CEO de grupo da Letónia que investe 200 milhões em Portugal tem o visto caducado
“As autorizações de residência são um pesadelo. Já temos 50 pessoas que as têm caducadas e poucas tiveram vagas" para renovar, alerta Ilya Shirokov, fundador e presidente executivo da Joom.
O grupo internacional Joom, que está a investir 200 milhões de euros em Portugal, também enfrenta os problemas burocráticos criticados pelo CEO da norte-americana Cloudflare. Há uma diferença relevante: a holding de empresas de comércio eletrónico (e-commerce) é da União Europeia (UE), nasceu na Letónia e, há dois anos, até decidiu mudar a sede de Riga para Lisboa. Mesmo assim, não só dezenas de colaboradores continuam sem conseguir validar as autorizações de residência como o próprio CEO, natural de Moscovo, tem o visto caducado.
“As autorizações de residência são um pesadelo. No início tivemos muitos problemas, depois foram resolvidos, mas agora vemos que esses problemas voltaram. As pessoas que trouxemos receberam as suas autorizações de residência durante dois anos e agora precisam de as renovar, mas é impossível conseguir vagas. Já temos 50 pessoas com autorização de residência caducada e poucas tiveram vagas [para renovar]”, disse o fundador e CEO da Joom, em entrevista ao ECO e a uma publicação tecnológica especializada.
Ilya Shirokov revela que um dos seus trabalhadores teve vaga para renovar o visto – entretanto expirado – para janeiro de 2026. “Não pode viajar nem ir ter com a família. Assim é muito difícil trazer gente nova. Se queremos construir algo grande, precisamos de trazer as melhores pessoas, onde quer que estejam”, adverte o líder do grupo letão.

Questionado sobre se concorda com as queixas do CEO da Cloudflare, Matthew Prince, o fundador e CEO da Joom foi pragmático: “Não acho que seja assim tão mau, mas eu estou cá e ele é de fora”.
E está arrependido de ter investido em Portugal? Não, mas é preciso que os problemas sejam solucionados. “Se for resolvido, não [estou arrependido]. Para nós, é um local muito bom. As mesmas razões pelas quais viemos há dois anos ainda são válidas. Contratamos pessoas locais e elas gostam de estar na comunidade internacional. Continuo a recomendar Portugal a outros empreendedores. É uma localização estratégica. Da minha parte, promovo sempre Portugal”, garante Ilya Shiroko, expectante que haja resolução rápida para este entrave.
Em 2023, quando decidiu mudar a sede da Joom da Letónia para Portugal, a administração da empresa esteve dividida entre 12 cidades europeias até escolher Lisboa. Amesterdão, Berlim, Milão ou Barcelona foram hipóteses, porque pensaram que, mais rapidamente ou mais lentamente, “a burocracia em toda a UE funcionaria”.
“Primeiro, perguntámos aos nossos colaboradores onde queriam viver e, em seguida, perguntámos aos potenciais candidatos para onde gostariam de se mudar. Terceiro, analisámos o custo para nós, enquanto empresa (quantos impostos precisamos de pagar). Em quarto lugar, vimos se o aeroporto fica perto da cidade e tinha voos diretos para oeste e para leste”, conta. Completadas estas quatro etapas, a escolha recaiu sobre Lisboa, mas o processo de entrada foi mais penoso do que imaginavam por causa da transição do SEF para AIMA.
A nível fiscal, Ilya Shirokov considera que Portugal é um país atrativo. Apesar das mudanças no anterior regime de Residente Não Habituais (RNH), aplaude mecanismos como o IFICI – Incentivo Fiscal à Investigação Científica e Inovação, onde a maioria dos seus trabalhadores (qualificados) se enquadra e beneficia de uma tributação especial de 20% dos rendimentos do trabalho (líquidos das categorias A e B) obtidos em Portugal durante uma década.
Tarifas antecipam expansão para os EUA
A política protecionista do presidente Donald Trump fez com que a Joom antecipasse o plano de internacionalização para os Estados Unidos da América (EUA) em cerca de um ano. A ideia era atravessar o Atlântico só daqui a, pelo menos, três anos, mas neste momento a possibilidade em cima da mesa é expandir em 2026-2027.
"O que está a acontecer nos EUA neste momento está a remodelar completamente o comércio global e irá certamente moldar as economias do mundo. Pode ser que precisemos de nos lançar nos EUA mais rapidamente do que esperávamos, mas temos de esperar para ver se há alguma clareza”
“Temos planos muito grandes para a empresa, mas não somos uma corporate que consiga prever o que vai acontecer nos próximos dez anos. Trabalhamos num setor em constante mudança: o do comércio global”, esclareceu o gestor.
Neste momento, a Joom tem apenas a China como mercado fornecedor, o que que dizer que o marketplace da marca só vende produtos fabricados neste país asiático. Tendo um negócio B2B (Business-to-Business), em que conecta fabricantes com vendedores na loja online, a estratégia passa por juntar mais geografias ao site.
No entanto, permanecem alguns desafios. “A ligação entre os EUA e a China é muito estreita. Se precisares de um fabricante na China para enviar produtos para os EUA, ligas-lhe e dão-te o acesso. Sem problemas. Mas com as tarifas altas, já ouvimos muitos clientes começarem a pensar: «Onde é que posso comprar os mesmos produtos a um preço melhor? Talvez na Índia». Só que é mais difícil encontrar fornecedores na Índia…”, explica o empreendedor do comércio digital.
O fundador e CEO da Joom diz que a empresa procura não só digitalizar este setor como torná-lo mais transparente para que seja possível ter indicação em cada produto de onde é e qual o preço final, seja americano, indiano, chinês, brasileiro, egípcio ou europeu, exemplificou.
Ilya Shirokov criou a Joom em 2016, mas antes foi cofundador da rede social russa Moi Krug, que em 2007 foi comprada pela tecnológica Yandex, que opera o maior motor de busca da Rússia.
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