Rangel prefere “contas justas” em vez de “contas certas” à António Costa
Ministro dos Negócios Estrangeiro cunhou o novo termo face às dificuldades externas, mas criticou a "maneira enviesada" como governos anteriores do PS defenderam o equilíbrio das finanças públicas.
Em vez de “contas certas”, expressão cunhada pelos governos socialistas de António Costa ou Fernando Medina, o Governo prefere agora defender “contas justas” face às “dificuldades na frente externa”. O termo foi usado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, esta quarta-feira, no encerramento do debate do programa do Executivo, no Parlamento.
“Não vamos chamar-lhe, à maneira enviesada dos nossos antecessores, contas certas. Vamos chamar-lhes contas justas! Porque elas são certas, mas não são cegas”, justificou, dirigindo-se ao candidato único à liderança do PS, José Luís Carneiro.
Para Rangel, as contas são “justas”, porque “estão de olhos abertos para as necessidades concretas das pessoas e do Estado social”. Resta saber se em vista não estará uma eventual derrapagem orçamental. Apesar de o Governo manter o cenário de excedente de 0,3% do PIB para este ano, o Banco de Portugal já antecipa um défice de 0,1% e o Conselho das Finanças Públicas (CFP) projeta um saldo nulo (0,0% do PIB). Para 2026, as previsões são mais pessimistas. Para o próximo ano, o regulador da banca espera agora um défice de 1,3% e o CFP um saldo negativo de 1%, mas o Executivo antecipa ainda um excedente de 0,1% do PIB.
O super-ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, já tinha chamado a atenção para as dificuldades que se avizinham. “A economia é feita de ciclos e o ciclo que estamos a viver não é particularmente esperançoso à escala global. Portugal não ficará imune às consequências das guerras nem aos sobressaltos do regime tarifário americano”, admitiu esta terça-feira, durante o debate do programa do Executivo, na Assembleia da República.
Não vamos chamar-lhe, à maneira enviesada dos nossos antecessores, contas certas. Vamos chamar-lhes contas justas! Porque elas são certas, mas não são cegas.
Paulo Rangel também reconheceu os sinais negativos. “É por sabermos que há sérias dificuldades e incertezas na frente externa, que temos de reforçar e redobrar o nosso esforço e nosso empenho na frente interna”. Mas mantém-se otimista. “O Governo demonstrou que é possível ter boas contas sem descuidar e destruir o Estado social, na saúde, educação, justiça e na Segurança Social. É possível, é viável, valorizar os profissionais dos serviços públicos e manter boas contas”, defendeu. E insistiu: “As nossas contas são certas, mas não são certas, são muito mais do que certas, são justas”.
De resto, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, já tinha afastado a necessidade de um Orçamento retificativo face ao conjunto de medidas que quer tomar já este ano, desde logo a redução do IRS em 500 milhões de euros.
Na sua intervenção, o número dois de Luís Montenegro no elenco governativo defendeu ainda o ímpeto reformista do Estado. “Em vez de um Estado flácido e gordo, queremos um Estado forte e elegante, atlético”. E pediu maior responsabilidade a Chega e PS nas condições de governabilidade.
A encerrar o debate do programa do Governo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, começou por usar a alegoria do apagão elétrico para fazer uma comparação com o “apagão político” provocado pelo chumbo da moção de confiança ao primeiro Executivo de Luís Montenegro. Mas as eleições legislativas de 18 de maio foram um “reset” que deram uma “maioria maior”, mas são necessárias pontes com outros partidos da oposição para dar condições de governabilidade.
“Vimos, ouvimos e sentimos no Chega, no PS, na IL, no PAN e no JPP, quiçá até levemente no Livre, uma disponibilidade para cooperarem na construção da estabilidade e no desenvolvimento de políticas da agenda transformadora”, indicou.
No entanto, exigiu mais dos “dois maiores partidos da oposição”, Chega e PS, sem distinção entre quem ficou em segundo ou terceiro lugar nas legislativas. “Ninguém compreenderá que a disposição de abertura dos dois maiores partidos da oposição desague ou venha a desaguar num comportamento irresponsável de votos pios ou votos vazios”, sublinhou. E, concluiu que, na atual reconfiguração do sistema partidária, “a AD é o movimento político do meio e esse é um dado incontornável”.
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