Rui Moreira: “Vivemos demasiado na precipitação e na voragem das coisas”

  • ECO
  • 8:00

De gestor a Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, é o convidado do último episódio da primeira temporada do podcast E Se Corre Bem?

Rui Moreira, o gestor que se tornou político por força das circunstâncias conta como tudo começou com a venda da sua empresa de navegação nos anos 90. “Não foi sorte porque eu de facto não a queria vender. Mas a proposta que nos foi feita naquela altura era irrecusável”, diz. Recusou o convite para continuar a trabalhar na empresa e afirma que “uma pessoa não pode deixar de ser rei para depois ser valete”.

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Foi como presidente da Associação Comercial do Porto que percebeu o gosto pela intervenção pública. Mais tarde, escreveu em jornais, publicou um livro sobre o Porto e, em 2013, candidatou-se pela primeira vez à câmara. “Era preciso fazer uma candidatura de bom gosto, alegre, uma candidatura de verão”, conta. Passou três meses a pé pelas ruas da cidade, a ouvir sem prometer. “O que mais notei durante essa campanha eleitoral foi que as pessoas queriam, acima de tudo, ser ouvidas.”

"Eu acho que a geração de menos de 25 anos acredita mais naquilo que vê no TikTok, do que naquilo que lê no ECO. Se ler o ECO”

Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto

Recorda uma campanha marcada por ataques, mas diz ter sido a melhor coisa que lhe aconteceu. “Tive a sorte de existir um jornal, que era o jornal de campanha do Dr. Luís Filipe Menezes, que era o Jornal de Notícias, curiosamente onde tinha escrito e que mal souberam que eu me ia candidatar, despediram-me da posição de cronista”, afirma Rui Moreira.

Apesar dos ataques, decidiu manter uma campanha com humor e proximidade. “Lembro-me de, em determinada altura, passar junto à Alfândega do Porto e ver a campanha do Dr. Menezes e eu sabia mais ou menos o que é que iam fazer. Levava o Quim Barreiros e punha um porco a assar. Eu normalmente ia duas horas mais cedo, bebia uma cerveja, e dizia às pessoas: ‘Mais logo, dancem com o Quim Barreiro e comam o porco. No dia das eleições, votem em mim’. Depois ia embora. Nós fazíamos isto quase como guerrilheiros, mas no bom sentido da palavra, não ia dizer mal de ninguém”, conta o presidente.

Rui Moreira diz que continua a sair, a beber uns copos, a sentar-se no mesmo lugar do estádio e a andar pela cidade. “A primeira coisa que eu fiz, quando fui eleito, foi ir à Garrett tomar um café e comer uma torrada, porque achava que era fundamental aquela ideia de não ficar fechado no gabinete.”

 

Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, é o convidado do último episódio da primeira temporada do podcast E Se Corre Bem?.

É um amante de vela e garante que consegue parar quando é preciso. “Peço desculpa a quem me convida, mas não vou muito na coisa do croquete”, confessa. Apesar de conseguir abrandar o ritmo, admite que tem saudades de desligar o telemóvel quando se deita. “Nós estamos debaixo de escrutínio. Eu não posso desligar o telemóvel à noite”, conta.

Como gestor que já foi, abordou os desafios do tecido empresarial português, mas também destacou os seus pontos fortes. “Temos uma enorme capacidade de inovar, de empreender e de nos adaptarmos aos ciclos económicos. Basta olhar para a confeção, para o setor têxtil português — quando diziam que ia desaparecer, não desapareceu. Porquê? Porque conseguimos ajustar a nossa cadeia de produção a uma velocidade que poucos conseguem. Isso permite-nos atravessar melhor os ciclos económicos do que outros.”

Questionado sobre se as pessoas precisam de ter uma rede para ter sucesso, responde com uma metáfora: “Antigamente, nos comboios havia aquela coisa de ‘pare, escute e olhe’. Às vezes é preciso parar, escutar e olhar. Vivemos demasiado na precipitação e na voragem das coisas. E eu acho que quando temos a possibilidade de viver fora por necessidade, acabamos por escutar mais e olhar melhor”.

"Acho que, hoje, a oferta cultural na cidade do Porto está ao nível das melhores cidades do mundo”

Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto

Defensor de que essa capacidade de escutar e observar é cada vez mais rara, vê também com preocupação o espaço que as redes sociais ocupam no debate público. “Portugal foi o último país a abolir a Inquisição e, portanto, vamos seguramente ser o último país a abolir as redes sociais, que hoje são uma forma de inquisição.” Lamenta que a Câmara tenha de emitir comunicados para contrariar rumores e fake news. “Eu acho que a geração de menos de 25 anos acredita mais naquilo que vê no TikTok, do que naquilo que lê no ECO. Se ler o ECO.”

Com 12 anos de mandato, Rui Moreira diz que a grande marca do seu percurso é a cultura. “Acho que, hoje, a oferta cultural na cidade do Porto está ao nível das melhores cidades do mundo.” Mais do que o equilíbrio orçamental ou a ausência de dívida, destaca o impacto invisível. “Eu acho que o que fica sempre da nossa passagem pelas coisas são as marcas intangíveis, ou seja, a mudança dos hábitos. Considero que a cidade do Porto hoje é muito mais ousada, aberta e tem muito mais cor”.

Este podcast está disponível no Spotify e na Apple Podcasts. Uma iniciativa do ECO, na qual Diogo Agostinho, COO do ECO, procura trazer histórias que inspirem pessoas a arriscar, a terem a coragem de tomar decisões e acreditarem nas suas capacidades. Com o apoio do Doutor Finanças e da Nissan.

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