Banco de Portugal revê em forte baixa crescimento do PIB para 1,6% este ano
O Banco de Portugal reviu em baixa em 0,7 pontos percentuais o crescimento do PIB para este ano e antecipa um agravamento de 0,3 pontos percentuais do défice orçamental para 2026 para 1,3% do PIB.
O Banco de Portugal cortou em 0,7 pontos percentuais as suas previsões para o crescimento do PIB este ano, antecipando agora uma expansão de apenas 1,6% da economia nacional para 2025, que contrasta com um crescimento de 2,3% projetados em março.
A instituição liderada por Mário Centeno justifica esta deterioração das perspetivas com a contração económica não antecipada no primeiro trimestre e o aumento da incerteza no panorama internacional. “A contração da atividade no primeiro trimestre do ano não foi antecipada, explicando em larga medida a revisão em baixa do crescimento do PIB em 2025 face ao Boletim anterior”, sublinha o Boletim Económico de junho, divulgado esta sexta-feira.
A economia portuguesa registou uma contração em cadeia de 0,5% nos três primeiros meses do ano, após ter registado um crescimento de 1,4% no último trimestre de 2024.
Este cenário mais pessimista coloca Portugal numa trajetória de crescimento mais moderada do que inicialmente esperado, embora o banco central mantenha a perspetiva de uma recuperação gradual nos próximos anos, com o PIB a acelerar para 2,2% em 2026 (face aos 2,1% previstos em março) antes de abrandar novamente para 1,7% em 2027 (o mesmo nível de crescimento projetado em março).

O Banco de Portugal mantém as anteriores projeções que apontavam para uma deterioração das contas públicas, prevendo que Portugal regresse a uma situação deficitária já este ano. Após o excedente orçamental de 0,7% do PIB registado em 2024, as projeções apontam para um défice de 0,1% do PIB em 2025, que se agravará para 1,3% em 2026 antes de melhorar ligeiramente para 0,9% em 2027.
“O saldo orçamental deverá piorar nos próximos anos, regressando a uma situação deficitária”, alerta o documento, que atribui esta evolução à “orientação expansionista da política orçamental verificada em 2024” que “prolonga-se em 2025 e 2026, revertendo apenas parcialmente em 2027”.
Recorde-se que, no Boletim Económico de dezembro, o Banco de Portugal já antecipava um défice orçamental de 0,1% do PIB este ano, mas para 2027 o défice era de “apenas” 1% do PIB (menos 0,3 pontos percentuais do que agora é projetado), e de 0,9% do PIB em 2027.
A redução da inflação deverá consolidar-se no horizonte de projeção [até 2027] (e) deverá apresentar alguma volatilidade ao longo do ano, em resultado de efeitos de base associados aos preços dos bens energéticos e ligados ao turismo.
Os economistas do Banco de Portugal referem que “a orientação expansionista da política orçamental verificada em 2024 prolonga-se em 2025 e 2026, revertendo apenas parcialmente em 2027”, com o documento a destacar o impacto de várias medidas de política fiscal, incluindo “a nova formulação do IRS Jovem, a redução da taxa de IRC, o aumento extraordinário das pensões, as revisões de algumas carreiras e as novas regras de progressão dos funcionários públicos”.
Apesar da deterioração das contas públicas, o Banco de Portugal mantém a perspetiva de uma redução contínua do peso da dívida pública na economia. O rácio deverá diminuir de 94,9% do PIB em 2024 para 91,1% este ano, 88,4% em 2026 e 85,8% em 2027.
“O rácio da dívida pública continua a diminuir ao longo do horizonte da projeção”, confirma o documento, embora a um ritmo mais lento do que no triénio anterior. Esta evolução “beneficia de um efeito denominador significativo e de saldos primários excedentários, em contraste com o maior impacto da despesa com juros”.

Taxa de desemprego mantém-se estável
Numa nota mais positiva, o Banco de Portugal mantém as suas previsões para o mercado de trabalho, antecipando que a taxa de desemprego se mantenha estável nos 6,4% ao longo de todo o horizonte de projeção até 2027. Esta estabilidade reflete “a robustez do mercado de trabalho” português, mesmo num contexto de abrandamento económico.
O emprego deverá continuar a crescer, mas a um ritmo mais moderado: 1,4% em 2025, 0,7% em 2026 e 0,5% em 2027. “O crescimento do emprego nos anos recentes beneficiou do afluxo de mão-de-obra estrangeira”, nota o documento, sublinhando que “entre 2019 e 2024, o número de trabalhadores por conta de outrem registados na Segurança Social aumentou 14,8%, com um contributo de 12,1 pontos percentuais dos trabalhadores estrangeiros”.
No capítulo da inflação, as perspetivas são mais favoráveis, com o Banco de Portugal a antecipar uma consolidação da redução dos preços. A inflação deverá situar-se em 1,9% este ano, descendo para 1,8% em 2026 e voltando a subir ligeiramente para 1,9% em 2027.
“A redução da inflação deverá consolidar-se no horizonte de projeção [até 2027]”, refere o boletim, acrescentando que a inflação “deverá apresentar alguma volatilidade ao longo do ano, em resultado de efeitos de base associados aos preços dos bens energéticos e ligados ao turismo”.
Os técnicos do Banco de Portugal sublinham ainda que “este resultado reflete a evolução moderada dos preços de importação e a diminuição gradual das pressões internas com origem nos custos laborais.”
A manutenção dos equilíbrios macroeconómicos da economia portuguesa é uma condição necessária para enfrentar um enquadramento internacional desfavorável [sendo] fundamental conter a deterioração orçamental, assegurando a sustentabilidade das finanças públicas.
O banco central alerta ainda que “os riscos em torno das projeções são significativos, sendo predominantemente negativos para o crescimento da atividade”. Entre os principais fatores de risco destacam-se as tensões comerciais internacionais, a incerteza política e “as dificuldades em executar integralmente os fundos europeus”.
“As tensões comerciais e a maior incerteza limitam a atividade económica, mas os efeitos do alívio das condições financeiras, das maiores entradas de fundos da União Europeia e da robustez do mercado de trabalho dominam em 2026”, sublinha o Boletim Económico.
A instituição conclui com um apelo à prudência, referindo que “a manutenção dos equilíbrios macroeconómicos da economia portuguesa é uma condição necessária para enfrentar um enquadramento internacional desfavorável”, alertando que “é fundamental conter a deterioração orçamental, assegurando a sustentabilidade das finanças públicas”.
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