A sustentabilidade das cidades como organismos vivos
Num mundo cada vez mais urbano e interligado, torna-se urgente perceber como tornar as cidades mais sustentáveis. Saiba como no segundo episódio do podcast InGov.
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Desde a gestão eficiente de recursos às adaptações às alterações climáticas, os centros urbanos estão no centro das discussões sobre a transição para uma economia de baixo carbono. Mas, apesar de os desafios para garantir um futuro sustentável serem vários, as soluções para os superar podem ser encontradas precisamente nos locais onde eles são mais evidentes: as cidades.
Estes centros urbanos são, na verdade, ecossistemas equiparados a entidades vivas, que servem como uma espécie de laboratório do que será a adaptação a um futuro climático. Mas o que é que isto significa, na prática? Inês Costa, Associate Partner da Deloitte, Líder de Sustentabilidade para o Setor Público em Portugal, e Ricardo Morgado, Co-fundador e CSO da LoopOS e especialista em Economia Circular, esclarecem essa e outras questões no segundo episódio do podcast InGov, moderado por Tiago Freire, Subdiretor ECO.
“As cidades concentram uma grande quantidade de serviços, de recursos, de materiais e de energia. Portanto, costumamos dizer que qualquer solução para a descarbonização e para a economia circular que funcionar no contexto de uma cidade, vai funcionar em qualquer lado“, começou por dizer Inês Costa.
A consultora em sustentabilidade alertou, ainda, para o facto de que, com a grande concentração de pessoas nas cidades, é também esperada uma maior concentração de fluxos financeiros e materiais nestas, que, “se não for bem gerida, pode torná-las muito mais suscetíveis a impactos relacionados não só com as alterações climáticas, mas também com choques sociais, como as desigualdades, choques associados à economia e às finanças”.

No entanto, Ricardo Morgado lembrou que se, por um lado, os grandes desafios estão concentrados nas cidades, “também é lá que estão as principais oportunidades”, até porque mais da maioria dos portugueses vive nelas: “As duas grandes Áreas Metropolitanas juntas têm cerca de 4.6 milhões de pessoas, ou seja, a grande maioria da população portuguesa concentra-se, hoje, em zonas cada vez mais urbanas”.
“Se olharmos para os números a nível mundial, a tendência é brutal. Nos anos 70, cerca de 35% da população vivia em cidades, hoje já ultrapassou os 50%. Isto cria de facto uma urgência maior nas cidades para a resolução desses problemas. E como? Não tenho dúvida que é nestas áreas que nós conseguimos mais rapidamente testar soluções que possam ter um impacto muito grande e escalá-las para para outros mercados, para outras cidades ou áreas menos urbanas“, continuou.
A economia circular como solução?
“Existem agendas regionais para a economia circular que identificam onde é que estão os pontos de ação em cada uma das regiões e isso permite criar um ecossistema que impulsiona a ação dentro daquelas localidades, tendo em conta as suas características específicas. Também existe uma rede nacional de cidades circulares, e algumas das cidades pertencentes a ela são europeias, como Guimarães e o Porto. Nesta solução desenvolve-se uma coordenação de uma rede de conhecimento entre grupos de cidades em torno de um tópico, como mobilidade, água, edifícios, resíduos de construção e demolição, e cria-se ali uma partilha de conhecimento entre essas cidades para aplicar as boas práticas de umas para as outras“, explicou Inês Costa.
Este projeto, coordenado pela Direção-Geral do Território, está agora numa segunda fase devido à grande adesão dos municípios. Por essa razão, a Associate Partner da Deloitte não tem dúvidas que os desafios não estão relacionados com a falta de vontade de os municípios agirem: “Pelo contrário, eles percebem a utilidade e o quão valioso é terem essa informação para depois poderem coordenar melhor as políticas públicas municipais. Mais do que tudo, os municípios sentem falta de apoio técnico para poderem levar a cabo estes projetos“.

Este apoio pode ser prestado de diferentes, mas Ricardo Morgado garantiu que este terá de ter a “circularidade como ponto focal da construção de toda uma série de políticas públicas”. O Co-fundador e CSO da LoopOS disse, ainda: “Esta pressão veio, sobretudo, do consumidor, que estava cada vez mais disposto a partilhar, a reutilizar, a revender, a reparar”.
Nesse seguimento, e tentando responder às necessidades dos consumidores, a LoopOS, que já trabalha em temas de economia circular há oito anos, lançou a Book in Loop, uma plataforma de partilha de manuais escolares, na altura em que os livros escolares ainda não tinham o apoio de financiamento por parte do Estado. “Nós conseguimos criar um sistema que permitia grandes poupanças e facilidade no acesso à reutilização. Temos acompanhado de perto a evolução deste mercado e desenvolvemos o LoopOS, um ERP que permite a grandes empresas e infraestruturas implementarem e gerirem modelos circulares. Empresas como Fnac, Sonae, Fidelidade e Decathlon utilizam o LoopOS para gerir diversos tipos de canais circulares. O LoopOS responde à necessidade crescente de digitalização e automação, materializando práticas e modelos de economia circular operacionais e escaláveis”.
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Podcast InGov: ESG/Sustentabilidade das cidades -
Ricardo Morgado, Co-fundador e CSO da LoopOS e especialista em Economia Circular -
Inês Costa, Associate Partner da Deloitte para Consultoria em Sustentabilidade -
Podcast InGov: ESG/Sustentabilidade das cidades
As ferramentas digitais também foram mencionadas por Inês Costa, que destacou a importância da tecnologia para se desenvolver planeamentos de risco para as regiões. “Servem para perceber exatamente onde estão os pontos fortes e os pontos fracos, que medidas se têm prever e planear fazê-las e implementá-las. Por exemplo, os gémeos digitais também podem ser feitos para um ambiente de cidade. Pode ser criado um gémeo digital de uma cidade onde se sumarizam determinados tipo de impactos, sejam ondas de calor, sejam cheias, etc. E isso permite-nos perceber, do ponto de vista de infraestrutura, onde é que estão as fragilidades. E permite outra coisa muito importante: testar as soluções“, concluiu.
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