Inteligência artificial já poupa milhões e redefine operações nas empresas portuguesas

  • ECO
  • 8 Abril 2025

Num evento organizado pela CGI em Lisboa, executivos e especialistas na tecnologia debateram as vantagens para as empresas, mas também os desafios.

A inteligência artificial (IA) já deixou de ser um conceito futurista para se tornar parte da realidade empresarial em Portugal. Essa é a principal conclusão de um debate que reuniu Catarina Ceitil, Chief Information Data and Transformation Officer (CIO) da Galp; Ricardo Leitão Gonçalves, diretor do Center for Artificial Intelligence and Analytics da Fidelidade; e Pedro Machado, VP de Consulting Services da CGI. A conversa decorreu no âmbito do encontro “From AI to ROI: Insights do mundo real para atingir resultados”, organizado em Lisboa pela tecnológica canadiana.

Catarina Ceitil revelou que a Galp tem uma abordagem cautelosa, mas decidida, na adoção da IA. “Estamos a olhar para os temas dos agentes de IA e LLM [Large Language Models]. Pensamos na IA como forma de apoiar decisões. As organizações vão ficar para trás se não a usarem”, afirmou. A petrolífera já utiliza a tecnologia em áreas como manutenção preditiva e call center, além de estar a investir em soluções próprias e na formação das equipas, para que possam aproveitar o potencial da IA.

A manutenção preditiva, em particular, tem tido impacto direto nos resultados. “Um dia de uma refinaria parada custa milhões. Os nossos modelos já nos permitem evitar paragens com eficiência. E em trading de eletricidade, a IA também tem um retorno significativo”, disse Ceitil, acrescentando que as poupanças atuais já se medem em milhões de euros.

Pedro Machado, VP de Consulting Services da CGI, Ricardo Leitão Gonçalves, diretor do Center for Artificial Intelligence and Analytics da Fidelidade e Catarina Ceitil, Chief Information Data and Transformation Officer (CIO) da Galp

Na Fidelidade, o percurso com IA começou em 2017, com um foco estratégico. “Achámos que a área seguradora tem grande vantagem em usar IA. Toda a nossa comunicação com clientes é hoje produzida por modelos de linguagem”, explicou Ricardo Leitão Gonçalves. Um dos principais projetos é o GAMA, uma solução construída de raiz que automatiza a leitura e resposta a emails e trata 65% das declarações amigáveis sem intervenção humana. “Passámos de resolver sinistros em 24 horas para cerca de cinco minutos”, evidenciou.

O diretor da Fidelidade destacou ainda que o investimento em soluções próprias decorre da perceção de que as opções disponíveis no mercado, especialmente em português, ainda são limitadas. “Recebemos várias propostas de compra do GAMA. Não há muitas soluções eficazes para o nosso idioma”, afirmou, sugerindo a criação de consórcios para dividir investimentos e acelerar o desenvolvimento local.

Pedro Machado salientou a importância de agentes digitais para melhorar a experiência dos clientes e a eficiência operacional. “Temos um agente para digitalizar operações, capaz de cortar camadas que podem ser automatizadas. A regra nem tem de estar escrita porque o agente já sabe onde queremos chegar”, explicou.

O tema da regulação europeia também foi debatido, com Catarina Ceitil a olhar para o AI Act, da Comissão Europeia, como uma oportunidade de ganhar controlo. “Não interpreto como barreira. Ajudou-me a centralizar e ter conhecimento de tudo o que se estava a fazer em IA. Veio dar awareness [promover a consciencialização] e responsabilização”, afirmou, apontando os dados como principal obstáculo à escalabilidade dos modelos.

Ricardo Gonçalves reforçou a importância da regulação, mas criticou a ausência de uma estratégia nacional robusta. “A IA é a nova eletricidade do mundo. Estamos a falhar por não eletrificarmos as nossas empresas. Precisamos de mais investimento em talento e colaboração entre setores”, defendeu, dando como exemplo a indústria do calçado, que se tornou altamente competitiva ao unir forças.

O debate não encerrou sem uma reflexão de Pedro Machado sobre o futuro. “O que tentamos fazer com IA é representar o mundo através de dados, e isso é muito complexo. Precisamos dos melhores dados possíveis para que a próxima revolução digital aconteça”, sublinhou.

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