Centeno alerta para riscos de fusão do Novobanco com bancos nacionais
O governador do Banco de Portugal considera o IPO do Novobanco benéfico para o setor, embora defenda prudência em processos de fusão e se mostre reticente face a uma eventual compra pela Caixa.
O governador do Banco de Portugal considera que a potencial abertura do capital do Novobanco, através de uma oferta pública inicial (IPO) em bolsa, seria “um bom resultado para o funcionamento e a competitividade do setor bancário”.
Em entrevista à Reuters, Mário Centeno sublinhou que a operação, além de reforçar a solidez da instituição, poderá atrair novos investidores estratégicos, contribuindo para um ecossistema financeiro mais dinâmico. No entanto, Centeno mostrou-se pragmático numa eventual consolidação do setor. “A consolidação é um tema que o mercado, mais uma vez, tem de ditar”.
Apesar de reconhecer a tendência global de fusões e aquisições (M&A) na banca, alertou os bancos portugueses para a necessidade de “cautela e cuidado” em processos de M&A, evitando comprometer os “bons resultados” dos últimos anos em indicadores-chave como capitalização, liquidez e custo-eficácia.
“Temos de perceber o que cada parte pode alcançar e qual é o objetivo, porque a estabilidade do setor exige que as unidades que nele operam também sejam estáveis”, afirmou.
Em junho, Paulo Macedo, presidente da Caixa, afirmou que estava a considerar “todas as hipóteses” de compra de outro banco para preservar a sua liderança no mercado face à expansão de bancos estrangeiros.
A cautela de Centeno sobre uma eventual consolidação do setor esbate na visão do Governo, que há dias, pela voz do ministro das Finanças, admitiu que a Caixa Geral de Depósitos pode estudar e avançar para a aquisição do Novobanco. “Se a Caixa entender fazer essa avaliação face a situações que possam vir a ocorrer no futuro, o Governo depois tomará decisões com base nessa avaliação”, afirmou Joaquim Miranda Sarmento, notando, contudo, que o Governo não se envolve na gestão do banco público.
Sobre a possibilidade de o banco público adquirir o Novobanco, Centeno referiu que “a Caixa é um banco muito importante, mas isso traz também responsabilidade. É uma decisão de negócio com consequências sistémicas que têm de ser analisadas”.
Centeno defende cortes graduais nas taxas de juro do BCE
O governador do Banco de Portugal também alertou para a necessidade de uma resposta unificada da União Europeia perante a possibilidade de imposição de tarifas pelos EUA. “A Europa tem de estar unida face a potenciais tarifas”, referiu Mário Centeno em entrevista à Reuters, sublinhando ainda que antecipa “negociações pela frente”, mostrando com isso a importância de uma posição coordenada entre os Estados-membros para enfrentar medidas protecionistas por parte da administração de Donald Trump.
Centeno também abordou a trajetória da política monetária por parte do Banco Central Europeu (BCE), defendendo cortes graduais nas taxas de juro e admitindo a possibilidade de descer abaixo da taxa neutra para consolidar a inflação nos 2%, deixando claro que o ciclo de descida dos juros deverá manter-se.
“É bastante claro que precisamos de manter a trajetória descendente das taxas de juro”, referiu Centeno, mostrando-se confortável com a continuidade de futuras reduções graduais de 25 pontos base das taxas de juro, antecipando inclusive que a taxa de juro da facilidade permanente de depósito do BCE, atualmente em 2,75%, deve atingir 2% “o mais cedo possível” este ano.
Contudo, o governador do Banco de Portugal alertou para riscos de undershooting da meta inflacionária caso o investimento não recupere. “Se o investimento não aumentar, corre-se o risco de não se atingir uma inflação de 2%”, advoga, salientando ainda que para sustentar o objetivo seja necessário tomar medidas extraordinárias.
“Podemos precisar de ir abaixo da taxa neutra para sustentar a inflação em 2%”, numa referência a taxas diretoras inferiores ao nível estimado de equilíbrio (entre 1,5% e 2%). As declarações de Centeno reforçam o consenso nos mercados sobre o início do alívio monetário em junho, com o governador do Banco de Portugal a destacar a importância de uma transição suave que evite choques nos mercados financeiros.
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