Portugal lidera subida de preços da habitação na Europa com escalada de 16,3% no primeiro trimestre
Portugal volta a destacar-se na Europa, com os preços das casas e das rendas a subirem muito mais que a média da Zona Euro, expondo ainda mais uma crise na habitação que dura há pelo menos 15 anos.
Portugal registou no primeiro trimestre o maior aumento dos preços das casas em toda a União Europeia, com uma escalada homóloga de 16,3%, quase o triplo do crescimento médio dos preços na Zona Euro (5,4%), segundo dados divulgados esta sexta-feira pelo Eurostat.
Simultaneamente, as rendas das casas dispararam 5,95% no mesmo período, colocando Portugal no quarto lugar europeu em termos de aumentos, apenas atrás da Eslováquia, Estónia e Letónia. Este ritmo de crescimento das rendas foi mais do dobro da média da Zona Euro (2,92%) e superior à média da União Europeia (3,16%).
A subida vertiginosa dos preços das casas nos primeiros três meses do ano coincidiu com a entrada em vigor da garantia pública para jovens comprarem a primeira casa, mas os dados do gabinete de estatísticas da União Europeia mostram que a pressão sobre o mercado habitacional já se faz sentir há pelo menos 15 anos, tendo-se intensificado significativamente nos últimos dez anos.
Considerando apenas os dados do último quinquénio, no período entre 2020 e o primeiro trimestre de 2025, a pressão sobre os preços é ainda mais avassaladora, com os preços das casas a aumentarem a um ritmo médio anual de 11,7%, cerca de 2,6 vezes mais que o aumento de 4,4% registado na Zona Euro.
Entre 2010 e o primeiro trimestre deste ano, por exemplo, os preços das casas aumentaram a um ritmo anual médio de 6,02%, mais do dobro que o aumento anual médio de 2,77% das rendas, segundo dados do Eurostat. Na Zona Euro, neste mesmo período, os preços das casas escalaram a um ritmo médio de 2,84% e as rendas 1,62%.
Porém, a pressão sobre os preços dos imóveis e das rendas é ainda mais significativo nos últimos 10 e 5 anos. Segundo cálculos do ECO com base nos dados do Eurostat, o preço das casas em Portugal aumentou, em média, 10,27% ao ano entre 2015 e o primeiro trimestre deste ano, cerca de 2,3 vezes mais que o aumento de 4,51% registado entre os 20 países da área do euro. Entre os países da Zona Euro, apenas a Lituânia bateu (ligeiramente) Portugal, com os preços das casas a subirem, em média, 10,3% por ano.
A mesma tendência de subida é observada no mercado de arrendamento, com as rendas em Portugal a crescerem a um ritmo médio anual de 3,2% na última década, quase o dobro do aumento de 1,76% registado na Zona Euro. Considerando apenas os dados do último quinquénio, no período entre 2020 e o primeiro trimestre de 2025, a pressão sobre os preços é ainda mais avassaladora, com os preços das casas a aumentarem a um ritmo médio anual de 11,7%, cerca de 2,6 vezes mais que o aumento de 4,4% registado na Zona Euro.
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Uma crise histórica e estrutural
A crise na habitação tem raízes profundas que remontam há várias décadas, que vai até ao período pós-25 de Abril, quando as condições habitacionais eram muito precárias para a maioria da população. Contudo, é desde a primeira década do século XXI, após a crise financeira de 2008-2010 e a intervenção da troika, que a habitação começa a trilhar um caminho de enorme pressão sobre os preços.
Nessa altura, foram implementas várias medidas que contribuíram para o reaquecimento do mercado imobiliário, incluindo os vistos gold, vantagens fiscais para aposentados estrangeiros e a proliferação de alojamento local. Estas políticas, combinadas com a redução drástica da oferta de habitação para residentes, criaram um desequilíbrio estrutural que se reflete nos dados atuais.
Entre 2010 e 2024, os preços das casas aumentaram 120% em Portugal, mais do dobro da média da União Europeia (55,4%), enquanto as rendas subiram 45%, também significativamente acima da média europeia (26,7%). Estes números colocam Portugal entre os países com maior valorização imobiliária da última década, ao lado da Hungria e dos países bálticos.
Os dados mostram que as várias medidas políticas ainda não conseguiram travar a escalada dos preços na habitação nem reduzir significativamente a pressão financeira sobre o orçamento das famílias.
Mas também colocam Portugal entre os países com maior dificuldade para as famílias terem um teto. Dados do Eurostat mostram que cerca de 8% dos agregados familiares com crianças dedicam mais de 40% do seu rendimento disponível para pagar a casa. Não só esta percentagem está em valores recorde de 2016, como na Zona Euro apenas Grécia, Alemanha e Espanha apresentam uma taxa de sobrecarga do custo da habitação acima de Portugal.
Face à gravidade da situação, os últimos Governos têm implementado algumas medidas para contornar o quadro de crise na habitação, mas sem grande sucesso visível. Uma dessas medidas foi a implementação de uma garantia pública para os jovens até aos 35 anos, que permite financiamento até 100% do valor da casa até 450 mil euros, que entrou em vigor precisamente no período em que se registaram os aumentos recorde dos preços das casas.
Anteriormente, foram lançadas as Novas Políticas de Habitação (NGPH) em 2018, para aumentar o peso da habitação com apoio público de 2% para 5% do parque habitacional total. Contudo, os dados mostram que estas medidas ainda não conseguiram travar a escalada dos preços nem reduzir significativamente a pressão financeira sobre o orçamento das famílias. E os números do primeiro trimestre deste ano confirmam que, apesar destas políticas, a crise habitacional mantém-se como um dos principais desafios socioeconómicos do país.
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