Os sete fatores que explicam os prejuízos da TAP no semestre

A melhoria das contas no segundo trimestre não impediu um prejuízo de 71 milhões nos primeiros seis meses do ano, superior ao registado no ano passado.

Com a privatização da TAP em marcha, depois do Governo ter aprovado em julho a venda de 49,9% do capital, a companhia apresentou um lucro de 37,5 milhões entre abril e junho. Mas no conjunto dos primeiros seis meses a transportadora ainda soma um prejuízo de 70,7 milhões e a atividade está estagnada.

O terceiro trimestre deverá trazer números mais risonhos, mas há vários fatores que estão a pesar nas contas da companhia. Saiba quais.

Estagnação na venda de passagens

Depois de terem caído 5,2% nos primeiros três meses do ano, as vendas de passagens cresceram 3,1% entre abril e junho. Contabilizando o conjunto do semestre somaram 1.751,6 milhões de euros, menos 0,5% que no período homólogo, apesar do aumento de 2,2% no número de passageiros.

A receita gerada por cada milha voada por passageiro caiu ligeiramente, de 8,06 cêntimos no primeiro semestre de 2024 para 7,86 cêntimos este ano. Um indicador que reflete uma maior pressão sobre as tarifas das passagens, num ambiente fortemente concorrencial.

Manutenção deixou de ter contributo positivo

O segmento da Manutenção e Engenharia brilhou nas contas do ano passado, com um crescimento de 45% para 236,8 milhões, pesando 5,6% nos rendimentos operacionais totais. Nos primeiros seis meses do ano, as receitas deste segmento caíram 10,7%, somando 104 milhões. A companhia justifica esta evolução com “constrangimentos na cadeia de abastecimento e uma menor disponibilidade interna”.

Pela positiva destaca-se a Carga e Correio, onde as receitas aumentaram 7%, para 81,3 milhões. Tudo somado, os rendimentos operacionais da TAP baixaram 1% nos primeiros seis meses.

O presidente da companhia aérea TAP, Luís Rodrigues, durante um evento na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) onde anunciou novidades da empresa para 204, na FIL, em Lisboa, 29 de fevereiro de 2024. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSAJOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Custos com pessoal crescem a dois dígitos

Os gastos operacionais da TAP cresceram 3,8% no primeiro semestre para 1.964,2 milhões de euros, impulsionados pelo aumento dos encargos com pessoal, que avançaram 13,6%, refletindo aumentos salariais e remunerações acordadas nos acordos coletivos de trabalhado. No segundo trimestre o aumento foi ainda mais expressivo: 18,3%.

Custos operacionais de tráfego

É nesta rubrica que se insere o aluguer de aeronaves externas (ACMI) à TAP e custos com irregularidades, como o reembolso pago a clientes devido a atrasos e cancelamentos de voos. Os encargos aumentaram 7%, para 417,1 milhões de euros no primeiro semestre, impulsionados pela greve da Portugália realizada entre março e abril.

No comunicado de apresentação das contas, o presidente executivo da TAP refere “constrangimentos severos no controlo de fronteiras nos aeroportos nacionais” que impactaram “significativamente” a atividade da companhia aérea. A transportadora refere que os constrangimentos no controlo de tráfego aéreo na Europa, as limitações da infraestrutura aeroportuária e condições climáticas adversas penalizaram a pontualidade.

Pela positiva, destacam-se a redução dos encargos com combustível para as aeronaves (-7,8%), nos gastos com manutenção (-10,8%) e nos materiais consumidos (-17,6%).

Airbus A320neo da TAP.

Depreciações e amortizações

A opção por um modelo de locação financeira, em que a TAP é dona das aeronaves, contribui para um aumento de 17,6% nesta rubrica, que retirou 120 milhões de euros ao resultado operacional, que no primeiro semestre foi negativo em 9,1 milhões. Considerando o valor recorrente (sem impactos extraordinários), o resultado foi de 17,3 milhões.

Perdas cambiais

Parte das receitas da TAP são em dólares. A desvalorização da moeda americana em relação ao euro (12% entre janeiro e junho) tem, por isso, um impacto negativo nas contas. Só no segundo trimestre as perdas cambiais ascenderam a 38,5 milhões de euros, um aumento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2024. O câmbio face ao real manteve-se relativamente estável.

A desvalorização do dólar tem também um impacto positivo, ao reduzir os encargos com os contratos de locação das aeronaves, que são denominados na moeda americana.

As perdas cambiais anularam o impacto positivo da redução de 17 milhões nos encargos com a dívida.

Créditos fiscais

A utilização de créditos fiscais (gerados por prejuízos passados) permitiu à TAP contabilizar um impacto positivo de 58,9 milhões na rubrica de impostos no primeiro trimestre. No segundo trimestre, já teve de pagar 13,4 milhões, mas mesmo assim o saldo do semestre é positivo em 45,5 milhões de euros. Sem isso, os prejuízos de 70,7 milhões nos primeiros seis meses do ano seriam ainda maiores.

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