Descarbonizar com estratégia implica novo mix energético, apontam peritos
Na Semana da Energia, debateu-se como descarbonizar sem perder competitividade, mantendo o foco no consumidor e na colaboração entre energias.
Falar de energia hoje é falar de descarbonização. A constatação marcou o arranque de uma conversa no âmbito da Semana da Energia — uma iniciativa do ECO com o apoio da Repsol — moderada por Tiago Freire, subdiretor do ECO. Armando Oliveira (Repsol Portuguesa), Ana Luís de Sousa (Associação Portuguesa de Energia – APE) e Filipa Pantaleão (BCSD Portugal) analisaram o que está a mudar, o que falta mudar e como.

“Quando falamos de energia, falamos de sustentabilidade, acessibilidade e segurança”, começou por destacar Ana Luís de Sousa, lembrando que o setor energético tem vindo a descarbonizar, mas que o processo deve assegurar produtos competitivos e acessíveis. “Todas as empresas estão a fazer o seu caminho para emitir menos CO2”, reforçou a diretora-executiva da APE.

Do lado das empresas, Armando Oliveira, Administrador-delegado da Repsol Portugal, falou de uma “reinvenção” em curso. “O que fazíamos há 100 anos não pode continuar a ser feito”, reconheceu. Em 2015, a Repsol assumiu o compromisso de ser neutra em carbono até 2050, e para isso está a apostar em novas soluções como os combustíveis 100% renováveis. “Hoje, entra na nossa refinaria de Cartagena um comboio com resíduos agrícolas e sai um combustível — HVO — que permite abastecer um carro diesel sem mudar nada”, exemplificou.

O responsável considerou que a transição tem de ser feita com “senso comum” e sublinhou que o objetivo é compor um “puzzle energético” com várias peças: elétrico, hidrogénio, combustíveis tradicionais e novos combustíveis.
Mas esta transição encontra entraves pelo caminho. Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD, notou que “há uma aceleração” por parte das empresas, mas também “uma reação contra a sustentabilidade”, vinda de alguns setores e geografias. “A Europa percebeu que não pode recuar”, referiu, comentando a revisão do pacote legislativo europeu em matéria de reporte de sustentabilidade. “Não é perder ambição, é otimizá-la. A sustentabilidade é um fator de inovação e de competitividade”, reiterou.

A questão regulatória foi, aliás, amplamente debatida durante a mesa-redonda. Ana Luís de Sousa apontou que “as transposições de diretivas são processos complexos, que exigem articulação entre várias entidades” e que os ciclos políticos podem atrasar esta articulação. Já Filipa Pantaleão alertou que muitas leis estão “desatualizadas” e que “as instituições públicas precisam de se formar, agilizar e acompanhar a velocidade da sociedade e das empresas”.
“É normal irmos a correr fechar uma torneira que ficou aberta. Mas ninguém corre a apagar uma luz que ficou acesa”, apontou Armando Oliveira, referindo-se ao papel do consumidor. Para o gestor, todos temos um papel na descarbonização, e essa intervenção começa nas pequenas decisões diárias.
“Nos centros urbanos, a mobilidade elétrica é uma solução. Mas no transporte de longo curso, ainda não temos alternativa viável ao diesel”, notou ainda Ana Luís de Sousa. Por isso mesmo, a aposta em combustíveis renováveis como o HVO ganha tração, sobretudo nas grandes frotas. “Desde julho do ano passado que temos este produto à venda em Portugal, embora a regulamentação ainda não permita a sua plena comercialização ao público em geral”, revelou Armando Oliveira.
A circularidade, que em Portugal apresenta uma taxa muito baixa, também entrou no debate, com Filipa Pantaleão a defender que a energia devia ser reconhecida como parte de uma economia circular mais abrangente. “Nada se perde, tudo se transforma — inclusive a energia”, afirmou. A ausência de um índice de circularidade que integre energia e água “dificulta o acesso das empresas às novas soluções”, acrescentou.
A talk encerrou com uma certeza e uma dúvida. A certeza: a transição é inevitável e colaborativa. A dúvida: qual será o mix energético ideal no futuro? “Se alguém disser que sabe, está enganado”, brincou Armando Oliveira. “Quem quiser saber, que vá ao museu da ciência no Dubai perguntar à senhora-robô qual é a energia do futuro”, rematou.
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