“Pior que o esperado”. Tarifas de Trump alarmam investidores e apontam para o vermelho

O início do discurso de Trump e o anúncio de uma tarifa base de 10% até animou os futuros dos índices, mas a revelação de recíprocas mais elevadas acabou por esfriou o entusiasmo.

Depois de manter o mundo em suspense durante vários dias, Donald Trump anunciou as medidas comerciais esta quarta-feira — dia que apelidou de “libertação” para a economia dos Estados Unidos — e abalou um sistema global comercial que durava desde 1947.

O discurso tipicamente serpenteante entre estados de alma sobre “amigos que em muitos casos são piores que inimigos em termos de comércio” e novidades concretas sobre as tarifas, metendo até algumas piadas pelo meio, obrigou os investidores a mudarem de posição à medida que iam percebendo as decisões do republicano.

“Quando a conferência de imprensa começou, o presidente disse que as tarifas começariam com uma base de 10% em todos os setores”, afirmou Chris Zaccarelli, direto de investimentos na Northlight Asset Management. “Isso foi melhor do que o esperado, e foi por isso que vimos os futuros subirem, mas assim que chegou aos pormenores e começou a dar exemplos que eram significativamente superiores a 10%, foi quando os futuros deram a volta e ficaram negativos, porque era pior do que o esperado.”

Os futuros do índice S&P 500 inverteram os ganhos e caíram 1,7%, sugerindo que os investidores esperam perdas profundas quando Wall Street abrir na quinta-feira. Os futuros do Nasdaq, refletindo empresas de tecnologia como Apple, Nvidia e Microsoft, caíram 2,4% também a reverterem ganhos.

“Pior pesadelo da Europa”

Além da tarifa base, Trump anunciou a entrada em vigor de tarifas recíprocas, com os EUA a cobrarem aos parceiros metade da taxa que estes cobram. No caso da União Europeia, as exportações para os EUA vão passar a pagar uma tarifa de 20%. “A Europa será sujeita a tarifas recíprocas muito elevadas, na ordem dos 20%, o que corresponde ao nível mais elevado do que os participantes no mercado receavam“, alertou Frederique Carrier, diretora de estratégia de investmento no RBC Wealth Management, à Reuters.

“O cálculo das tarifas inclui o imposto sobre as vendas (IVA), um imposto que é aplicado tanto aos produtos nacionais como aos estrangeiros e que não discrimina os produtos americanos”, explicou. “Sendo o IVA uma importante fonte de receitas dos governos, os Estados-Membros europeus podem oferecer pouca flexibilidade. A tomada de lucros no mercado de acções europeu pode muito bem continuar amanhã”.

Para os analistas do banco de investimento neerlandês ING “o pior pesadelo económico da Europa acaba de se tornar realidade”. Numa nota de análise a que o ECO teve acesso, sublinharam que uma tarifa recíproca de 20% “é dolorosa” e “piorou as perspetivas a curto prazo da zona euro”. Agora, muito depende dos governos europeus para levarem por diante os estímulos orçamentais e as reformas planeadas para fortalecer as economias nacionais, vincaram.

No mercado cambial, o euro cedeu ganhos para negociar com uma ligeira apreciação de 0.3% nos 1,083 dólares. Face ao iéne japonês, o dólar recuava 0,2% nos 149,38 iénes.

Para Peter Cardillo, economista-chefe na Spartan Capital Securities, “as tarifas são um pouco pesadas”. “Teremos de esperar para ver se esta guerra comercial termina como a administração gostaria que terminasse… Depende agora dos nossos parceiros comerciais. Eles vão sentar-se à mesa e negociar ou vão retaliar?”, questionou, também citado pela Reuters.

“As consequências da inflação far-se-ão sentir e isso representa um dilema para a Reserva Federal, apesar de Powell ([presidente da Fed] ter afirmado que a inflação resultante das tarifas seria transitória… Os efeitos da inflação poderão agravar-se e poderemos estar a caminhar para uma recessão”, sublinhou.

Ouro rumo aos 3.200 dólares?

Numa altura de elevada volatilidade, a cotação do ouro, ativo de refúgio, manteve-se firme e perto de níveis recorde a subir 0,6% para 3.129 dólares por onça. “As perspetivas do ouro são excelentes, com 3.200 dólares como novo objetivo a curto prazo“, disse, Tai Wong, um trader de metais. “Há muitas perguntas sem resposta e a sensação de que muitas coisas podem ser negociáveis tornará os mercados muito voláteis a curto prazo”, acrescentou.

As yields da dívida soberana dos EUA, as Treasuries, caíram na quarta-feira, apagando os ganhos anteriores, depois de Trump ter revelado as medidas comerciais. Nas obrigações benchmark, a 10 anos, a taxa no mercado secundário caía 2,9 pontos base para 4,127%, depois ter chegado a subir para os 4,236%.

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