Apesar da ira de Trump, Fed vai ‘congelar’ taxas de juro até ter mais clareza
Banco central tem motivos para contrariar o presidente e manter juros inalterados – a economia continua sólida e as tarifas ameaçam acelerar a inflação. Cortes devem chegar no segundo semestre.
A Reserva Federal e, especialmente Jerome Powell, têm sido alvos da fúria do presidente norte-americano nas últimas semanas, com críticas à lentidão do banco central em cortar as taxas de juro e ameaças pouco veladas (e entretanto retiradas) sobre a continuidade do chairperson que chegou a apelidar de ‘major loser‘.
Apesar desta pressão, Trump não vai conseguir os cortes preventivos que tanto quer, pois é dado como certo entre analistas e investidores que as Federal Funds Rates vão permanecer no intervalo 4,25-4,50% no final da reunião de dois dias do Federal Open Market Commission (comité de política monetária) esta quarta-feira.
“A Fed parece estar pronta a manter as taxas de juro inalteradas pela terceira vez seguida“, disseram os analistas do britânico Lloyds Bank, salientando numa nota publicada a 2 de maio que nos mercados os preços colocavam a probabilidade de um corte em apenas 10%.
Desde essa altura a probabilidade caiu ainda mais. Segundo o site CME FedWatch Tool, que monitoriza a negociação dos futuros das taxas de juro, esta terça-feira a probabilidade de a Fed manter as Federal Funds Rates no intervalo atual de 4,25-4,50% era de 96,8%.
Economia e inflação, o desafio duplo
Michael Krautzberger, diretor de investimento global em obrigações na Allianz Global Investors, recordou que Powell tem deixado claro nas declarações mais recentes que, por agora, será adotada uma postura cautelosa.
“A Fed pretende avaliar os efeitos das tarifas sobre a economia antes de tomar novas decisões, ainda que o presidente Trump continue a pressionar para uma redução das taxas a curto prazo”, sublinhou o analista.
A economia dos EUA enfrenta agora um duplo desafio: por um lado, perspetiva-se um abrandamento do crescimento económico; por outro, um aumento da inflação, adiantou Krautzberger. “Esta é uma combinação que dificulta o cumprimento do duplo mandato da Fed de garantir o pleno emprego e manter a estabilidade dos preços”.
“Os mercados também não antecipam cortes em maio, e partilhamos essa visão, mas ainda assim, se a atual política tarifária se mantiver nos próximos meses, a Fed poderá ser forçada a intervir caso a economia se deteriore rapidamente”, vincou, acrescentando que os mercados já antecipam até quatro cortes adicionais das taxas até ao final do ano.
Os analistas do BBVA vêm como provável que a Fed mantenha a sua posição dependente dos dados e sinalize que não tem “pressa” em ajustar a política até que haja maior clareza sobre os efeitos das novas medidas comerciais. “Por enquanto, a nossa opinião é que é improvável uma grande mudança no tom da Fed e a nossa atenção manter-se-á centrada em quaisquer sinais de uma possível mudança de perspetiva antes da reunião de junho”.
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Fed mais politizada?
A incerteza gerada pela política comercial dos EUA e a pressão do presidente Trump sobre a Fed para reduzir as taxas também levaram muitos atores do mercado a questionar a credibilidade da política económica americana, comentou Michael Krautzberger, da Allianz GI.
“Os prémios de risco associados aos prazos mais longos aumentaram, com os investidores a exigir uma maior compensação pelo risco dos títulos do Tesouro dos EUA, ao mesmo tempo que o dólar também tem estado sob pressão”, referiu.
“Apesar de o mandato de Powell durar até maio de 2026, e de Trump não ter autoridade constitucional para o destituir antes desse prazo, existe o risco da Fed se tornar progressivamente mais politizada, o que poderá enfraquecer a credibilidade da política monetária e a confiança nos ativos americanos”, alertou.
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