Balsemão negoceia Impresa com grupo fundado por Berlusconi
Dona da SIC anda há meses a negociar uma operação de capitalização. Depois de falhar um acordo com a família Soares dos Santos, a solução poderá passar pelo grupo fundado por Berlusconi.
A Impresa, grupo que controla a SIC e o Expresso, está a negociar um acordo de capital com os italianos da MFE, grupo fundado em 1980 por Sílvio Berlusconi e controlado pela família, com presença internacional em mercados como Espanha, através da Telecinco. O acordo estará prestes a acontecer, depois de meses de negociações (sem sucesso) com a família Soares dos Santos, detentora do grupo Jerónimo Martins.
A entrada de novos acionistas no grupo, há muito falada no mercado perante a situação financeira que é de crescente pressão, foi admitida por Francisco Pedro Balsemão em julho, no congresso da APDC. “Não estamos fechados à entrada de entidades ou pessoas de fora. Se for uma relação win-win, não fechamos essa porta”, afirmou.
Agora, contactada oficialmente pelo ECO/+M, a meio da semana a Impresa não confirmou as negociações. “A Impresa é uma empresa cotada em Bolsa, com um histórico de parceiros ao longo de mais de 50 anos. Perante o surgimento de vários rumores nas últimas semanas, a Impresa reafirma o que tem respondido à imprensa, reiterando que, como no passado, não deixará de analisar parcerias que contribuam para o crescimento e cumprimento dos objetivos estratégicos do Grupo como um todo. No caso da MFE, a Impresa mantém com esse grupo uma relação comercial há alguns anos. Se existir informação que deva ser comunicada ao mercado nos termos legalmente previstos, a Impresa cumprirá, como sempre, os seus deveres de transparência“, afirma fonte oficial do grupo.
O grupo fundado por Berlusconi que se tornou um gigante dos media
Fundado em 1980 por Silvio Berlusconi, o grupo Mediaset é um dos principais grupos de media da Europa, com presença em televisão, produção audiovisual, publicidade e plataformas digitais.
O início ocorreu com o lançamento do Canale 5 em 1980, seguido de Italia 1 e Rete 4, desafiando a emissora estatal RAI e consolidando uma posição de liderança na televisão italiana. Nas décadas seguintes, o grupo expandiu canais temáticos e na produção própria, tornando-se uma referência em termos de conteúdos e também na publicidade.
A estrutura acionista sempre foi marcada pelo controle familiar, com a holding Fininvest a manter cerca de 33,8% do capital e controle do grupo. Em 2021, a criação da MFE – MediaForEurope consolidou Mediaset Itália e Mediaset España, permitindo sinergias nos dois mercados.
A expansão internacional destacou-se em Espanha, com a criação do Mediaset España em 2009, dono de canais como Telecinco e Cuatro. Espanha representa hoje cerca de 27% da audiência comercial do grupo, considerando público 18‑54, enquanto em Itália o grupo lidera o mercado publicitário com 40,9% de quota de marcado.

Financeiramente, a MFE — cotada nas bolsas de Milão e Madrid — mantém resultados sólidos. Em 2024, a receita consolidada atingiu 2,95 mil milhões de euros, com lucro 137,9 milhões de euros. Já este ano, o grupo liderado por Píer Silvio Berlusconi registou um lucro líquido de 51,4 milhões de euros. A dívida líquida consolidada caiu para 460,9 milhões de euros, uma queda de 33,3% em relação aos 691,5 milhões no final de 2024, enquanto a dívida financeira líquida ajustada caiu para 340,7 milhões.
Já este mês, o grupo controlado pela família Berlusconi — cuja história foi marcada por alguma controvérsia, sobretudo durante os mandatos de Silvio Berlusconi, primeiro-ministro de Itália em vários mandatos (1994–1995, 2001–2006, 2008–2011) — anunciou que garantiu mais de 75% da emissora alemã ProSiebenSat.1 após uma aquisição que a prepara para se tornar a maior emissora aberta da Europa. A MFE vê a expansão europeia como crucial, sendo a escala decisiva para competir com players internacionais como a Netflix ou o YouTube, aponta a Reuters.
A Impresa, recorde-se, fechou o primeiro semestre com um prejuízo de 5,1 milhões de euros, um agravamento de 27,1% na comparação com o período homólogo. Nos primeiros seis meses do ano, as receitas consolidadas da Impresa decresceram 0,8%, para 85,9 milhões de euros. O aumento dos proveitos provenientes da venda de conteúdos, da distribuição de canais e das assinaturas digitais compensou parcialmente a diminuição das receitas publicitárias e com IVRs.
Os custos operacionais, sem considerar amortizações, depreciações, provisões e perdas por imparidade em ativos não correntes, aumentaram 1,1%, impactados pelos custos de reestruturação, no âmbito do atual projeto estratégico de redução de custos.
“Apesar da redução de 7,3% relativamente ao período homólogo de 2024, o valor do EBITDA recorrente, ajustado de custos de reestruturação, foi superior aos montantes verificados nos primeiros semestres de 2023 e de 2022″, resumia o grupo liderado por Francisco Pedro Balsemão no comunicado enviado à CMVM.
Quando ajustado de custos de reestruturação, o resultado líquido é negativo em 3,9 milhões de euros, o que representa uma quebra de 1,9% relativamente ao resultado obtido no primeiro semestre de 2024, acrescenta o grupo. A dívida remunerada líquida situa-se em 148,2 milhões, um aumento de 3,8% face ao final de junho de 2024.
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