BCE vai cortar juros pela sétima vez seguida antes de pausar para respirar em julho

A travagem da inflação e a resiliência da economia justificam um novo corte de 25 pontos base nas taxas de juro, mas a incerteza sobre as tarifas deverá levar o banco central a abrandar o ritmo.

O sétimo corte seguido nas taxas de juro pelo Banco Central Europeu (BCE) — e oitavo num ciclo começado há um ano — já era dado como certo por economistas e investidores, mas a revelação esta semana de que a taxa de inflação homóloga da Zona Euro caiu para 1,9% em maio, abaixo da meta de 2% do banco central, removeu qualquer resquício de dúvida.

Apesar desta certeza, a conferência de imprensa após a reunião do Conselho do BCE esta quinta-feira não está isenta de temas de interesse, até porque não faltam incertezas por esta altura sobre as perspetivas económicas no turbilhão das tarifas de Donald Trump, o rumo da política monetária nos próximos meses e uma eventual saída antecipada da presidente Christine Lagarde.

“Consideramos que um corte de 25 pontos base na reunião do BCE desta semana está efetivamente garantido“, referiu Matthew Ryan, head of market strategy na Ebury, uma plataforma de sistemas de pagamento e gestão de risco cambial.

A visão de um corte é generalizada. Numa sondagem da Reuters, a opinião foi unânime, com os 81 economistas consultados a preverem uma descida da taxa da facilidade permanente de depósito para 2%.

powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico

Futuro menos certo

O caminho para as taxas depois disso é menos claro“, alertou Matthew Ryan. “A julgar pelas comunicações recentes dos membros do Conselho, nomeadamente do economista-chefe Philip Lane, uma pausa na reunião seguinte, em julho, parece altamente provável, especialmente tendo em conta a opinião de que já podemos estar no nível neutro de taxas a longo prazo, ou próximo dele”, adiantou, descrevendo a reunião de setembro como “viva” embora muito dependente dos dados que entretanto serão divulgados.

A Ebury vê o BCE a executar dois cortes este ano, incluindo o de quinta-feira, levando a taxa de depósitos para 1,75% até dezembro. No entanto, a incerteza sobre as negociações entre a União Europeia e aos EUA relativamente à proposta americana de tarifas de 50% divide as opiniões dos economistas sobre o rumo da política monetária. Na sondagem da Reuters, 71% dos economistas sinalizaram que o BCE deverá fazer uma pausa nos cortes em julho, mas o inquérito não produziu um resultado claro, ou seja uma maioria de respostas, sobre o timing da próxima descida

Para Bas van Geffen, senior macro strategist no neerlandês Rabobank, o BCE deverá deixar as opções em aberto. “Continuamos a acreditar que esta poderá ser a última redução das taxas, mas os riscos continuam a apontar para uma redução adicional“, explicou. “Se isso se concretizar, acreditamos que setembro é uma data mais provável do que julho”.

Bas van Geffen sublinhou ainda que, no contexto atual, não exclui outra redução das taxas em julho. “No entanto, acreditamos que isso exigiria a materialização de um risco de evento grave, como o fracasso das negociações comerciais entre os EUA e a UE”, sublinhou. “Se as negociações não avançarem e Trump decidir impor uma tarifa de 50%, como ameaçou, isso seria um grande choque para a economia da Zona Euro, justificando uma intervenção do BCE”, diz.

O responsável do Rabobank salienta que o staff do BCE vai apresentar novas projeções económicas, recordando que as anteriores foram divulgadas em março, ou seja, antes do anúncio das tarifas do Dia da Libertação de Trump e aos desenvolvimentos subsequentes que ocorreram. “Portanto, uma revisão em baixa das projeções de crescimento não deve ser uma surpresa, especialmente para este ano e o próximo”, antevê.

Rumores sobre saída antecipada

Matthew Ryan vincou que a inflação na Zona Euro continua contida e apenas ligeiramente acima da meta de 2% (2,2% em abril). Entretanto, e já após a divulgação da nota da Ebury, o Eurostat informou esta terça-feira que a inflação homóloga desceu 0,3 pontos percentuais para 1,9% em maio face a abril, ficando abaixo da projeção compilada pela Bloomberg que apontava para 2,1%, além de ter ficado abaixo da meta de 2% fixada pelo BCE.

A inflação subjacente — que exclui energia e alimentos não transformados — terá desacelerado três décimas, para os 2,4%.

As pressões inflacionárias “também diminuíram desde o Dia da Libertação, principalmente devido à queda dos preços globais do petróleo (o Brent crude caiu 15% desde 2 de abril) e à valorização do euro (a taxa de câmbio ponderada do euro subiu quase 3%)”, explicou Matthew Ryan.

As pressões salariais também diminuíram, o que deverá reforçar ainda mais
a confiança na consecução da meta de inflação de 2%, com o crescimento salarial negociado a cair para um mínimo de três anos, 2,4% no primeiro trimestre (de 4,1%), adiantou.

O analista da Ebury acredita que apesar destes desenvolvimentos positivos é provável que, “em linha com o seu costume recente, pensamos que Lagarde manterá as suas cartas na manga, com o banco a aguardar os próximos dados e desenvolvimentos comerciais antes de decidir o próximo passo”.

Matthew Ryan acredita que a presidente do BCE poderá ser questionada na conferência de imprensa sobre relatos de que estaria a preparar-se para assumir a liderança do Fórum Económico Mundial (FEM). Christine Lagarde terá discutido sair do BCE antes do fim do mandato, que termina em 2027.

Segundo o fundador da organização, que foi afastado dos comandos do FEM após denúncias anónimas sobre conduta irregular, a transição entre cargos foi discutida com a própria Lagarde num encontro em abril em Frankfurt. “Mas essa especulação provavelmente será refutada”, concluiu Ryan.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

BCE vai cortar juros pela sétima vez seguida antes de pausar para respirar em julho

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião