Turismo confiante para este verão: “Se for igual ao de 2024, já será muito positivo”
Do Norte ao Sul do país, as perspetivas para o verão são positivas, mas existem assimetrias. Algarve, Madeira e Açores com taxas de ocupação entre os 70% e 100%.
O turismo em Portugal continua em rota de crescimento e as perspetivas para o verão são “positivas”, embora marcadas por “claras assimetrias regionais“. No entanto, apesar do cenário positivo, as tensões geopolíticas podem impactar a procura turística.
“Se o verão deste ano for igual ao de 2024, já será considerado muito positivo“, diz ao ECO o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, evidenciado que em maio deste ano, as dormidas subiram 2,3% — “são indicadores bastante positivos para a época de verão que agora começou”. Por outro lado, alerta que “o contexto internacional marcado por instabilidade pode impactar a mobilidade e a procura turística”.
Os resultados da 74.ª edição do Barómetro do Turismo do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT) mostram que as “perspetivas para o verão de 2025 são positivas, prevendo-se um desempenho superior ao de 2024, impulsionado pela procura externa”. Reino Unido, Espanha, França, EUA e Alemanha destacam-se como os principais mercados emissores.
A vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) assegura ao ECO que “as perspetivas para este verão são, de forma geral, positivas” e está convencida que “será um verão sólido, com resultados equilibrados, em linha com a expectativa de crescimento que o setor tem vindo a assumir desde o início do ano”. No entanto, chama a atenção para as “assimetrias regionais claras”.
Dados do INE mostram que de janeiro a maio deste ano o número de dormidas em Portugal aumentou 2% face a 2024, passando de 27,7 milhões para 28,3 milhões. Nos primeiros cinco meses do ano chegaram a Portugal 11,7 milhões de hóspedes, refletindo um crescimento de 4% em relação ao período homólogo de 2024, quando se registaram 11,3 milhões. Neste período, os proveitos totais do turismo português registaram um crescimento de 8%, passando de 2,1 mil milhões de euros em 2024 para 2,2 mil milhões de euros.

Cristina Siza Vieira realça que de acordo com o inquérito da AHP “Perspetivas Verão 2025”, concluído em 1 de junho de 2025, as reservas para junho, julho e agosto apresentavam níveis satisfatórios, sobretudo no Algarve, Madeira e Açores, onde grande parte dos empreendimentos reportava, ao tempo, taxas de ocupação entre os 70 e os 100%.
Com taxas de ocupação mais baixas, entre os 50% e os 69%, está a região de Lisboa e Norte, mostra a análise da AHP. Por outro lado, em regiões como Centro, Alentejo e Oeste e Vale do Tejo as reservas ainda estão aquém – abaixo dos 50% em muitos casos.
André Gomes, presidente da Associação Turismo do Algarve corrobora a análise da AHP e conta ao ECO que o “Algarve está com um ritmo superior de reservas e de proveitos em comparação com o verão do ano passado”, com base no feedback que foi obtendo por parte dos empresários, em particular no setor da hotelaria.
Algarve está com um ritmo superior de reservas e de proveitos em comparação com o verão do ano passado.
No ano passado, o Algarve alcançou o maior número de hóspedes de sempre, com os estabelecimentos de alojamento turístico a receber 5,2 milhões de visitantes, um aumento de 2,6% face a 2023. O presidente da Associação Turismo do Algarve tem esperança que “venha a ser um ano ainda melhor do que o ano passado“, tanto no verão como no acumulado do ano.
O líder da associação afasta a ideia que o Algarve está mais caro e que os portugueses estão a optar por outros destinos. “Não é verdade que existe um divórcio dos portugueses em relação ao Algarve e que o Algarve está demasiado caros para os portugueses”, diz André Gomes, enumerando que os números mostram precisamente isso: “o mercado nacional continua a ser o nosso principal mercado, o ano passado foi o primeiro ao nível de hóspedes e o segundo a nível de dormidas, só ultrapassado pelos britânicos”.
Tendo por base o estudo Holiday Money Report 2025, André Gomes destaca que a análise mostra que o Algarve está de volta ao topo do ranking em termos de custo-benefício após nove anos.
Quando tomou posse em 2023, o presidente do Turismo do Algarve disse em entrevista ao ECO que um dos objetivo do seu mandato seria dissociar o Algarve de destino de sol e praia, uma meta que parece ter alcançado já que a “região tem crescido mais na época baixa do que na alta”. André Gomes contabiliza que de janeiro e abril de 2024 a região algarvia cresceu em média cerca de 20% e entre outubro e dezembro avançou cerca de 18%, ambas em comparação com o período homologo. “Estes crescimentos estão a refletir-se também este ano”, antecipa o líder da entidade.
