Dombrovskis: “O momento da Europa para agir é agora”

Valdis Dombrovskis, comissário europeu para a Economia, diz que a economia da União Europeia está a perder gás e só uma ação rápida pode evitar que a Europa fique na cauda do crescimento mundial.

A Comissão Europeia reviu esta segunda-feira em baixa as previsões de crescimento para a economia europeia, num cenário marcado por incerteza global e tensões comerciais, sobretudo com os EUA. “A incerteza global e as tensões estão a pesar no crescimento da União Europeia”, afirmou Valdis Dombrovskis, Comissário Europeu para a Economia e Produtividade, na apresentação das previsões de primavera da Comissão Europeia em Bruxelas, sublinhando que, apesar das adversidades, “a economia da União Europeia mantém-se resiliente”.

A Comissão Europeia antecipa agora que o PIB da União Europeia cresça apenas 1,1% em 2025, uma revisão em baixa face aos 1,5% anteriormente previstos, e projeta uma aceleração para 1,5% em 2026. Na Zona Euro, o crescimento ficará pelos 0,9% este ano, subindo para 1,4% no próximo. “Esta revisão em baixa de 0,7 pontos percentuais em termos acumulados para 2025-26 deve-se sobretudo ao impacto do aumento das tarifas e à incerteza causada pelas mudanças abruptas na política comercial dos EUA”, explicou Dombrovskis.

O contexto internacional tornou-se mais adverso desde o outono passado, reforçou ainda o comissário europeu natural da Letónia. “Desde que tomou posse em janeiro, a nova administração dos EUA aumentou as tarifas sobre as importações de bens de um número crescente de parceiros comerciais e sobre produtos específicos”, destacou o comissário.

As previsões da primavera sublinha a necessidade de a União tomar medidas rápidas e decisivas para reforçar a competitividade e garantir a prosperidade a longo prazo

Valdis Dombrovskis

Comissário Europeu para a Economia e Produtividade

O resultado foi uma “incerteza de política económica global a níveis não vistos desde os momentos mais sombrios da pandemia de Covid-19”. O impacto imediato fez-se sentir nos mercados financeiros, onde “a volatilidade permanece elevada e o sentimento é frágil”, acrescentou.

O comissário europeu alertou ainda que “os riscos para as previsões mantêm-se inclinados para o lado negativo”, sublinhando que estas previsões são “dominados por potenciais desenvolvimentos no comércio”.

O comissário apontou que “tensões comerciais entre os EUA e a União Europeia, e entre os EUA e a China, podem deprimir o crescimento do PIB e reacender pressões inflacionistas”. Por outro lado, “um abrandamento das tensões comerciais ou uma expansão mais rápida do comércio da UE podem ajudar a sustentar o crescimento”.

Independentemente dos próximos capítulos, Dombrovskis reforçou a necessidade de ação por parte da União Europeia, destacando que “as previsões da primavera sublinha a necessidade de a União tomar medidas rápidas e decisivas para reforçar a competitividade e garantir a prosperidade a longo prazo”, destacando que, para a Europa, “o momento para agir é agora.”

Economia europeia com menos gás

No centro do discurso de Dombrovskis esteve a deterioração do comércio global como elemento central do corte das previsões de crescimento do PIB europeu mas também do PIB mundial. “O crescimento global fora da União Europeia está agora projetado em 3,2% para 2025 e 2026, uma revisão em baixa de 0,4 pontos percentuais face ao outono”, revelou Dombrovskis.

No caso das exportações europeias, estas deverão crescer apenas 0,7% este ano, com um contributo negativo das exportações líquidas para o crescimento do PIB em 2025, um “arrastamento que se dissipa em 2026”.

Apesar do abrandamento, o mercado de trabalho europeu continua robusto. “Mais empregos estão a ser criados e os salários reais estão a aumentar. Isto significa mais europeus a trabalhar e mais dinheiro nos seus bolsos”, afirmou o comissário.

A taxa de desemprego deverá cair para um novo mínimo histórico de 5,7% em 2026, com a criação de mais dois milhões de postos de trabalho até lá. “Os mercados de emprego apertados e a recuperação da produtividade estão a suportar o crescimento salarial”, disse, acrescentando que “os salários reais deverão recuperar totalmente o poder de compra perdido na maioria dos Estados-membros”.

O impacto da aplicação da cláusula de escape nacional do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que pode permitir maior despesa em defesa, ainda não está refletido nas previsões

Valdis Dombrovskis

Comissário Europeu para a Economia e Produtividade

A inflação, por sua vez, está a desacelerar mais rapidamente do que o previsto no espaço europeu, destaca Dombrovskis. “A inflação está a cair mais rápido do que o esperado, impulsionada pela descida dos preços da energia”, indicou o comissário europeu, detalhando que a taxa na área do euro deverá descer de 2,4% em 2024 para 2,1% em 2025 e 1,7% em 2026.

Na União Europeia, a inflação deverá seguir uma trajetória semelhante, caindo para 1,9% em 2026. “Vários fatores estão a exercer pressão descendente sobre a inflação, incluindo a apreciação do euro e uma maior concorrência de preços em bens não energéticos”, explicou.

No lado do investimento, a recuperação será “mais tímida do que se previa”, com a formação bruta de capital fixo a crescer 1,5% em 2025 e 2,4% em 2026, após uma contração de 1,9% em 2024. “A incerteza elevada e o aperto das condições financeiras continuam a travar o investimento”, alertou Dombrovskis, defendendo que “mais investimento significa uma economia europeia mais próspera e competitiva”.

No capítulo das finanças públicas, o défice orçamental da UE deverá aumentar ligeiramente para 3,3% do PIB em 2025, mantendo-se nesse patamar em 2026, enquanto o rácio da dívida sobe de forma modesta devido ao aumento dos custos de financiamento e ao abrandamento do crescimento nominal. Contudo, Dombrovskis esclareceu que “o impacto da aplicação da cláusula de escape nacional do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que pode permitir maior despesa em defesa, ainda não está refletido nas previsões”, esclareceu.

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