BRANDS' ECO Algarve lança debate estratégico sobre o futuro digital

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O Congresso de Segurança & Integridade Digital assinalou, para muitos, o início de uma nova etapa para o Algarve, em que a região assume a ambição de estar na linha da frente da transição digital.

No Algarve, como em qualquer outra região do país, a transformação digital já deixou de ser uma hipótese distante. Está a acontecer nos serviços públicos, nas empresas, nas escolas e no quotidiano das pessoas. Esse o ponto de partida do Congresso de Segurança & Integridade Digital, que decorreu no dia 12 de maio, no Hotel Tivoli Marina Vilamoura.

Organizado pela Associação dos Empresários do Algarve (AEA), o congresso trouxe à região um debate urgente: como é que protegemos os nossos dados, os nossos negócios e os nossos serviços num mundo cada vez mais digital? E como é que fazemos isso com responsabilidade, sem perder de vista o lado humano e ético da inovação?

O encontro também mostrou as oportunidades que o digital pode trazer à região. Os Bairros Comerciais Digitais são um bom exemplo: um projeto pensado para dar nova vida ao comércio local, com ferramentas modernas que ajudam as lojas a vender mais, a comunicar melhor e a fidelizar os seus clientes. Mais do que uma digitalização apressada, trata-se de repensar os negócios com tempo, apoio e segurança.

Olhar sobre o futuro

Ao todo, foram quatro painéis que abordaram os temas centrais da nova era digital: a transição tecnológica no território, o futuro da segurança, o impacto da inteligência artificial e os caminhos para um desenvolvimento mais justo e equilibrado.

A inteligência artificial, concretamente, foi abordada, de uma maneira geral, como uma ferramenta poderosa que pode — se bem utilizada — melhorar a gestão pública, reforçar os cuidados de saúde, dar apoio ao setor turístico ou até proteger o ambiente. A condição? Que seja usada com ética, com debate público e com visão. O futuro é digital, sim, no entanto o digital só vale a pena se for seguro, ético e inclusivo.

João Guerreiro, presidente da Associação dos Empresários do Algarve (AEA), sublinhou a importância de um evento como este para “elevar o país” na transição digital — um esforço que, segundo o responsável, deve ir além da política e do imediato, mobilizando energias para um objetivo comum: preparar melhor o presente e o futuro digital de Portugal. “A digitalização da economia e da vida social traz inúmeras vantagens, da eficiência à criação de novas oportunidades de negócio. Mas também impõe desafios sérios: desde a segurança dos dados à privacidade dos utilizadores, passando pela resiliência dos sistemas”, complementou Susana Silva, da organização.

Digitalizar para incluir e cidades mais seguras

O dia começou com o painel “A Transição Digital no Território”, moderado por Francisca Sousa, gestora da Aceleradora do Comércio Digital do Algarve. A conversa centrou-se na forma como a digitalização está a moldar — e a equilibrar — o desenvolvimento regional.

Francisco Sousa, diretor do Departamento de Administração e Sistemas da Câmara de Loulé, adiantou que o município tem apostado em soluções digitais para combater as desigualdades internas: “Dois terços do nosso concelho são zonas de baixa densidade, com má cobertura móvel. Era preciso fazer mais”. A resposta veio com o Programa Digital para o Interior de Loulé, um projeto estruturante que já está a expandir a cobertura de comunicações móveis para 98% do território, incluindo freguesias como Alte, Ameixial ou Salir. “Queremos atrair investimento, fixar pessoas, apoiar a população local e preservar o nosso património ambiental.”

A perspetiva de Marlene Guerreiro, vice-presidente da Câmara de São Brás de Alportel, mostrou como o digital pode ser uma ferramenta de proximidade. “A digitalização foi um processo natural. O comércio local precisava de se dar a conhecer e chegar aos clientes.” O segredo, diz, está em adaptar a tecnologia à identidade de cada território. A responsável acredita que “quanto mais o digital for ao encontro da essência das coisas, mais sucesso terá”.

