O que se sabe da proposta de 100 mil euros do Aeiou para comprar a Visão
O Aeiou apresentou uma proposta para comprar a Visão. Armando Batista, acionista maioritário, explica que a ideia passa apenas por assegurar que o título não se perde, nem que seja apenas no digital.
O Aeiou apresentou uma proposta de 100 mil euros para a compra da revista Visão. A proposta foi dada a conhecer no final da assembleia de credores que se realizou esta quarta-feira, mas não chegou a ser apreciada, tendo em conta que a Segurança Social e as Finanças, principais credores da Trust in News (TiN), dona da Visão mas também de outras publicações como Exame ou Jornal de Letras, exigiram que seja feita uma avaliação prévia antes da venda dos títulos.
A proposta foi feita perante a “informação de que existe o risco de a Visão encerrar e o título se perder”, começa por enquadrar Armando Batista, acionista maioritário da empresa Aeiou Ad Networks, que acredita no entanto que “vão aparecer propostas melhores”.
“O objetivo foi sinalizar. Não em relação à revista em papel, mas pelo menos o ativo digital, que estaríamos em condições de o manter a funcionar. Era só para assegurar que o título se não perde. A nossa proposta é quase simbólica e vai aparecer uma proposta melhor que a nossa, acredito que há players no mercado para isso“, diz ao +M.
“Este título desaparecer seria trágico e não nos agradaria que isso viesse a acontecer, sem darmos um sinal que estaríamos em condições de assegurar a continuidade como marca digital. Mas espero que apareça alguém que mantenha não só o digital mas também o papel“, acrescenta.
A proposta de compra, que envolve o investimento de 100 mil euros, seria assim apenas sobre a marca e o domínio digital, ou seja, acabando a edição em papel. Para a concretizar o Aeiou conta com “um conjunto de investidores [a título individual] que, na necessidade de avançar para o negócio, estariam em condições de nos ajudar nessa operação“, diz Armando Batista.
Em caso de concretização da compra, teria de ser feito um reforço de pessoal para dar continuação à publicação online, uma vez que a atual equipa do Aeiou é “muito pequena”. “Mas não com a atual equipa da Visão, que é muito numerosa e que está também a assegurar a revista. Teríamos de identificar o número de pessoas viável a dar continuidade“, adianta o responsável.
No entanto, Armando Batista não esconde que gostaria de ficar com o título até pela ligação afetiva que o Aeio tem com o grupo Impresa, do qual chegou a fazer parte. É que o Aeiou, lançado em 1996 pela empresa Caleida Comunicação Global Lda, de Armando Batista, foi adquirido (50,1%) em 2006 pelo grupo Impresa.
A ideia era que o Aeiou funcionasse como agregador dos conteúdos e assumisse o papel de portal dos diferentes meios de comunicação do grupo dono de títulos como SIC e Expresso. A aquisição por parte da Impresa implicou, na altura, um investimento de 1,25 milhões de euros, tendo o grupo chegado a reforçar a sua participação na empresa, passando a controlar cerca de 65%. No entanto, em 2012 e através de um MBO (management buy out), uma equipa liderada pelo fundador Armando Batista, voltou a readquirir o portal.
O portal ainda existe, contando com um site ativo com notícias e vídeos. Posiciona-se como “um meio de informação independente distribuído em tempo real em formato eletrónico”, de “âmbito generalista, com foco especial em temas de atualidade, economia, mundo, ciência e sociedade, dando atenção especial a tópicos variados — que vão do ambiente ao consumo, da paleontologia à inteligência artificial, dos direitos humanos às novas tendências sociais”.
Além da proposta da Aeiou, também o grupo de jornalistas que continua a assegurar a produção da revista avançou com uma proposta para a compra da revista. Esta aquisição “visa assegurar a continuidade da atividade editorial daquela publicação semanal, que consegue manter uma tiragem média de cerca de 15 mil exemplares, salvaguardando ainda postos de trabalho e garantindo a valorização deste ativo (e pagamento do respetivo preço) em benefício da massa insolvente”, lê-se no requerimento enviado ao tribunal.
Segundo um estudo de viabilidade “solicitado pelos proponentes, a revista Visão, separada do restante património que compõe a massa insolvente, poderá ter viabilidade económica”, aponta-se ainda. De acordo com as condições propostas, o valor base é de 40.000 euros ou valor a definir após avaliação por avaliador independente, sendo que a modalidade de venda é negociação particular, de preferência, ou licitação entre interessados. O pagamento será feito com “liquidação de um sinal de 20% no ato da assinatura e do remanescente no prazo máximo de 30 dias”.
Ambas as propostas, no entanto, acabaram por não ser apreciadas tendo em conta que os principais credores exigiram que seja feita uma avaliação prévia antes da venda dos títulos do grupo insolvente. Os credores aceitam que a avaliação seja feita ao conjunto dos títulos mas também separadamente.
No entanto, o administrador de insolvência, André Correia Pais, defendeu que não há verbas que permitam fazer essa avaliação prévia, “pelo que isto é sobretudo um retardar do processo”, entende Manuel Halpern, representante dos trabalhadores do grupo.
“A avaliação é um processo sempre moroso, que levanta reticências e pedia-se que isto fosse algo rápido. Assim nunca poderá haver uma compra a curto prazo“, disse Manuel Halpern ao +M, adiantando que esta posição dos dois credores do Estado foi contestada pela “generalidade dos restantes credores”, apologistas de uma venda imediata.
Como já era antecipado, foi aprovado na assembleia de credores o encerramento da atividade do grupo mas foi também aprovada a continuidade da publicação da revista Visão, pedida pelo grupo de jornalistas que tem mantido o título em funcionamento. A 28 de julho, André Pais tinha requerido a suspensão temporária do encerramento da atividade da dona da Visão, entre outros títulos, depois de, em 18 de julho, o tribunal ter decidido não homologar o plano de recuperação e ter determinado a apreensão e liquidação do ativo, bem como o encerramento da atividade.
Agora, foi aprovado que os jornalistas possam continuar a assegurar a produção da revista Visão até à venda do título, sob fiscalização do Administrador da Insolvência, o qual ficou também autorizado, caso considere útil, a recontratar dentro do grupo dos 15 jornalistas que mantêm a Visão em funcionamento, nas condições que achar conveniente.
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