Media

“As pessoas vão ter que pagar para ter informação de qualidade”, defende Carlos Magno

Fátima Castro,

Na conferência “O Futuro da Comunicação Social” ficou claro o "papel crucial" dos media. No entanto, é preciso distinguir o escrutino do julgamento em praça pública e evitar "populismos".

Ana Pinho (economista), Carla Borges Ferreira (diretora executiva +M) e Carlos Magno (jornalista)

Ricardo Castelo / ECO

Numa altura que se torna cada vez mais difícil desmistificar se estamos perante informação verídica ou fakenews, o “jornalista exilado” Carlos Magno não tem dúvidas de que “vai chegar o dia que os consumidores vão cansar-se e optar por pagar para ter informação de qualidade”.

“Como dizia Umberto Eco, quando as pessoas não acreditam em nada, acreditam em tudo“, relembrou o ex presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), na conferência “O Futuro da Comunicação Social”, organizada pelo ECO, que decorreu na Câmara Municipal do Porto, na última sexta-feira.

A economista Ana Pinho corrobora a ideia de Carlos Magno e afirma que mais que nunca é preciso ter “informação confiável e fidedigna”, tendo em conta que a desinformação circula a uma velocidade estonteante e está cada vez mais presente nas redes sociais.

E qual o papel dos media na sociedade portuguesa? Ana Pinho destaca que os media têm um papel crucial no nosso papel individual e na sociedade como um todo”, destacando ainda que “foram durante muitos anos a principal fonte de informação”.

“Os media são fundamentais para nos darem informações sobre a nossa cidade, o nosso país, sobre o mundo, sobre política, economia, temas sociais, cultura — que é muitas vezes esquecida –, mas de facto é essencial para podermos viver melhor o presente e prepararmos o nosso futuro”, enumera.

Escrutino ou julgamento em praça pública?

“Permitem-nos ter informação oportuna e confiável”, prossegue Ana Pinho, mas há um “mas”. A economista e ex presidente da Fundação de Serralves alerta que muitas vezes o “consumidor fica a duvidar se o que está a ser noticiado é verídico ou se está relacionado com a necessidade de audiências, de números”, dando como exemplo os casos da empresa de Montenegro, que levou mesmo à queda do Governo, ou do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que foi a tribunal pelo caso Selminho e acabou por ser absolvido pelo crime de prevaricação.

“O jornalismo de investigação, em particular, pode trazer à luz casos de corrupção, de injustiça de abusos de poder. É fundamental para a transparência e o funcionamento da democracia, mas aqui surge também um grande problema: perceber se o que se está a fazer é promover a verdade ou, se está a fazer julgamentos na praça pública, de coisas que não são exatamente verdade“, afirma Ana Pinho.

O jornalismo de investigação pode trazer à luz casos de corrupção, de injustiça de abusos de poder. É fundamental para a transparência e o funcionamento da democracia, mas aqui surge também um grande problema: perceber se o que se está a fazer é promover a verdade ou, se está a fazer julgamentos na praça pública, de coisas que não são exatamente verdade.

Ana Pinho

Economista

Ana Pinho considera que a “comunicação social deve investigar e se houver casos de corrupção e de ilegalidades, deverão ser denunciados”, apelando que “também tem que se proteger o bom nome das pessoas”.

A economista vai mais longe e diz que “estamos todos muito preocupados com o populismo, que é um problema enorme para o nosso futuro, e acusamos os partidos políticos de populismo, mas não podemos ter o jornalismo também a ir pela mesma via, porque então aí estamos todos perdidos”.

Ainda sobre este tema, Carlos Magno não tem dúvidas que o “populismo já tomou conta de boa parte do espaço editorial”.Se temos partidos populistas à direita e à esquerda, temos o jornalismo populistas há muitos anos a fazer sucesso“, afirma.

“O jornalismo introduziu na sociedade contemporânea duas doenças mentais. Uma delas chama-se o síndrome do mundo mau. As pessoas não querem ouvir notícias, recusam muitas vezes a realidade, porque a perspetiva que os jornalistas dão do mundo é uma perspetiva ainda mais negra do que aquilo que de facto está a acontecer“, aponta o comentador da CNN Portugal. Por outro lado, prossegue, “o jornalismo transformou-se a si próprio numa psicopatia do quotidiano. Eu meço bem as palavras e a psicopatia do quotidiano é uma doença que o Freud tipifica dizendo que é alguém que perdeu o superego, perdeu as referências e, portanto, diz tudo, publica tudo, fica sem freio e diz aquilo que vem à cabeça sem confirmar”,

Em relação às eleições antecipadas marcadas para 18 de maio, Ana Pinho espera “que os media façam o seu papel e esclarecem as pessoas sobre os programas dos partidos para que cada português decida em que votar de acordo com aquilo que cada um dos partidos se propõe a fazer por cada um de nós, porque isso sim vai condicionar o nosso futuro”.

O “populismo já tomou conta de boa parte do espaço editorial”. “Se temos partidos populistas à direita e à esquerda, temos o jornalismo populistas há muitos anos a fazer sucesso”

Carlos Magno

Jornalista

Apesar das críticas, Carlos Magno quis terminar com uma perspetiva otimista. “Eu acho que quanto pior for o jornalismo contemporâneo, melhor será o jornalismo no futuro”, diz. “O problema não é dos jornalistas, nem dos editores, o problema é dos consumidores”, acredita, defendo e inevitabilidade do pagamento por informação de qualidade.

Resumindo, não restam dúvidas que “se perdermos o jornalismo, perdemos a democracia”, afirmava Pedro Duarte, ministro com a pasta da comunicação social, no encerramento da conferência. “O jornalismo tem um papel fundamental na nossa vida, no funcionamento da democracia, e quero acreditar que se deve tentar informar com rigor e de forma objetiva”, conclui Ana Pinho.

 

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