Dez escritores passam em revista a história de Espanha através das suas figuras mais controversas
A jornalista Emilia Landaluce coordena este trabalho coral que aborda, sem preconceitos, a vida de figuras difíceis de classificar do século XX em Espanha.
A livraria madrilena Tipos Infames acolheu a apresentação de “Heterodoxos. Dez personagens incómodas da Espanha do século XX” (Editorial Debate), uma obra coletiva coordenada pela jornalista e colunista Emilia Landaluce.
O evento reuniu a própria autora e as jornalistas Rosa Belmonte e Charo Lagares, autoras de alguns dos perfis incluídos no livro, num debate aberto ao público em que refletiram sobre a relevância de figuras históricas difíceis de classificar e o valor de as revisitar a partir de novas perspetivas.
Através de “Heterodoxos”, Emilia Landaluce propõe uma leitura sem preconceitos de personalidades que causaram incómodo aos seus contemporâneos por não se enquadrarem nas narrativas dominantes do seu tempo. De Julián Besteiro a Mercedes Formica, passando por José Ortega y Gaset, Federica Montseny, Demetrio Carceller Segura e Francisco Cambó, o livro centra-se naqueles que desafiaram rótulos fáceis e cujas trajetórias convidam hoje a uma reflexão mais matizada.
Durante a apresentação, Landaluce afirmou a abordagem invulgar da obra, criada por “dez pessoas atuais que escrevem sobre pessoas que eram incómodas no seu tempo”, e salientou que é precisamente esse incómodo que por vezes dificulta o reconhecimento dessas figuras pela História. Salientou ainda que Heterodoxos é uma obra “sem partidarismo”, motivada pela sua preocupação com a forma como a história é muitas vezes interpretada em Espanha: “Parece que a República chega e destrói tudo o que de bom a monarquia fez, o franquismo chega e destrói tudo o que de bom a República fez…”. Neste sentido, defende a necessidade de reconhecer que “há sempre algo de bom, mesmo no lado oposto”, porque só a partir daí é possível o consenso.
Rosa Belmonte, autora de um dos perfis, salientou que Heterodoxos “reúne uma série de personagens incómodas da história de Espanha, algumas mais conhecidas do que outras. O livro serve para conhecermos melhor aqueles que já conhecemos e, com os que não conhecemos, para os descobrirmos verdadeiramente. No final, o livro serve também para desassociar”.
Por seu lado, Charo Lagares elogiou a ambição de Landaluce de procurar nuances em tempos de pensamento binário. “Esta procura de algo de bom no outro, algo que é muito difícil hoje em dia porque somos rápidos a demonizar aqueles que pensam de forma diferente, pareceu-me muito interessante e intelectualmente honesto”, explicou.
Os perfis reunidos em “Heterodoxos” foram escritos por uma dezena de autores que aceitaram o desafio de retratar, a partir de diferentes disciplinas e experiências de vida, dez personagens da história de Espanha que a passagem do tempo se revelou incapaz de classificar. Para além de Emilia Landaluce, os textos são assinados por Carlos García-Mateo, Javier Pérez Jara, Roberto Villa García, José María Rondón, Charo Lagares, Lino Camprubí, José Albert de Paco, Rosa Belmonte e Arcadi Espada. Com prefácio de Andrés Trapiello, a obra dirige-se – como o próprio Trapiello sublinha – a “pessoas sem preconceitos”, dispostas a deixar-se surpreender por biografias muitas vezes silenciadas ou reduzidas a rótulos que não refletem a sua verdadeira complexidade.
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