“Herdeiros” da Qimonda voltam a Hanôver com 200 engenheiros em falta

Critical Manufacturing precisa de 200 engenheiros após disparar vendas para semicondutores e dispositivos médicos. Empresa da Maia é uma das que fala hoje com Costa, antes da Hannover Messe.

Francisco Almada Lobo trabalhava na mega fábrica de componentes eletrónicos da Qimonda em Vila do Conde quando a multinacional entrou em processo de insolvência. Em conjunto com outros antigos quadros da empresa alemã e com o financiamento recolhido junto da Critical Software, grupo de Coimbra fundado por Gonçalo Quadros e João Carreira, fundaram em 2009 a Critical Manufacturing.

Instalada no Tecmaia – Parque de Ciência e Tecnologia da Maia, a fabricante de produtos de software de gestão da produção, automação e analítica para várias indústrias de base tecnológica, que emprega atualmente mais de 300 pessoas, é detida desde 2018 pela gigante de Singapura ASM, cotada na Bolsa de Hong Kong e líder mundial em equipamentos para semicondutores.

A atravessar uma fase de “hipercrescimento” em que viu a faturação disparar num ano de 20 para mais de 33 milhões de euros em 2021, como destaca o cofundador e presidente executivo – impulsionada pelo aumento exponencial da procura por parte dos produtores de chips e de dispositivos médicos na Europa, América e Ásia, que são os maiores clientes –, a Critical Manufacturing está de malas feitas para a Alemanha.

Francisco Almada Lobo, cofundador e CEO da Critical Manufacturing

Entre 30 de maio e 2 de junho vai voltar a marcar presença na Hannover Messe, a maior feira industrial do mundo, em que participa desde 2013 e onde vai ter a companhia de outros 6.500 expositores. No regresso ao formato físico depois do interregno da pandemia de Covid-19, a empresa portuguesa espera que o evento seja um “acelerador de negócios”, por via do contacto com os clientes (são esperados 250 mil visitantes) e pelo facto de Portugal ser o país-convidado nesta edição.

É por isso que, além do stand habitual no espaço em que estão as maiores empresas mundiais com soluções para a indústria, como a Microsoft, Google, SAP, estará igualmente representada no Pavilhão de Portugal, integrado na área de Digital Ecosystems e que soma 375 metros quadrados, contando “aproveitar todas as oportunidades que essa chancela [de país parceiro] pode trazer”. Ao todo, a comitiva portuguesa será composta por 109 empresas industriais.

Nos próximos dias, o primeiro-ministro vai reunir-se em solo nacional com todas estas empresas. Representada pelo Head of Global Sales and Business Development, Augusto Vilarinho, a Critical Manufacturing vai estar no primeiro encontro, agendado para esta sexta-feira, a partir das 14h, no auditório do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), em Braga, onde vão estar 42 empresas, das quais 20 são do distrito do Porto, 20 de Braga, uma da Guarda e uma de Bragança.

Na companhia do presidente da AICEP, Luís Castro Henriques, no dia 18 de maio, em Aveiro, António Costa, que no final do mês vai inaugurar a feira industrial juntamente com o homólogo alemão, Olaf Scholz, reúne-se com representantes de outras 39 empresas, sendo 35 do distrito aveirense, duas de Coimbra e duas de Viseu; e no dia 24, em Sintra, o chefe do Executivo socialista estará com as restantes 28 empresas: 17 de Lisboa, nove de Leiria, uma de Santarém e uma de Setúbal.

Recrutar engenheiros para subir aos 50 milhões

A prever um novo crescimento das vendas para um patamar acima dos 50 milhões de euros em 2022, antes da partida para Hanôver, o responsável máximo da empresa maiata que exporta a quase totalidade da produção – os melhores clientes estão na China, Taiwan, Alemanha, Escandinávia, Reino Unido, EUA, Malásia e Singapura – diz ao ECO que “fruto do crescimento que a empresa tem tido, de quase 70% em relação ao ano anterior, são inúmeros os projetos de transformação digital nos quais está envolvida, em algumas das maiores empresas industriais de alta tecnologia em 25 países”.

Depois de ter reforçado as equipas com uma centena de pessoas em 2021, a empresa que fornece multinacionais como a Infineon, Osram, Philips e Wolfspeed nos semicondutores, a B. Braun e a Medtronic nos dispositivos médicos ou a TDK na eletrónica, numa lista total superior a 80 clientes, tem para ocupar este ano perto de 200 vagas, destinadas a profissionais das áreas de engenharia e desenvolvimento de software, automação, data science e engenharia de gestão industrial.

Temos estado em permanente evolução em termos de modo de trabalho, de formação em tecnologias de ponta, e de remuneração e outros benefícios.

Francisco Almada Lobo

Cofundador e CEO da Critical Manufacturing

“As dificuldades de recrutamento têm que ver com o número de profissionais de que precisamos e com o facto de o mercado estar cada vez mais competitivo. É por esta razão que a empresa tem estado em permanente evolução em termos de modo de trabalho, de formação em tecnologias de ponta, e de remuneração e outros benefícios”, sublinha Francisco Almada Lobo, que é formado em Engenharia Eletrotécnica pela Universidade do Porto.

Este é precisamente o maior desafio nas mãos de Liliana Macedo, que em abril entrou nesta companhia que tem colaboradores espalhados por Portugal, Alemanha, EUA e China, para gerir o departamento de People Operations. Com mais de 15 anos de carreira em empresas internacionais de setores como as tecnologias de informação e os dispositivos médicos, foi recrutada à New Work, onde desempenhava funções na área de recrutamento e seleção de perfis tecnológicos, depois de ter passado quase seis anos pela BTL Industries Brasil.

No que toca a investimentos, o maior está a ser executado na Maia, num montante próximo de dois milhões de euros, para ampliar as instalações de 2.500 para 3.700 metros quadrados. Com grande parte da equipa agora em regime de trabalho remoto, o projeto envolve também a reformulação das áreas funcionais, com o objetivo de fazer “coabitar soluções habituais de trabalho, como secretárias, e zonas de caráter colaborativo”, com sistemas de videoconferência.

Já em termos de produto, uma das estrelas na Hannover Messe vai ser a nova versão do software de gestão de operações (MES na sigla inglesa) desenvolvido pela empresa, que pode ser disponibilizado na cloud, nas instalações do cliente ou de forma híbrida, com recurso a diferentes tecnologias. “Estando o mundo em constante mudança devido a pandemias, guerras e novas aquisições, é necessário haver um software que seja rápido de implementar, em qualquer lado e a qualquer hora”, reforçou o presidente da Critical Manufacturing.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“Herdeiros” da Qimonda voltam a Hanôver com 200 engenheiros em falta

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião