Investimento no setor agrícola supera os 4.100 milhões na Península Ibérica
Aproximadamente um terço do investimento em agronegócio na Península Ibérica, nos últimos três anos, foi gerado em Portugal, mostra o estudo da CBRE.
Entre 2022 e 2024, o investimento institucional no setor agrícola ultrapassou os 4.100 milhões de euros, de acordo com o relatório “Agribusiness Iberian Report” divulgado esta segunda-feira pela CBRE.
Na primeira metade do ano, o volume de investimento institucional foi superior a 500 milhões de euros — mais de metade de todo o montante transacionado em 2024 no mercado ibérico (800 milhões de euros), detalha ao ECO Manuel Albuquerque, responsável pelo departamento de agribusiness na CBRE no Sul da Europa (Espanha, Portugal e Itália).
“Estes números evidenciam um setor que é atrativo e que já tem uma certa escala, porque 4 mil milhões transacionados já é um mercado relevante mas, por outro lado, quando olhamos ano a ano, também evidencia que há desafios. Têm que ser abordados e, quando não são bem abordados, podemos ter uma reação menos positiva no mercado, que foi o que aconteceu em 2024″, explica Manuel Albuquerque, referindo-se às consequências das alterações climáticas, a burocracia nos processos agrícolas e as limitações comerciais.

O responsável na CBRE pelo departamento de agribusiness no Sul da Europa acredita que o investimento institucional nos últimos anos “tem sido impulsionado pela perspetiva de rentabilidades sólidas a longo prazo e pela oportunidade de construir portefólios diversificados”, destacando que “a previsão de concretização das operações adiadas no ano passado, aliada ao ajustamento das expectativas de preço entre compradores e vendedores, e a um setor cada vez mais especializado e profissionalizado, continuará a dinamizar o mercado, que conta cada vez com mais intervenientes envolvidos”.
Uma das grandes operações que marcou o arranque de 2025 foi a venda dos ativos do grupo espanhol Agrihold, participado pelas famílias Martinavarro e Ballester, fundadoras da Citri&CO, numa transação de 700 hectares no Alentejo (Herdade da Zambujeira).
Por regiões, o porta-voz da consultora assinala ao ECO que existe um volume de transações muito relevante na região do Alqueva, e em Espanha destaca Andaluzia e a região do Levante. Com atividades mais moderadas em território nacional, destaque para o Ribatejo, Idanha e Algarve e no país vizinho Aragão, Extremadura e Castela-Mancha.
A CBRE, que analisou o perfil dos investidores no setor do agronegócio ibérico entre 2022 e 2024, mapeando mais de 500 intervenientes e o volume transacionado nesse período, adianta que o capital institucional já representa cerca de metade do investimento realizado na região, englobando três perfis principais:
- Fundos especializados em Agribusiness — criados especificamente para investir neste tipo de ativo e com equipas dedicadas —, que representam 25% do capital;
- Fundos generalistas, como private equity ou imobiliários com exposição a vários setores, que somam 14%;
- Family offices, responsáveis por gerir o património de famílias ou de investidores de elevado património líquido, com uma maior preferência por tickets pequenos e médios, que representam 10%.
De acordo com o estudo, os produtores industriais, que representam 51% do capital investido no setor ibérico nos últimos anos, não atuam numa lógica de investimento financeiro, mas sim numa perspetiva operacional. São, na sua maioria, empresas com raízes industriais — muitas vezes privadas ou de cariz familiar — que expandem a sua atividade no agronegócio como parte do seu crescimento estratégico, e não enquanto gestores de capital.
Mais de 40% das transações foram inferiores a dez milhões de euros
Este dinamismo do setor reflete-se também na diversidade das operações realizadas: mais de 40% das transações entre 2022 e 2024 foram inferiores a dez milhões de euros, cerca de 40% situaram-se na faixa entre 10 e 50 milhões de euros, enquanto os investimentos superiores a 50 milhões representaram aproximadamente 20% do total. As transações acima de 100 milhões de euros constituíram uma parcela menor, evidenciando um mercado segmentado e com oportunidades para vários perfis de investidores.
