Ormuz, o Estreito pelo qual Portugal lutou, está no centro das atenções dos mercados

O Estreito que vê passar 20% do petróleo mundial, e que o Irão poderá bloquear, foi no século XVI conquistado por Portugal por razão semelhante - como rota comercial (no caso, de especiarias).

Foi longa e complexa a relação de Portugal com Ormuz, desde a invasão inicial (falhada) liderada por Afonso de Albuquerque em 1507, passando pela tomada da cidade em 1515 até à queda frente aos persas (aliados aos nossos supostos aliados ingleses) em 1622. Mas o objetivo foi sempre claro, controlar o estreito que partilha o nome com a cidade, para dessa forma controlar um crucial ponto de passagem do comércio entre a Índia e a Europa através do Golfo Pérsico.

Se há 518 anos era o transporte das valiosas especiarias e outros produtos exóticos da Índia que motivava guerras entre portugueses e otomanos, hoje é o petróleo do Golfo Pérsico que torna o Estreito de Ormuz num local crucial na escalada de mais uma guerra no Médio Oriente. A 13 de junho, Israel iniciou bombardeamentos de vários locais do programa nuclear iraniano, este sábado à noite os EUA juntaram-se, também bombardeando o mesmo tipo de alvo.

O Irão retaliou esta segunda-feira, disparando mísseis para a base militar de Al Udeid, sede regional do comando central dos EUA, onde trabalham cerca de 9.000 cidadãos norte-americanos. Nos mercados, os preços do Brent afundaram quase 7%. Reação inesperada para uma escalada de conflito? Sim, mas com uma nuance. O alívio nos mercados, que poderá ser temporário, veio da ideia que a retaliação do Irão vai cingir-se a alvos militares e não ao bloqueio do Estreito de Ormuz.

Mesmo que haja margem para que alguns fluxos sejam desviados, um bloqueio efetivo do Estreito de Ormuz levaria a uma mudança dramática nas perspetivas para o petróleo, empurrando o mercado para um profundo défice.

Analistas do ING

Nota de research de 23 de junho de 2025

A primeira reação do Irão aos ataques norte-americanos foi a aprovação pelo parlamento do bloqueio do estreito que separa o Golfo Pérsico do Golfo do Omã e o resto do mundo. A decisão carece ainda do aval do Conselho Supremo de Segurança Nacional. Não é certo que Teerão quererá mesmo seguir este caminho, mas a mera opção está a provocar nervosismo nos mercados.

Porquê? Com 33 quilómetros de largura no ponto mais estreito, uma rota marítima de apenas 3 quilómetros de largura em cada direção, o estreito é vulnerável a ataques. E estes teriam certamente impacto no mercado petrolífero e na economia global, pois cerca de um quinto do consumo total de petróleo do mundo passa pelo estreito.

Desde o início de 2022 e o mês passado, entre 17,8 milhões e 20,8 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis passaram pelo estreito diariamente, segundo dados da empresa de análise Vortexa.

“Sensibilidade particular”

“Pode haver uma sensibilidade particular nos mercados de energia se o acesso ao Estreito de Ormuz for interrompido, dada a sua importância como rota de transporte de petróleo”, alertaram os analistas do LLoyds Bank, numa nota.

Segundo a Reuters, pelo menos dois superpetroleiros fizeram inversões de marcha perto do Estreito de Ormuz após os ataques militares dos EUA ao Irão, de acordo com dados de rastreamento de navios, já que mais de uma semana de violência na região levou as embarcações a acelerar, pausar ou alterar as suas rotas.

O bloqueio, que o Irão poderia executar com a colocação de minas ou ataques ou captura de navios no Golfo, um método que já utilizou em várias ocasiões no passado, poderá obrigar a desvios de rotas, mas não sem consequências. “Mesmo que haja margem para que alguns fluxos sejam desviados, um bloqueio efetivo do Estreito de Ormuz levaria a uma mudança dramática nas perspetivas para o petróleo, empurrando o mercado para um profundo défice”, referiram os analistas do banco de investimento neerlandês ING.

Além disso, “a capacidade de produção excedente da OPEP não ajudaria nesta situação, uma vez que a maior parte dela se encontra no Golfo Pérsico, portanto, esses fluxos também teriam de passar pelo Estreito de Ormuz”, destacam ainda os analistas do ING, notando também que que embora os preços mais altos do petróleo levem a um aumento na atividade de perfuração nos EUA, levará tempo para que esse fornecimento adicional chegue ao mercado. “E os volumes não serão suficientes para compensar as perdas no Estreito de Ormuz”.

Em caso de bloqueio bem-sucedido, esperaríamos ver o Brent sendo negociado a até 120 dólares no curto prazo“, uma previsão que compara com os atuais 70,47 dólares. “Uma interrupção prolongada (até ao final de 2025) levaria, provavelmente, os preços a serem negociados acima de 150 dólares, atingindo novos recordes”, concluíram.

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