O dia em que a inteligência artificial fez história na bolsa com a Nvidia a ultrapassar 4 biliões de dólares
A Nvidia tornou-se a primeira empresa a ultrapassar 4 biliões em capitalização bolsista, fruto da sua hegemonia em inteligência artificial e de uma valorização de 90% das ações nos últimos três meses.
Num daqueles raros momentos em que a história se escreve em tempo real, a Nvidia ultrapassou esta quarta-feira a barreira dos 4 biliões de dólares em capitalização bolsista, tornando-se na primeira empresa do mundo a alcançar este patamar.
O feito, que coloca o gigante dos semicondutores norte-americano à frente de colossos como a Apple e a Microsoft, representa mais do que um simples marco numérico. É o coroar de décadas de inovação tecnológica e da visão estratégica de Jensen Huang, o CEO e co-fundador de origem taiwanesa que transformou uma empresa de gráficos para videojogos, fundada num restaurante de beira de estrada na Califórnia, na pedra angular da revolução da inteligência artificial (IA), alimentando desde os supercomputadores que treinam modelos de IA até aos data centers que sustentam a próxima vaga de inovação.
A subida meteórica da Nvidia para este patamar histórico não foi linear, sobretudo este ano. Por trás da subida de 2,8% das ações no arranque da sessão desta quarta-feira até aos 164,42 dólares – que colocou a empresa nos 4 biliões de dólares de valor de mercado –, a Nvidia ensaiou uma recuperação impressionante nos últimos três meses, depois de um início de ano atribulado, marcado pelos receios sobre os investimentos em IA provocados pela emergência da DeepSeek chinesa e pelas ameaças tarifárias do Presidente Trump.
Após chegar a acumular perdas de 43% entre 7 de janeiro e 7 de abril (mínimo do ano), os títulos da empresa iniciaram uma recuperação impressionante que se traduz numa valorização de 90% desde os mínimos do ano até esta quarta-feira, numa demonstração da resiliência do seu modelo de negócio e da confiança dos investidores na sua capacidade de liderar a transformação digital global.
powered by Advanced iFrame free. Get the Pro version on CodeCanyon.
Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.
O poder da inovação e da visão de um imigrante que revolucionou o mercado
O sucesso da Nvidia assenta em pilares sólidos que explicam a sua valorização estratosférica no mercado de capitais. A empresa detém entre 70% e 95% do mercado de aceleradores de IA, uma posição dominante sustentada por arquiteturas revolucionárias como a A100, H100 e, mais recentemente, a Blackwell.
Esta hegemonia operacional traduz-se em resultados financeiros sólidos, que se revelam num volume de negócios de 130,5 mil milhões de euros no ano fiscal de 2025 (terminado em janeiro deste ano), mais 114% face ao ano anterior, e num lucro líquido de quase 73 mil milhões de dólares, 145% acima do alcançado no ano anterior, enquanto a margem bruta cresceu 2,3 pontos percentuais até aos 75%.
O segmento de Compute & Networking, que inclui os data centers, foi o grande motor deste crescimento no último ano fiscal, gerando 116,2 mil milhões de dólares em receitas – um aumento de 145% face ao ano anterior. Esta divisão beneficia diretamente da explosão da procura por infraestrutura de IA, com gigantes tecnológicos como Microsoft, Meta, Amazon e Alphabet a projetarem 325 mil milhões de dólares só este ano em investimentos e despesas de capital, impulsionados por uma aposta contínua na construção de infra-estruturas de IA.
Huang conduziu a empresa através de momentos difíceis, incluindo a quase falência na década de 1990, quando a Nvidia despediu mais de metade dos seus funcionários.
E a sustentar todo o universo Nvidia está a trajetória do seu co-fundador, Jensen Huang, que espelha o sonho americano na sua forma mais pura. Nascido em Taipé, Taiwan, em 1963, Huang chegou aos EUA aos nove anos, numa altura em que a família procurava oportunidades longe da instabilidade geopolítica da região asiática.
