recuperação mais robusta” do mercado devido a um ambiente regulamentar mais favorável à atividade de fusões e aquisições e à previsão de que os mercados de capitais estarão mais fortes. Caso se verifique, estimular-se-á a realização de negócios, inclusive com o aumento da atividade das sociedades de private equity, especialmente do lado da venda, e transações de take-private – ou seja, quando uma cotada é adquirida e é retirada de bolsa após essa privatização.

Apesar de os especialistas do banco de investimento alertarem que as políticas da nova administração dos Estados Unidos podem impedir o crescimento do M&A no curto prazo, consideram que os aspetos positivos vão ser maiores do que os negativos.

As empresas dos EUA podem tentar adquirir europeias para expandir estrategicamente a sua presença no Velho Continente e tirar partido das suas avaliações (significativamente mais baixas), conjetura o diretor de fusões e aquisições da Morgan Stanley para a região da Europa, África e Médio Oriente (EMEA). “Há uma arbitragem financeira que as empresas norte-americanas podem considerar atrativa. Podem comprar na Europa e ser táticos quanto às capacidades que desejam adquirir”, explica Jan Weber.

Morgan Stanley prevê que os investidores dos EUA decidam comprar mais empresas europeias para expandir estrategicamente a presença no Velho Continente e tirar partido das avaliações desses negócios, significativamente mais baixos do que os norte-americanos

Os compradores estão preparados para tirar partido da melhoria das condições de financiamento e para aumentar “potencialmente” o apetite pelo risco para maiores negócios, que têm sido “relativamente raros” nos últimos dois anos, segundo o relatório conjunto das empresas Datasite e Mergermarket, que têm das maiores bases de dados de M&A do mundo.

Os analistas da Datasite e Mergermarket consideram que as empresas estão prontas para se tornarem mais ambiciosas, depois de um ano marcado com muita cautela. E comparam o número de negócios recentes com os do recordista 2022 para mostrar que o cenário não foi tão negro quanto se constatou em 2024.

“Apesar de toda a conversa sobre fusões e aquisições moderadas, os mercados na EMEA estão a aguentar-se relativamente bem. O volume de negócios atingiu o pico no primeiro trimestre de 2022 com 4.477 anúncios de transações, mas até ao segundo trimestre de 2024 estava apenas 10% abaixo disso. É certo que a atividade tem sido escassa em termos de negócios de grande escala, uma vez que os compradores reduziram as suas ambições, embora isso possa mudar em breve”, detalham. Um dos motivos pelos quais se estão “a aguentar bem” são os fundos de private equity, cujos cofres estão recheados devido à redução das taxas de juro.

Para a Datasite e Mergermarket, o sector bancário europeu é uma boa oportunidade para os investidores, porque persiste “um longo caminho a percorrer” pelos credores na resolução de ineficiências estruturais, o que poderá motivar movimentos de consolidação, em linha com o que está a suceder em Portugal com o Novo Banco. Ainda na sexta-feira o banco italiano Monte dei Paschi di Siena lançou uma oferta de 13,3 mil milhões de euros ao Mediobanca, que pode remodelar o setor bancário de Itália.

Tecnologia volta a dominar

A Europa também pode aproveitar estas operações na banca para colmatar a lacuna digital e investir em tecnologias de vanguarda, como Inteligência Artificial (IA), na visão destes peritos. De facto, o entusiasmo pela IA está (e continuará) a alimentar quer o investimento de capital de risco quer de private equity, conforme descrevem os vários relatórios consultados pelo ECO.

Esse ímpeto nota-se inclusive na Europa, uma região que tem estado mais na retaguarda destes investimentos na tecnologia do momento, em comparação com os EUA. Aliás, a atividade europeia de private equity exclusivamente relacionada com IA aumentou, num ano, de 5 mil milhões e 107 transações para 10 mil milhões em 116 transações, de acordo com as previsões da Pitchbook, outra das bases de dados de referência em M&A. “Os negócios recuperaram nos EUA e na Europa a bom ritmo”, garantiu o analista da Pitchbook Nalin Patel, numa apresentação para a imprensa internacional, onde o ECO participou.

No entanto, é importante lembrar que os níveis se mantêm significativamente abaixo dos máximos de 2021, mesmo que o entusiasmo pelas startups focadas na IA se mantenha. A esperança parece estar no capital privado, dado que a atividade de private equity foi das mais animadas no M&A em 2024, com os valores dos negócios a aumentarem 11% em comparação com 2023, até porque os chamados “financial sponsors” continuam sob pressão para investir as suas elevadas reservas de dry powder (ou seja, liquidez que ainda não foi utilizam), auguram a Datasite e Mergermarket.

"A procura de infraestruturas de IA continua a crescer, estimulando um fluxo de capital de investimento e negócios para dar resposta”

Jung Min

Co-COO global de TMT na Goldman Sachs

“A procura de infraestruturas [de IA] continua a crescer, estimulando um fluxo de capital de investimento e negócios para dar resposta”, afirmou Jung Min, um dos responsáveis globais pela área de Tecnologia, Media e Telecom do Goldman Sachs, no outlook 2025 do banco de investimento.

A BCG detalha que as fusões e aquisições na Europa movimentaram 483 mil milhões de dólares (463 mil milhões de euros) em 2024, mais 16% do que no ano anterior. O montante destes negócios aumentou sobretudo no Reino Unido (+120%) e em França (+45%), embora tenha caído significativamente (-41%) na maior economia europeia, a alemã, que está em crise, em Itália (-31%) e nos Países Baixos (-24%). Uma ordem de grandeza incomparável com os EUA, onde os compradores pagaram um total de 1,2 biliões de dólares (1,2 bilhões de euros) – mais de metade (52%) da atividade global – para ‘caçar’ empresas americanas.

E elencaram as maiores propostas de aquisição anunciadas em 2024 – todas superiores a 30 mil milhões:

  • Oferta de 38,7 mil milhões de dólares (37,1 mil milhões de euros) da canadiana Alimentation Couche-Tard pela retalhista japonesa Seven & I Holdings, dona da cadeia de supermercados 7 Eleven
  • Oferta – entretanto retirada – do grupo australiano BHP pela britânica Anglo American, de 36,4 mil milhões de dólares (34,9 mil milhões de euros)
  • Fusão da Capital One Financial Corporation, especializada em cartões de crédito e contas poupança, com o fornecedor de serviços de crédito ao consumo Discover Financial Services, avaliada em 35,3 mil milhões de dólares (33,9 mil milhões de euros).

“O comportamento dos investidores no segundo semestre de 2024 exibiu um crescente apetite pelo risco na realização de negócios, uma vez que mais de metade dos compradores registou um desempenho superior ao do mercado após o anúncio das transações. Esperamos que esta procura cresça à medida que o custo do capital diminui e os mercados absorvem potenciais alterações políticas em 2025”, aponta o Goldman Sachs.

Todavia, há um indicador da consultora que ainda preocupa, pois não está a refletir um verdadeiro otimismo: o Índice de Sentimento de M&A da BCG, que está nos 77 pontos, caiu dos 88 pontos em outubro de 2024 e mantém-se abaixo da média da última década (100 pontos) mesmo tendo recuperado do mínimo (66) em dezembro de 2022. É a confirmação de que de os sinais positivos estão aí, mas o sentimento dos intervenientes ainda é de expectativa.

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