Incidentes com migrantes em Melilla visaram “provocar problemas” a Marrocos e Espanha
Por outro lado, a comissária sueca pediu esta segunda-feira uma investigação à tragédia de Melilla e disse ser "inaceitável" que pessoas morram desta maneira numa fronteira da UE.
Os recentes e graves incidentes com migrantes na fronteira entre Marrocos e o enclave espanhol de Melilla visaram “provocar problemas” ao país magrebino e a Espanha e podem repetir-se, admitiu esta segunda-feira o embaixador marroquino em Lisboa. “Em Melilla nunca aconteceu nada desta dimensão, com dezenas de migrantes mortos, muitos provenientes do Sudão e do Sudão do Sul”, indicou o embaixador Otmane Bahnini num encontro com jornalistas na representação diplomática. Comissária europeia pede, em Estrasburgo, uma investigação e considera inaceitável a morte de migrantes tal como a tentativa de cruzar a fronteira da UE através de meios violentos.
“Parece existir a vontade de colocar problemas a Marrocos e a Espanha e há indicações que Marrocos pode confrontar-se com mais situações”, admitiu o diplomata, numa referência aos recentes acontecimentos junto à fronteira comum, no norte do país magrebino.
O embaixador marroquino em Lisboa enunciou as três vias utilizadas pelos migrantes que pretendem alcançar a Europa: uma situada a leste através da Síria, a central através da Líbia – considerada a menos vigiada e a mais utilizada – e a ocidental, através de Marrocos. Otmane Bahnini questionou o facto de os migrantes sudaneses terem optado por esta última, sendo forçados a uma longa travessia pelo deserto da Líbia, e através da vizinha Argélia.
“Eram 2.000 pessoas preparadas, organizadas e armadas, muitas com armas brancas”, assinalou, indicando que a polícia marroquina apenas utilizou gás lacrimogéneo e bastões para enfrentar os migrantes, que tentaram ultrapassar o posto fronteiriço através de “quatro corredores estreitos”, originando o tumulto.
Marrocos considera que se assistiu a uma “agressão” e refere-se a uma “estratégia de assalto” que também incluiu uma “estrutura hierárquica de dirigentes experientes, com o perfil de milicianos treinados em zonas de conflito”, numa referência velada à Argélia, apoiante da Frente Polisário que desde a década de 1970 combate pela autonomia do Saara ocidental.
Comissária europeia considera inaceitável tragédia de Melilla e pede uma investigação
Ylva Johansson, comissária europeia do Interior, disse esta segunda-feira que era “inaceitável que pessoas morram desta maneira” num fronteira da União Europeia. Num debate em Estrasburgo, onde pediu uma investigação ao massacre de Melilla, a comissária sueca disse ainda que também é “inaceitável que pessoas tentem cruzar a fronteira da UE através da força, utilizando meios violentos”.
Segundo as autoridades marroquinas, pelo menos 23 pessoas, na maioria de origem sudanesa, morreram quando cerca de 2.000 migrantes tentaram transpor a passagem e o muro de separação gradeado que separa Melilla da cidade fronteiriça marroquina de Nador, havendo registo de 76 feridos, 18 ainda hospitalizados.
No entanto, diversas Organizações não governamentais (ONG) referiram-se a “pelo menos 37 migrantes mortos”, num incidente que já motivou diversas manifestações de protesto em várias cidades espanholas contra “as políticas migratórias materializadas na brutalidade policial e na militarização das fronteiras”, e quando forças seguranças espanholas do enclave também se envolveram nos incidentes.
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