Forte subida dos juros das obrigações dos EUA assusta investidores

Os mercados estão novamente em ebulição esta quarta-feira com a queda das obrigações e a subida das yields. Trump arrisca transformar incerteza em caos económico, alertam os especialistas.

Os mercados financeiros estão a atravessar um período de elevada tensão, marcado por uma correção acentuada nas ações e, sobretudo, por uma queda significativa nos preços das obrigações, acompanhada de uma subida repentina e persistente das yields.

Este movimento, que desafia as normas tradicionais de refúgio em tempos de instabilidade económica, está a gerar preocupações profundas entre investidores e economistas esta quarta-feira, justamente no dia em que entra em vigor as tarifas mais elevadas sobre as importações dos EUA de vários países do mundo.

As yields das obrigações do Tesouro dos EUA (Treasuries) têm mostrado uma resistência inesperada, com a yield a 10 anos primeiramente a cair para níveis abaixo dos 4% no dia a seguir ao anúncio das tarifas de Trump (atingindo o valor mais baixo desde outubro), para posteriormente disparar para uma taxa média ponderada de 4,38%, a que negoceia atualmente. Só esta quarta-feira, as yields das Treasuries a 10 anos estão a subir 11,8 pontos base, depois de na terça-feira terem subido 10,3 pontos base e na segunda-feira escalado 16,6 pontos base.

A mesma pressão está a ser sentida nas obrigações com maturidades mais longas. É disso exemplo as Treasuries a 30 anos, que em três dias acumulam um aumento da yield de 44,7 pontos base, e estão atualmente a negociar nos 4,85%, segundo o benchmark destas obrigações recolhido pela Refinitiv. É preciso recuar a 7 de janeiro de 1982 para se assistir a uma subida tão repentina e forte das yields das Treasuries a 30 anos, segundo o analista Jim Bianco.

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Este comportamento é particularmente significativo porque, em períodos de stress nos mercados acionistas, as obrigações soberanas costumam funcionar como ativos de refúgio, registando subidas nos preços e quedas nas yields. Desta vez, o cenário é diferente. “A administração Trump pode estar a brincar com nitroglicerina líquida”, refere o reconhecido investidor Ed Yardeni, da Yardeni Associates, ao Financial Times, esta quarta-feira.

Os efeitos desta crise não se resumem ao mercado acionista e obrigacionista dos EUA. Estão a ser sentidos além-fronteiras. No Reino Unido, as yields das obrigações a 30 anos sobem atualmente 13,5 pontos base para 5,48%, o nível mais alto desde 1998.

A origem desta turbulência reside na política comercial agressiva promovida por parte da Administração de Donald Trump marcada por um aumento generalizado e cego das tarifas comerciais. Estas medidas estão a criar incerteza sobre o crescimento económico global e a alimentar receios de inflação persistente. “Os mercados estão condicionados para reverter à média; não estão preparados para ruturas de paradigma”, refere Elida Rhenals, da AXA Investment Managers, ao The Wall Street Journal. Este cenário tem levado os investidores a provocar uma onda de venda de Treasuries no mercado esta quarta-feira, numa corrida por maior liquidez.

Outro fator preocupante que está a assustar os investidores é o défice orçamental dos EUA, que já ultrapassa os 6% do PIB e uma dívida pública superior a 37 biliões de dólares. O aumento das yields reflete também receios sobre a capacidade do governo norte-americano em refinanciar esta dívida num eventual cenário de recessão. Ben Wiltshire, estratega de taxas de juro no Citi, afirmou que “o sell-off pode estar a sinalizar uma mudança de regime onde os Treasuries já não são o porto seguro global no mercado obrigacionista”.

Além disso, um leilão recente de Treasuries a três anos encontrou pouca procura, com os dealers primários a absorverem uma percentagem maior do que o habitual neste tipo de operações. Este resultado negativo aumentou o nervosismo dos investidores nos mercados obrigacionistas, que esta quarta-feira estarão particularmente atentos ao resultado de um leilão a 10 anos de 39 mil milhões de dólares, que terá lugar nas próximas horas.

As yields elevadas nas obrigações aumentam o custo de oportunidade para investir em ações, limitando qualquer recuperação nos mercados acionistas.

Os efeitos desta crise não se resumem ao mercado acionista e obrigacionista dos EUA. Estão a ser sentidos além-fronteiras. No Reino Unido, as yields das obrigações a 30 anos sobem atualmente 13,5 pontos base para 5,48%, o nível mais alto desde 1998. No Japão, as yields das obrigações governamentais de longo prazo também registaram aumentos significativos, com os títulos a 30 anos a negociarem perto dos 2,7%, o valor mais elevado desde agosto de 2004.

Os títulos de dívida da República também não passam impunes a esta tempestade, com a curva de rendimentos de Portugal a mostrar uma subida generalizada da yield das obrigações do Tesouro a mais de sete anos.

As obrigações do Tesouro a 10 anos, por exemplo, registam atualmente uma subida de 1,4 pontos base para os 3,256%. Já a yield da linha a 12 anos (OT 4.1% 15abr2037), que será esta quarta-feira será alvo de um leilão de dívida, num valor indicativo em 1.000 milhões e 1.250 milhões de euros, regista uma subida de 2,9 pontos base, estando a negociar nos 3,48%; enquanto a taxa da obrigação a 5 anos (OT 3,875% 15fev2030) — a outra das duas linhas que o IGCP utilizará para emitir dívida esta quarta-feira –, está a registar uma correção de 2,6 pontos base para os 2,9%.

Estes movimentos estão a criar um ambiente de incerteza nos mercados financeiros globais e a provocar grandes desafios aos investidores. Por um lado, as yields elevadas nas obrigações aumentam o custo de oportunidade para investir em ações, limitando qualquer recuperação nos mercados acionistas. Por outro lado, estas dinâmicas alimentam receios de uma recessão nos EUA e noutras economias desenvolvidas. Além disso, há uma mudança na perceção dos Treasuries como ativos seguros.

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