FMI espera reduções “significativas” do crescimento, mas descarta recessão
Diretora-geral do FMI alerta que tarifas levarão a menos crescimento económico e que setores de alguns países podem ser inundados por importações baratas, enquanto outros sofrerão de escassez.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que a incerteza e as tarifas custam “caro” à economia, pelo que antecipa uma desaceleração do crescimento global. Contudo, descarta um cenário de recessão. Em simultâneo, admite que a guerra comercial se irá traduzir numa subida da inflação em alguns países.
No tradicional discurso que antecede as reuniões de primavera da instituição e do Banco Mundial, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, considerou que a resiliência é novamente testada, desta vez, por um novo capítulo no sistema global de comércio, e que este “é como a água”: “quando os países colocam obstáculos na forma de barreiras tarifárias e não tarifárias, o fluxo desvia-se“, afirmou.
“Alguns setores em alguns países podem ser inundados por importações baratas, outros podem sofrer escassez. O comércio continua, mas as interrupções geram custos“, acrescentou a diretora-geral do FMI, acrescentando que o fundo quantificará esse impacto no World Economic Outlook, que será divulgado na próxima terça-feira, 22 de abril.
Georgieva adianta que “as novas projeções de crescimento irão incluir reduções significativas, mas não recessão“. Serão ainda registados “aumentos nas previsões de inflação para alguns países“.
A responsável da instituição de Bretton Woods alerta que a incerteza elevada e prolongada aumenta o risco de stress no mercado financeiro. “No início deste mês, observámos movimentos incomuns em alguns mercados importantes de títulos e moedas. Vemos como, apesar da elevada incerteza, o dólar se desvalorizou e as curvas de juros dos títulos do Tesouro dos EUA ‘sorriram’ — não é o tipo de sorriso que se deseja ver. Tais movimentos devem ser interpretados como um alerta. Todos sofrem se as condições financeiras piorarem”, referiu.
Alguns setores em alguns países podem ser inundados por importações baratas, outros podem sofrer escassez. O comércio continua, mas as interrupções geram custos.
Georgieva alertou ainda que a complexidade das cadeias de abastecimento modernas implica que bens importados alimentam uma ampla gama de produtos nacionais, pelo que o custo de um produto acabado pode ser afetado por tarifas em dezenas de países.
“Num mundo de tarifas bilaterais, cada uma das quais pode estar a subir ou descer, o planeamento torna-se difícil. O resultado? Navios no mar sem saber para que porto navegar, decisões de investimento adiadas, mercados financeiros voláteis, poupanças preventivas em alta. Quanto mais tempo a incerteza persistir, maior será o custo”, advertiu.
A diretora-geral do FMI realçou igualmente que o aumento das barreiras comerciais afeta antecipadamente o crescimento, argumentando que as tarifas não são pagas apenas pelos parceiros comerciais. “Os importadores pagam parte com lucros menores e os consumidores pagam parte com preços mais altos. Ao aumentar o custo dos bens importados, as tarifas agem antecipadamente”, assinalou, considerando também que “o protecionismo corrói a produtividade a longo prazo”, sobretudo em economias de menor dimensão.

União Europeia “precisa de menos restrições” ao comércio interno de serviços
Kristalina Georgieva recomenda ainda que a União Europeia (UE) avance com a união bancária e a união do mercado de capitais, ao mesmo tempo que faça progressos no mercado único. “A Europa precisa de menos restrições ao comércio interno de serviços“, apontou.
Ademais, a responsável do FMI vaticinou que “a expansão orçamental assertiva da Alemanha para facilitar os gastos com defesa e infraestrutura impulsionará a procura interna, assim como as políticas em toda a UE para melhorar a competitividade através do aprofundamento do mercado único”.
“Em conjunto, a flexibilização orçamental e uma integração mais forte impulsionariam o crescimento, aumentariam a resiliência e melhorariam os equilíbrios interno e externo”, argumentou.
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