Centeno alerta para primeiros sinais de risco no mercado de trabalho
Governador do Banco de Portugal destaca que há seis meses consecutivos que se assiste à destruição líquida de postos de trabalho, o que não acontecia desde o primeiro trimestre de 2013.
O mercado de trabalho, que tem sustentado o crescimento da economia, começa a dar sinais de que está a perder fulgor, com a destruição líquida de postos de trabalho e taxas de contratação mais baixas. O alerta é do governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, que esta sexta-feira assinalou que alterações nestas dinâmicas tendem a ser abruptas.
“Temos seis meses consecutivos de destruição líquida de postos de trabalho, não de emprego, mas de postos de trabalho. A última vez que isto aconteceu foi no primeiro trimestre de 2013, é daqueles alertas que cabem ao BdP fazer em áreas sensíveis”, avisou Mário Centeno na conferência de imprensa do “Boletim Económico” de junho, no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
Para o responsável do banco central, cujo mandato se aproxima do fim, o risco que as economias enfrentam vem do mercado de trabalho, onde “as mudanças tendem a ser abruptas, mesmo quando não são de grande dimensão.”
“São rápidas e começam com variações nas taxas de contratações e na taxa de destruição de emprego, uma tendência nos últimos meses. Boa parte da saúde da economia portuguesa e da área do euro sustenta-se no mercado do trabalho e a complacência é algo que devemos evitar em política económica“, afirmou.
No “Boletim Económico”, o supervisor bancário projeta um abrandamento do emprego e dos salários, mas com uma taxa de desemprego em valores baixos. “No início de 2025, o emprego continuou a aumentar, encontrando-se em máximos. O emprego deverá crescer 1,4% em 2025, 0,7% em 2026 e 0,5% em 2027 — refletindo aumentos mais contidos da população em idade ativa e da taxa de atividade face ao passado recente — e a taxa de desemprego estabilizará em 6,4%”, refere o documento.
“O rendimento disponível real das famílias portuguesas tem aumentado sistematicamente ao longo dos últimos anos. Há uma desaceleração deste crescimento nesta previsão. O que significa que não podemos dar nada por adquirido. Devemos questionar, mas devemos saber onde temos os pés assentes”, argumentou Mário Centeno.
No “Boletim Económico”, o Banco de Portugal dá também nota de que “o crescimento do emprego nos anos recentes beneficiou do afluxo de mão de obra estrangeira“.
Segundo o Banco de Portugal, o aumento do emprego por conta de outrem desde a pandemia resultou de um padrão setorial distinto face ao observado entre 2014 e 2019, estando agora associado a um maior contributo relativo dos setores com remunerações superiores à média da economia. “Estes setores representaram 41% do aumento do emprego, o que compara com 27% no período pré-pandemia”, aponta.
Risco do não cumprimento das regras orçamentais
Mário Centeno alertou ainda que “há o risco de incumprimento das regras europeias no horizonte”, com a despesa líquida a subir 5,4% em 2025 após ter crescido uns “enormes” 11,7% em 2024. Embora admita que tudo depende da execução orçamental, os dados disponíveis até à data apontam para uma “divergência ao longo dos anos face aos objetivos que estão estabelecidos e assumidos com a Comissão Europeia”.
O governador assinalou também que a política orçamental tem sido expansionista, o que gera “preocupação”, sobretudo por os excedentes orçamentais do país resultarem do saldo positivo na Segurança Social, necessário para pagar responsabilidades futuras que estão a ser assumidas hoje.
Mário Centeno destacou ainda que até para cumprir a previsão de crescimento de 1,6% da instituição são necessários crescimentos em cadeia “bastante fortes no resto do ano”, após uma contração de 0,5% no primeiro trimestre.
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