Fernanda Ferreira Dias, diretora-geral das Atividades Económicas do Ministério da Economia, apresentou o novo Mapa do Comércio, Serviços e Restauração, uma plataforma pública com informação georreferenciada sobre os estabelecimentos comerciais do país: “É uma espécie de Google Maps do comércio, útil para planeamento urbano, políticas públicas ou investimento privado”. A ferramenta foi lançada oficialmente a 23 de abril.

Nuno Gonçalves, vice-presidente do IAPMEI, o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação, reforçou que não faltam fundos para a transição digital, mas sim capacidade para os aplicar eficazmente. “Temos mais de 40 programas ativos para capacitar empresas, municípios e cidadãos. Mas os desafios são reais: baixa literacia digital, exigência de resultados rápidos e mais recursos financeiros”. Apesar disso, deixou uma nota de otimismo: “Projetos como os de Loulé e São Brás mostram que é possível construir soluções que respondam às necessidades locais”.

A sessão da manhã encerrou com o tema “Cidades Seguras – o futuro da segurança no território”, moderado por Cláudio Martins, administrador de uma empresa tecnológica, que destacou o impacto da segurança urbana na atratividade da região e a sua relevância ao nível nacional: “A segurança das nossas cidades não é apenas um tema regional, é uma preocupação nacional e cada vez mais urgente”.

Ricardo Mendes, da Bosch, destacou os avanços tecnológicos na vigilância urbana, especialmente no uso de análise preditiva e sensores inteligentes: “Hoje, já não falamos apenas de câmaras de videovigilância, mas de sensores de vídeo capazes de detetar comportamentos anómalos e reagir automaticamente”. Explicou também que os sistemas mais avançados conseguem detetar armas, reconhecer padrões de movimento e identificar pessoas ou objetos com base em atributos como a cor da roupa ou a presença de óculos: “A nossa missão é que o sistema reaja sem depender do operador. A predição é o futuro da segurança”. Os desafios legais e éticos, a importância da proteção de dados e da cibersegurança são pontos essenciais deste novo paradigma.

Hernâni Borges, coordenador de projetos na SystemsIT, centrou-se no processo de implementação destas tecnologias nas cidades. Destacou que, até há poucos anos, estes projetos eram difíceis de concretizar: “Há quatro ou cinco anos era praticamente impossível implementar este tipo de soluções. Hoje, com enquadramento legal e projetos técnicos rigorosos, é uma realidade”. Sublinhou a importância de uma abordagem técnica criteriosa, ajustando os sistemas às necessidades específicas de cada local: “Não se trata de pôr câmaras ao acaso. É um investimento de milhões e tem de ser planeado com critérios técnicos e legais muito claros”. O especialista referiu ainda a colaboração com a Polícia de Segurança Pública (PSP) para mapear zonas e tipologias de crime, otimizando a eficácia da vigilância.

Mónica Rocha, diretora da área de Administração Pública Local na Altice Portugal, falou sobre o papel da conectividade 5G na transformação das cidades seguras. Salientou que esta tecnologia permite viabilizar projetos de segurança em zonas remotas, com mobilidade, fiabilidade e segurança superiores às soluções tradicionais: “O 5G permite fazer em zonas remotas o que antes só era possível com fibra”. Isto tem especial relevância para o território algarvio, marcado por uma grande dispersão populacional e zonas rurais ou de baixa densidade onde soluções fixas são caras ou impraticáveis. A mobilidade e autonomia do 5G reduzem custos e aceleram implementações, assegurou.

João Gabriel, especialista em cibersegurança da BPO Consulting, reforçou que a proteção das cidades não se esgota na vigilância física: a componente digital é fundamental. Alertou para o risco crescente de ataques a infraestruturas críticas e à manipulação de dados sensíveis: “Não adianta termos a melhor infraestrutura física se os dados estão vulneráveis”, destacando a importância de políticas de segurança integradas, desde o dispositivo até à cloud, com formação de utilizadores, segmentação de redes e resposta a incidentes em tempo real. “A segurança é um processo contínuo. É preciso preparar as pessoas, os sistemas e os processos”, rematou.

Inteligência artificial e o seu impacto na sociedade e digitalização e planeamento territorial

A tarde arrancou com um debate animado sobre os efeitos da IA nos vários setores. O painel contou com intervenções de Alexandre Pereira, administrador da Tecnovia Indústria, e Ricardo Raimundo, professor universitário especializado em gestão e marketing.