O secretário regional do turismo da Madeira, Eduardo Jesus, confirma ao ECO que “as taxas de ocupação estão muito elevadas, como é habitual nesta altura do ano”, destacando que nos “últimos últimos anos a região tem registado resultados francamente positivos”.
Algarve lidera, mas Centro, Alentejo e Norte ganham tração
Apesar de o Algarve continuar a liderar nesta época do ano, a vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal nota que o “Centro, o Alentejo, o interior Norte estão a ganhar tração”, justificando que existe uma “maior procura por destinos alternativos, com menor pressão turística e propostas diferenciadas”.
Tem sido evidente uma maior procura por destinos alternativos, com menor pressão turística e propostas diferenciadas. O Centro, o Alentejo, o interior Norte estão a ganhar tração, também porque o próprio setor tem investido e inovado cada vez mais nessas zonas.
À semelhança do Algarve, o Alentejo registou o melhor ano turístico de sempre em 2024, com cerca de 1,7 milhões de turistas, número que, na ótica do presidente do Turismo de Alentejo, “se encontra subavaliado, já que não estão aqui contabilizados os parques de campismo e alojamentos com menos de dez unidades”.
José Manuel Santos diz ao ECO que “até maio a região cresceu acima da média nacional” e que face aos números as “perspetivas dos operadores para o verão são positivas, ainda que cautelosas”.
O líder do turismo alentejano adianta que o “Alentejo é um destino que se vende muito bem no last minute” e que “nos meses de verão depende ainda mais do mercado nacional que escolhe crescentemente produtos inovadores, cuja oferta se encontra próxima da água, seja de interior ou de costa – como, por exemplo as estações náuticas”.

Outro dos destinos que está a crescer acima da média nacional é o Porto e Norte. Dados do INE mostram que nos primeiros cinco meses de 2025 o Porto e Norte registou um crescimento de 5,8% no número de hóspedes, sendo a média nacional de 3,9%, mas também um crescimento de 6% nas dormidas, em comparação com a média nacional de 2,3%. E o mesmo aconteceu nos proveitos, com mais 10,8%, em comparação com o crescimento de 8% da média nacional.
“É verdade que continuamos a tendência de crescimento nos vários indicadores, mas acima de tudo temos hoje uma melhor distribuição de turistas por todo o território e esse é um dos nossos principais objetivos, só assim permitimos que o turismo tenha um forte contributo para a coesão territorial e social da região e esse impacto é para nós tão ou mais importante do que o aumento do número de turistas”, diz ao ECO Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
É verdade que continuamos a tendência de crescimento nos vários indicadores, mas acima de tudo temos hoje uma melhor distribuição de turistas por todo o território e esse é um dos nossos principais objetivos.
O presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal constata que as “regiões do Porto e Norte, Centro, Alentejo e Açores, mais recentes nas campanhas de promoção externa do país, têm demonstrado um desempenho fantástico ao longo da última década“, destacando o “enoturismo, a gastronomia, o turismo de natureza, religioso, náutico e termal”.
“São produtos âncora, regiões riquíssimas em património cultural, com uma excelente oferta de alojamento para todos os segmentos e que vieram acrescentar muito valor a Portugal”, diz Luís Pedro Martins reeleito o ano passado presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
O presidente do Turismo Centro de Portugal confirma a tendência e antecipa um “verão muito positivo na região”. Rui Ventura adianta que num inquérito dirigido à hotelaria “metade dos inquiridos responderam que estão a ter um ligeiro aumento nas receitas face a 2024, e os restantes mantêm valores semelhantes”.
Considerando os bons indicadores do INE do primeiro semestre, onde a região centro registou crescimentos sustentados em dormidas e proveitos, o líder do turismo de centro acredita que “tudo aponta para que este venha a ser o melhor verão de sempre para o turismo no Centro de Portugal”.
Tudo aponta para que este venha a ser o melhor verão de sempre para o turismo no Centro de Portugal.
Por regiões, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal realça que tal como em 2024, Portugal continua a assistir a um crescimento em várias regiões do país, destacando em particular, “a evolução positiva dos Açores (+7,8%) e da região do Porto e Norte (+6%) no que diz respeito às dormidas até ao mês de maio quando comparadas a 2024″. Contactado, o Turismo dos Açores não respondeu às questões do ECO.

