“Barco” da transição já partiu. Mas Europa ainda vai a tempo
"É altura de pensarmos como vamos buscar novas 'Autoeuropas'", apela o CEO da Savannah Resources, Emanuel Proença.
Do relatório Draghi à Bússola para a Competitividade, vários são os planos europeus que apontam para a transição energética e verde como uma oportunidade para a Europa. Mas, no meio de tantos planos, será que o Velho Continente ainda vai a tempo? Hugo Costa, country manager da EDP Portugal, Emanuel Proença, CEO da Savannah Resources e Jorge Mendonça e Costa, Diretor Executivo da Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elétrica, acreditam que sim.
“O barco já partiu, mas vamos a tempo de o apanhar“, afirma o country manager da EDP Portugal. Isto porque “os fundamentos estão cá”, apesar de a Europa parecer ter “adormecido” no período anterior à crise energética. Agora, resta “recuperar”, algo que “não pode ser feito criando barreiras às importações. Senão, não conseguimos alimentar a máquina”, defende. Em causa o facto de a ambiciosa transição energética europeia poder ser feita apenas com os próprios meios europeus, num momento em que a produção de componentes da indústria de energia verde e também inovação terem-se afirmado noutras paragens, nomeadamente na China.
Hugo Costa falava num debate, no âmbito da segunda conferência dedicada às conclusões do Relatório Draghi, organizada pelo ECO em parceria com a PwC. No mesmo painel, Jorge Mendonça e Costa reforça que “é impossível reinventar a roda” e por isso defende que produtos que são competitivos nos mercados internacionais têm de continuar a ser adquiridos pela Europa junto de outros mercados.
Por sua vez, Emanuel Proença atesta: “O barco já partiu, é evidente. Temos de acelerar o passo. Mas vamos a tempo“. Esta convicção justifica-se porque nota alguns desenvolvimentos recentes na Europa, como a abertura, em setembro passado, da primeira refinaria de grande dimensão de lítio na Alemanha, a construção que está projetada para uma refinaria de lítio na Finlândia e o anúncio recente de que se irá instalar no sul de Espanha uma fábrica de “grande dimensão” de baterias no sul de Espanha.
O gestor da Savannah, empresa detentora do projeto de exploração de lítio em Boticas, realça que o único ponto do relatório Draghi que referia Portugal em particular dizia respeito ao lítio, e à necessidade de a Europa desenvolver as suas matérias-primas críticas. “O lítio não é um projeto da Savannah, é uma oportunidade para Portugal”.
“A oportunidade que temos nesta fileira [do lítio] é não só de reter a fileira automóvel que já temos, mas é além disso potenciar, atrair ainda mais. É altura de pensarmos como vamos buscar novas ‘Autoeuropas‘”, apela.
Da parte da associação de grandes consumidores de energia, Jorge Mendonça sublinha que estas empresas que representa são “parceiros fundamentais” para o desenvolvimento das energias renováveis. “Há que equilibrar” entre consumo e produção, nomeadamente com recurso ao armazenamento, indica. Ao mesmo tempo, afirma que “a energia elétrica para os eletrointensivos [em Portugal] não está barata relativamente à concorrência”. “Tem que haver trabalho de equipa a nível nacional e europeu“, eliminando alguns atrasos a nível legislativo que têm vindo a ser reivindicados por esta associação. “Qualquer dia fechamos. Não é bom para ninguém“, vaticina.
Hugo Costa reconhece que, apesar de descrever Portugal e Espanha como “um cisne” na realidade do setor energético europeu, tendo sobretudo em conta o elevado grau de penetração de renováveis, Portugal tem tido uma “inércia enorme”no que diz respeito aos pontos de injeção de eletricidade na rede face ao consumo. “Temos muito esta visão de onde queremos estar mas na prática os resultados são débeis, não conseguimos o nível de concretização que desejaríamos“, rematou.
A deficiência de interligações de qualidade com o resto da Europa foi outro dos pontos focados, tendo ficado claro que é necessário um forte investimento europeu em infraestrutura.
Apesar dos desafios, há muito caminho feito. Falta sobretudo que, como diz o próprio relatório Draghi, os benefícios das renováveis se façam sentir de forma mais intensa no bolso dos consumidores, sem prejudicar a capacidade de investimento dos produtores de energia.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
“Barco” da transição já partiu. Mas Europa ainda vai a tempo
{{ noCommentsLabel }}