Alexandre Pereira, com décadas de experiência no setor da construção, sublinhou o papel da IA na segurança, eficiência e sustentabilidade das obras: “A inteligência artificial já nos ajuda na monitorização de máquinas, previsão de atrasos e até na segurança dos trabalhadores, identificando comportamentos inseguros em tempo real”.

Por sua vez, Ricardo Raimundo destacou o impacto da IA na personalização e na gestão empresarial, mas também alertou para a sua integração consciente: “A inteligência artificial permite uma hiperpersonalização do produto, conhecendo padrões e comportamentos. Mas temos de garantir que ela amplifica, e não substitui, a inteligência humana”.

O painel foi unânime na conclusão: a IA não deve ser temida, mas sim compreendida e usada como ferramenta estratégica — um amplificador da capacidade humana, não o seu substituto.

O quarto e último painel do congresso foi dedicado à reflexão sobre o futuro do desenvolvimento territorial, com particular enfoque no Algarve. Moderado por André Telheiro Santos, empresário e dirigente associativo, o debate contou com a participação do professor universitário Fernando Seara, do comentador Pedro Costa e do ex-ministro Rui Gomes da Silva.

Pedro Costa abordou a transição digital como uma “verdadeira revolução industrial” e destacou que, pela primeira vez, Portugal pode entrar entre os primeiros na corrida global. No entanto, alertou para os riscos de concentração em gigantes tecnológicos e defendeu que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) oferece uma oportunidade para reequilibrar o mercado, promovendo a digitalização do comércio local e reforçando o planeamento estratégico, especialmente em regiões com desafios estruturais como o Algarve. Costa realçou que a gestão de dados deve ser colocada ao serviço do ordenamento do território, permitindo decisões mais informadas, eficazes e adaptadas às realidades locais.

Rui Gomes da Silva, por sua vez, foi mais incisivo quanto às desigualdades estruturais e à lentidão do Estado em adaptar-se aos desafios contemporâneos. Ironizou que vivemos com “uma administração do século XIX, leis do século XX e tecnologia do século XXI”, o que gera fricções graves na capacidade de resposta pública e de atração de investimento. Gomes da Silva alertou que 40% das empresas existentes hoje poderão desaparecer em 10 anos se não se adaptarem tecnologicamente. E reforçou que a justiça e o sistema fiscal continuam a ser os dois principais bloqueios à competitividade do país. Concluiu com uma reflexão política, apelando à coragem dos decisores para “inventar o futuro”, num tempo em que o poder formal nem sempre coincide com o poder real.

A fechar o painel, Fernando Seara trouxe uma visão crítica ao debate, assumindo-se como cético face ao entusiasmo generalizado com a inteligência artificial. Afirmou, sem rodeios, que a IA será “o maior fator de desigualdade social da história do planeta”, considerando que a sua massificação poderá agravar clivagens existentes e marginalizar ainda mais os territórios e cidadãos que não acompanharem esta transformação. O professor alertou que, apesar de inevitável, a inteligência artificial coloca desafios profundos ao nível jurídico, ético e político, que ainda estão longe de estar resolvidos — quer em Portugal, quer ao nível internacional.

Do ponto de vista territorial, Seara defendeu que os municípios devem assumir um papel proativo na digitalização, não apenas como utilizadores de tecnologia, mas como motores de inovação social e agentes de mitigação das desigualdades. Concluiu com um apelo à ação prática e corajosa por parte dos líderes locais, defendendo que “não basta falar do futuro — é preciso construí-lo com decisões concretas, centradas nas pessoas e não apenas nos sistemas”.

Um Algarve com uma voz forte

A sessão de encerramento ficou a cargo de Diogo Agostinho, Chief Operating Officer do ECO que apelou “a um Algarve capaz de unir esforços e encontrar uma voz que tenha peso em Lisboa”. Numa intervenção sobre a importância da segurança digital e na criação de condições para atrair talento para a região, não deixou de destacar a necessidade de uma cultura de ambição do Algarve. Na mesma linha, João Guerreiro, presidente da AEA rematou: “O futuro constrói-se com ambição, mas também com capacidade de execução partilhada“.

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