Blackrock aposta em Portugal com otimismo renovado
A maior gestora de ativos do mundo reforça a confiança em Portugal, destacando o equilíbrio entre a estabilidade económica e o potencial de crescimento, com a capacidade de atração de investimento.
Os choques da política de Washington na economia mundial e a incerteza criada pelas várias tensões geopolíticas no Médio Oriente e na Europa parecem ter virado o mundo do avesso. Contudo, para a Blackrock, “esta é apenas a evolução de um novo regime de transformação que já dura há vários anos”.
A maior gestora de ativos do mundo apresentou esta quinta-feira aos jornalistas o seu “Mid-Year Outlook” e, longe de se retrair, reforça a convicção de que “os resultados de curto prazo são mais claros do que os de longo prazo – uma inversão da lógica habitual de investimento – pelo que atribuímos maior peso às visões táticas”.
A Blackrock tem um stock de investimentos em Portugal entre 5 mil milhões e 6 mil milhões de euros. Apesar de significativo, é muito inferior aos cerca de 80 mil milhões de euros que tem em Espanha.
De acordo com o relatório “Controlando a incerteza”, a visão de investimento da gestora para os próximos seis meses assenta “numa forte componente de risco”, com os analistas da Blackrock a apostarem num ambiente “excecional para gerar alfa [valor acrescentado]”. É nesse sentido que a gestora norte-americana mantém a convicção de que os mercados periféricos europeus – em que Portugal se destaca – oferecem oportunidades sólidas num contexto de volatilidade acrescida.
“Na Europa gostamos particularmente dos países periféricos. O que significa que estamos otimistas também para Portugal”, destacou esta quarta-feira André Themudo, responsável da Blackrock para Portugal e Espanha. Esta confiança assenta numa análise estrutural que vai além dos números conjunturais, e que aporta em grande medida para o setor das infraestruturas, área em que a gestora norte-americana antevê um forte crescimento nos próximos anos.
“Portugal surge como um contribuidor forte no contexto europeu”, beneficiando de uma “sólida procura doméstica” e atravessando “um bom momento de captação de investimento”, destacou o responsável aos jornalistas. A inflação controlada na economia nacional é um dos pilares desta visão otimista. Com uma expectativa de 2,2% para este ano, Portugal consegue manter “um crescimento real dos salários relativamente controlado” que “estimula o crescimento do consumo”.
Esta estabilidade macroeconómica é reforçada pela “baixa exposição do país às tarifas comerciais norte-americanas”, criando aquilo que André Themudo descreve como “um excelente mix entre estabilidade e potencial económico”.
Entre os setores que merecem mais atenção no quadro nacional estão o setor industrial e o setor financeiro, e ainda o setor das infraestruturas, área em que a Blackrock tem feito vários investimentos no mercado nacional através da aposta em parques de energia renovável por via dos seus fundos de infraestrutura e energia renovável Renewable Income Europe e Global Renewable Power III/IV), como é o caso do invesitmento na Central Solar da Glória, o primeiro PPA solar merchant de longo prazo em Portugal, construída com capital do fundo Renewable Income Europe.
Recorde-se que através dos seus muitos fundos de investimento, a Blackrock é um dos principais investidores da bolsa portuguesa, contando com várias posições nas maiores cotadas, como é disso exemplo as posições de 6,85% na EDP e de 3% na EDP Renováveis, que se traduzem numa posição de investimento superior a 1.400 milhões de euros.
Com base nestas e noutras participações, André Themudo revela que a Blackrock tem um stock de investimentos em Portugal entre 5 mil milhões e 6 mil milhões de euros. Apesar de significativo, é muito inferior aos cerca de 80 mil milhões de euros que tem em Espanha.
Perspetivas para lá de Portugal
A confiança em Portugal insere-se numa estratégia europeia mais abrangente, com a Blackrock a apontar oportunidades de investimento em setores como a defesa, onde a Europa detém “empresas líderes mundiais”; semicondutores, com “a Europa a apresentar empresas competitivas”; e no setor industrial, com a Europa a apresentar também “excelentes empresas, muito ligadas à Alemanha”, destaca André Themudo.
O setor das utilities também merece destaque pela gestora como mais um setor com capacidade para captar boas oportunidades no segundo semestre no Velho Continente, beneficiando da crescente procura energética ligada à inteligência artificial.
Apesar da queda de 12% do dólar este ano face ao euro, e de a moeda norte-americana estar a negociar em mínimos de 2021, a Blackrock descarta com completo o fim da hegemonia da moeda verde.
A sustentar o otimismo da gestora na Europa está também a previsão e mais um corte das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE) até ao final do ano, com André Themudo a salientar que o BCE revela-se atualmente num player mais previsível do que a Fed, que desde o arranque do ano não fez qualquer corte das Fed Funds, sendo que os mercados antevêm dois cortes até ao final do ano – que compara com a previsão da Blackrock de apenas um corte.
No entanto, a maior gestora de ativos do mundo descarta por completo a ideia que se tem propagado de o Euro poder vir a tornar-se na moeda de referência mundial. No outlook para os próximos seis meses, a Blackrock refere que apesar da queda de 12% do dólar este ano e de a moeda norte-americana estar a negociar em mínimos de 2021, está completamente descartado o fim da hegemonia da moeda verde.
“Vai continuar a ser a moeda dominante do mundo”, refere André Themudo, sublinhando que continuará a haver uma “predominância do dólar”, apesar da Blackrock antever que o dólar possa continuar a cair mais um pouco este ano, mas que esse quadro de domínio perante as outras moedas “não irá mudar nem vai acontecer”. O responsável da gestora para a Ibéria destaca, por exemplo, que mais de 90% das transações cambiais e que cerca de dois terços dos títulos de dívida global envolvem a negociação através do dólar.
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