A Península Ibérica alcançou em 2024 o primeiro lugar na Europa em valor de produção agrícola, o que reforça o seu posicionamento como o mercado de investimento mais institucionalizado e atrativo a nível geoestratégico.
“A Península Ibérica alcançou em 2024 o primeiro lugar na Europa em valor de produção agrícola, o que reforça o seu posicionamento como o mercado de investimento mais institucionalizado e atrativo a nível geoestratégico”, adianta Manuel Albuquerque, destacando que a “crescente profissionalização do setor está a abrir caminho a uma maior diversidade de investidores — desde produtores industriais com operação própria, a investidores imobiliários que compram para arrendar, até fundos financeiros como private equity ou fundos de pensões internacionais, com tickets que podem ultrapassar os 100 milhões de euros”.
Burocracia nos processos agrícolas e limitações comerciais são os maiores obstáculos
Os desafios de sucessão geracional, a necessidade de eficiência e as consequências das mudanças climáticas estão a transformar o setor, com a rotação de ativos, alteração de culturas e aumento da dimensão das explorações.
O responsável pelo departamento de agribusiness na CBRE no Sul da Europa explica ao ECO que “num setor profundamente globalizado não se pode ignorar os fatores de risco como a burocracia nos processos agrícolas ou as limitações comerciais e logísticas, impostas por medidas aduaneiras”.
Num setor profundamente globalizado não se pode ignorar os fatores de risco como a burocracia nos processos agrícolas ou as limitações comerciais e logísticas impostas por medidas aduaneiras.
Manuel Albuquerque considera que o Governo pode ajudar a “agilizar os processos” e pede mais celeridade nas licenças imobiliárias por parte das câmaras municipais e juntas, essencialmente de zonas mais rurais.
Em relação às tarifas e obstáculos aduaneiros, o porta-voz da CBRE afirma que o agronegócio é um “mercado globalizado que tem agora uma disrupção de comércio global impulsionada por guerras comerciais e questões geopolíticas”. “A instabilidade é sempre má”, nota Manuel Albuquerque, exemplificando que a Europa exporta muito azeite e vinho para os Estados Unidos, numa altura em que o presidente americano continua a não dar tréguas.
Presença de água é fulcral para o investimento no agronegócio
Na Península Ibérica, cerca de 20% das terras aráveis são de regadio, um valor significativamente superior à média europeia (5%). O relatório destaca que a presença de água é um dos critérios chave para o investimento no agronegócio, mas outros aspetos, como o clima, a qualidade do solo e a dimensão das propriedades em Portugal e Espanha, fazem desta região uma oportunidade real e atrativa para o investimento neste segmento.

As culturas com maior área plantada são cereais em grão (cerca de 5,9 milhões de hectares) e olival (3 milhões de hectares). Entre 2013 e 2023, a área de frutos secos cresceu quase 300 mil hectares. Em 2024, aumentou a área dedicada a azeitonas e frutos secos (pistáchios em Espanha e amêndoas em Portugal), enquanto a área de vinha diminuiu. Em Espanha, a área de citrinos reduziu, ao passo que o abacate ganhou importância em Portugal.
Quanto ao preço de venda dos produtos agrícolas (pago ao agricultor), registaram-se flutuações significativas: o azeite caiu 49% nos últimos 12 meses, enquanto as amêndoas subiram 67%. No caso do azeite, em julho de 2024 estava a custar 6,71 euros por quilo e um ano depois baixou para 3,39 euros. Por outro lado, o preço das amêndoas por quilo subiu mais de dois euros.
Já os preços das laranjas caíram 11%, enquanto o tomate (+25%), os morangos (+19%) e os mirtilos (+18%) registaram aumentos.
A nível global, a consultora regista um aumento significativo dos fundos levantados no setor agribusiness desde 2000, acumulando mais de 200 mil milhões de euros até 2024.
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