Mobilidade e falta de recursos humanos são os maiores entraves
A mobilidade e a dificuldade em contratar recursos humanos qualificados são consideradas os principais entraves ao desenvolvimento do turismo em Portugal. A acrescentar à lista está ainda o novo sistema de controlo de fronteiras nos aeroportos.
Para a Confederação do Turismo de Portugal, um dos maiores problemas é o novo sistema de controlo de fronteiras nos aeroportos, “que está a provocar longas filas e tempos de espera consideráveis, sobretudo em Lisboa e Faro”. A associação liderada por Francisco Calheiros diz ao ECO que a” implementação deste sistema está ainda longe de funcionar de forma eficiente, o que proporciona uma má primeira impressão aos turistas que nos visitam”.
A implementação do novo sistema de controlo de fronteiras nos aeroportos está ainda longe de funcionar de forma eficiente, o que proporciona uma má primeira impressão aos turistas que nos visitam.
Uma opinião partilhada pela vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal que refere que o “impacto desta disrupção não é apenas operacional, é também reputacional”, referindo-se à situação vivida nos aeroportos, nomeadamente no controlo de fronteiras.
“Afetou muitíssimo nos últimos meses a chegada de passageiros oriundos de países fora da Europa e do espaço Schengen, com destaque para o mercado americano, que tem um peso crescente no turismo nacional”, diz Cristina Siza Vieira, recordando os “Estados Unidos são, neste momento, o segundo maior mercado em hóspedes e o terceiro em dormidas em Portugal, e o primeiro, em ambos os indicadores, em Lisboa”, indica.
A acrescentar à lista de constrangimentos, a porta-voz da Associação da Hotelaria de Portugal enumera a dificuldade na contratação de pessoal qualificado e a mobilidade dentro do território nacional.
O líder do Turismo Porto e Norte apela à reforma da lei das entidades regionais, referindo que a “atual lei está desatualizada e desajustada da realidade, sendo um fator de bloqueio da atividade das Entidades Regionais, não lhes permitindo aquilo para a qual a Lei foi pensada – garantir autonomia administrativa e financeira”. No entanto, assegura que “está finalmente em curso este processo de revisão”.
Na liderança do Turismo do Porto e Norte de Portugal desde 2019, Luís Pedro Martins enumera ainda a “mobilidade, nomeadamente a ferroviária, como outro grande constrangimento das regiões”, a par da falta de recursos humanos. Sobre o Aeroporto de Lisboa, Luís Pedro Martins considera que a “infraestrutura está a prestar um péssimo serviço ao país”.
No Algarve, o presidente da Associação Turismo do Algarve enumera o problema da mobilidade na região, que, na sua ótica, “influencia toda a atividade e todos os setores”, a gestão dos recursos hídricos (“algo que não está resolvido”) e por fim a saúde, com André Gomes a lamentar que a região esteja a aguardar há 20/30 anos a construção do Hospital Central do Algarve, “algo que não acontece”.
À semelhança da região algarvia, a mobilidade também é “constrangimento sério” para o turismo do centro. “Muitas zonas do interior da região, atrativas do ponto de vista turístico, ainda carecem de soluções eficazes de transportes que sirvam tanto os residentes como os visitantes”, aponta Rui Ventura, líder do Turismo Centro de Portugal.
Rui Ventura aponta ainda a dificuldade em captar recursos humanos qualificados e a assimetria territorial na qualidade da oferta. Por fim, o presidente do Turismo Centro de Portugal olha para a excessiva litoralização da procura e a sazonalidade da atividade como constrangimentos estruturais.
Tal como na região Centro, o presidente do Turismo de Alentejo, José Manuel Santos, queixa-se que “nesta fase a necessidade de contratação de recursos humanos ainda se torna mais critica, especialmente para a restauração”, embora mencione que em “geral os empresários têm conseguido resolver os problemas”.
O secretário regional do turismo da Madeira considera que a “conjuntura internacional, nomeadamente os conflitos na Europa e Médio Oriente, e a inflação podem inibir viagens mais longas e reduzir o poder de compra dos turistas”.
Os maiores constrangimentos que o setor do turismo, em geral, enfrenta estão ligados à conjuntura internacional, nomeadamente os conflitos na Europa e Médio Oriente, a inflação, e demais fatores que podem inibir viagens mais longas e reduzir o poder de compra dos turistas.
Apesar dos constrangimentos, o presidente do Turismo Porto e Norte realça está convicto que “o Turismo vai duplicar as receitas até 2035″ e que “todos estão empenhados nesse objetivo“. Por fim, enumera que a “estabilidade política, a segurança, os equipamentos de saúde, o clima e claro a grande hospitalidade dos portugueses, tem permitido o setor continuar a crescer”.
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