Os vencedores, os empatados e os derrotados das legislativas
AD ficou na frente, mas o vencedor claro foi o Chega. Entre os derrotados, destaque para as hecatombes do PS e do Bloco. Livre e IL subiram, PAN manteve, JPP entrou e CDU recuou.
Não foi um dejá vu, mas houve semelhanças à direita. A AD – coligação PSD/CDS – repetiu a vitória tangencial das legislativas do ano passado, falhou a maioria absoluta (nem chegou perto, mesmo com uma hipotética aliança com os liberais), mas vai continuar a governar, provavelmente com maior estabilidade. O Chega voltou a crescer e foi o claro vencedor da noite, podendo até ultrapassar o PS em mandatos no hemiciclo se repetir os números dos círculos no estrangeiro.
O Livre fica no terceiro degrau dos vencedores ao aumentar a representação parlamentar (de quatro para seis) e a sobreviver ao pesadelo da esquerda. Junta-se a este patamar o newcomer JPP, que elegeu um deputado na Madeira para se estrear em São Bento.
A Iniciativa Liberal acrescentou um deputado aos oito que já tinha, mas o resultado peca por escasso tendo em conta as expectativas (goradas) sobre a possibilidade de entrar num governo em parceria com AD e representa um empate e não uma vitória. Empatado também ficou o PAN, que praticamente no final da noite assegurou o lugar da deputada Inês Sousa Real.
Nos derrotados, todos eles à esquerda, o grande destaque é Pedro Nuno Santos, que levou o PS ao pior resultado desde 1987 — mas potencialmente com consequências ainda mais graves, dado que pode descer para o terceiro lugar no Parlamento — e já se demitiu do cargo. Mariana Mortágua não seguiu o mesmo caminho, optando por se manter na liderança de um Bloco que passa a ter somente o lugar da líder na Assembleia. Menos pesada foi a derrota da CDU, que perdeu um deputado, mas ainda assim 25% da representação.
Os vencedores
Luís Montenegro (AD)

Não é uma vitória tão clara como a que Montenegro desejaria quando apresentou uma moção de confiança ao Governo para afastar as nuvens do caso Spinumviva. Não há maioria absoluta, nem com a IL disponível, e a AD vai ter de navegar um cenário difícil no Parlamento com um Chega de peito cheio e a apontar a mira à governação. Mas o timing político e o descalabro do PS vão dar tempo a Montenegro, que o deverá usar para consolidar alguns dos sucessos do primeiro mandato. Mais importante, o social-democrata conseguiu impedir que o caso da sua empresa familiar fosse um entrave para continuar como primeiro-ministro. Uma vitória nervosa, mas ainda assim uma vitória num campo difícil.
André Ventura (Chega)
“O Chega tornou-se o segundo maior partido da nossa democracia”. Se há frase que marcou a noite eleitoral foi esta proferida por André Ventura, pois representa de forma clara a principal transformação que o partido de extrema-direita conseguiu impor no quadro político português. Se passar de 50 a (pelo menos) 58 deputados e de 18,07% para 22,56%, já colocaria o Chega no pódio dos vencedores, ficar a décimas do resultado do PS e com a possibilidade de o ultrapassar em número de parlamentares, coloca-o no topo desse pódio. Quer se goste ou não, é o grande e destacado vencedor da noite e irá aproveitar esse estatuto para liderar a oposição.
Rui Tavares (Livre)
Rui Tavares sublinhou uma das evidências da noite: o Livre é a exceção à esquerda, visto que melhorou o resultado face há um ano, passando de 3,18% para 4,20%. O bom desempenho, que já se adivinhava pela prestação de Tavares nos debates e na campanha, permite ao partido apresentar nas próximas eleições autárquicas “o máximo número de listas progressivas que disputarão o terreno à direita radicalizada que temos hoje em dia”.
Filipe Sousa (Juntos pelo Povo)
Filipe Sousa afirmou: “Somos os grandes vencedores destas eleições”. Dado o calor do momento da eleição pelo círculo da Madeira, percebe-se o exagero. O JPP está certamente entre os vencedores das eleições, mas o principal contributo foi como fator de surpresa, um novo partido no Parlamento. “A nossa forma de estar, o sentido de comunidade e tolerância foi aos pouco ganhado a confiança da população madeirense”, disse o responsável, após o partido ter ficado com um dos dois mandatos que há um ano tinham caído para o lado do PS.
Os empatados
Rui Rocha (IL)

Será justo não classificar como vitória o resultado de um partido que aumentou a presença no Parlamento (de oito para nove deputados)? Sim, atendendo às expectativas o resultado representa mais um empate. Essas expectativas, alimentadas pelo próprio Rui Rocha, estavam centradas num resultado que pudesse atirar o partido para o Governo, como sócio minoritário da AD. Esse cenário evaporou-se, no entanto, logo com a divulgação das projeções pelas televisões — a combinação das duas forças não seria suficiente para formar uma maioria absoluta. Rui Rocha assumiu que queria ter “crescido mais”, mas acrescentou que “não teria feito nada de diferente” na campanha e na anterior legislatura.
Inês Sousa Real (PAN)
Passou grande parte da noite despercebida, mas de repente surgiu a notícia que desejava – Inês Sousa Real, atual porta-voz e deputada única do partido Pessoas–Animais–Natureza, voltou a garantir um lugar no Parlamento. O PAN obteve 1,36% dos votos (80.850 votos), de acordo com a contagem às 23h30, com todas as freguesias do país apuradas.
Os derrotados
Pedro Nuno Santos (PS)
“Assumo as minhas responsabilidades”, a frase abria a porta à demissão esperada. Pedro Nuno Santos confirmou que vai pedir eleições internas às quais não será candidato. O desfecho era previsível desde o início de uma noite de massacre para os socialistas. Não só não conseguiu perturbar a liderança da AD nas urnas, mas também foi apanhado pelo Chega. Pedro Nuno Santos ainda estendeu uma última crítica a Montenegro, dizendo que o PS vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e que não quer “ser um estorvo ao partido nas decisões que vier a tomar, não quero dar suporte a um Governo que na soube separar a política dos negócios”. Mas era apenas uma despedida: “Deixo de ser secretário-geral assim que puder, se puder ser já…”.
Mariana Mortágua (BE)
A líder bloquista não camuflou o resultado. “O Bloco de Esquerda tem uma grande derrota esta noite”, disse antes de assumir que o partido tem de fazer uma reflexão sobre o caminho que levou à perda de quatro dos cinco lugares no Parlamento, mantendo apenas o de Mortágua. Essa manutenção permitiu evitar a demissão da coordenadora e apontar para novas batalhas: “Temos muito trabalho pela frente para alargar a esquerda e lutar contra a extrema-direita“, sublinhou.
Paulo Raimundo (CDU)
O líder comunista subiu ao palco para festejar a “resistência” da CDU “num quadro particularmente exigente”, adiantando que tinha informações sobre a manutenção dos quatro deputados, quando na altura tinha apenas três garantidos. Essas informações acabaram por não ser confirmadas e a CDU vai voltar ao Parlamento com apenas três representantes. Ainda assim, Raimundo prometeu luta: “Vamos enfrentar com muita coragem a extrema-direita e os interesses do capital”.
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