A sua infância foi marcada por várias adversidades. Foi enviado para uma escola para “crianças difíceis” em Washington, onde uma das suas tarefas era limpar as casas de banho do dormitório. Esta experiência ensinou-lhe a importância do trabalho árduo e da excelência em tudo o que fazia, como o próprio já partilhou por diversas ocasiões.
Posteriormente, Huang formou-se em engenharia elétrica na Oregon State University e completou o mestrado em Stanford. Em 1993, aos 30 anos, fundou a Nvidia juntamente com Chris Malachowsky e Curtis Priem, num restaurante na Califórnia, da convicção de que o processamento gráfico seria uma tecnologia transformadora. Não se enganou muito, mas a Nvidia é hoje uma empresa totalmente diferente face à sua génese.
Huang conduziu a empresa por momentos difíceis, incluindo a quase falência na década de 1990, quando a Nvidia despediu mais de metade dos seus funcionários. A perseverança e a capacidade de adaptação permitiram-lhe transformar a empresa numa potência global, com a invenção do GPU (unidades de processamento gráfico) em 1999 a redefinir não apenas os gráficos de computador, mas também a abrir caminho para a era da IA moderna.

Oportunidades e desafios a caminho dos cinco biliões
Com os olhos no horizonte, o futuro da Nvidia parece promissor, com múltiplas oportunidades de crescimento. A começar, desde logo, pela plataforma Blackwell Ultra, anunciada em março, que promete revolucionar o processamento de IA com 1,5 vezes mais performance AI do que a geração anterior.
O segmento automóvel representa outra fronteira de crescimento, com a empresa a registar 1,7 mil milhões de dólares em receitas no último exercício fiscal (que compara com cerca de mil milhões no ano anterior). O mesmo sucede com a Omniverse, a plataforma de desenvolvimento de mundos virtuais baseada em OpenUSD, que está a expandir-se rapidamente em aplicações de digitalização industrial, robótica e veículos autónomos.
Apesar do sucesso atual, a Nvidia enfrenta também desafios significativos. A dependência da cadeia de fornecimento, particularmente da TSMC em Taiwan, expõe a empresa a riscos geopolíticos. A guerra comercial entre os EUA e a China já custou à empresa cerca de oito mil milhões de dólares em vendas perdidas de GPU H20 ao mercado chinês. As restrições de exportação americanas, incluindo a nova regulamentação “AI Diffusion” que impõe licenciamento mundial para produtos de IA, podem também limitar o crescimento futuro, alertam os analistas que acompanham a empresa.
A transformação da Nvidia de uma empresa de gráficos para videojogos numa potência de 4 biliões de dólares é uma das histórias de sucesso mais notáveis da era digital.
A concorrência está a intensificar-se, com a AMD e Intel a desenvolverem alternativas aos chips da Nvidia. A AMD introduziu o chip Mi300X, enquanto a Intel trabalha nos chips Gaudi Two e Three. Embora estes produtos ainda não igualem a performance dos chips da Nvidia, representam uma ameaça crescente, especialmente em aplicações de inferência onde o custo pode ser mais importante que o desempenho máximo.
A regulamentação governamental representa outro desafio. A investigação sobre se a chinesa DeepSeek contornou os controlos de exportação para obter chips da Nvidia ilustra as complexidades geopolíticas que a empresa enfrenta. O governo americano está a investigar se a empresa chinesa utilizou intermediários em Singapura para adquirir chips H100, numa dinâmica que pode resultar em restrições ainda mais apertadas.
A transformação da Nvidia de uma empresa de gráficos para videojogos numa potência de 4 biliões de dólares é uma das histórias de sucesso mais notáveis da era digital. A visão de Jensen Huang, combinada com a execução estratégica e inovação tecnológica contínua, posicionou a empresa no centro da revolução da inteligência artificial. O futuro determinará se a Nvidia conseguirá sustentar este crescimento meteórico e, talvez, como alguns analistas preveem, inaugurar a era dos 5 biliões de dólares.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
O dia em que a inteligência artificial fez história na bolsa com a Nvidia a ultrapassar 4 biliões de dólares
{{ noCommentsLabel }}