Moody’s alerta que incêndios e seca irão piorar inflação e contas públicas no sul da Europa

  • Joana Abrantes Gomes
  • 26 Julho 2022

A Moody's prevê que os incêndios e a seca em vários países do sul da Europa, devido às altas temperaturas que se têm feito sentir, vão intensificar a inflação e aumentar os gastos públicos.

As temperaturas recorde registadas nas últimas semanas no continente europeu, que têm provocado incêndios e agravado a situação de seca sobretudo nos países do Sul, inclusive em Portugal, irão intensificar a inflação e aumentar os gastos públicos, com um provável efeito negativo no crédito a longo prazo, alerta a agência de notação financeira Moody’s.

Num relatório divulgado esta terça-feira em que avalia o impacto dos incêndios e da seca nas despesas governamentais em Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia, a agência norte-americana sublinha que “o aumento esperado em número, intensidade e duração das secas e dos incêndios nos próximos anos terá provavelmente um efeito negativo a longo prazo em termos de crédito“.

Partindo de um estudo publicado este mês pela Comissão Europeia, que afirma que uma intensificação de eventos extremos num cenário padrão de 1,5°C apresentará custos orçamentais anuais adicionais de 4,5% do PIB em Espanha, 2,1% em Portugal, 1,7% em Itália e 1,2% em França, a Moody’s aponta que a seca e os incêndios florestais também terão “consequências importantes” para o turismo destes países, dado o peso deste setor no PIB de cada um (mais de 20% do PIB na Grécia; 18% em Portugal; 15% em Espanha; 13% em Itália; e 9% em França). “Por conseguinte, uma maior exposição aos riscos climáticos físicos é suscetível de contribuir para uma erosão da sua força fiscal e económica“, reitera.

Seca e incêndios com impacto negativo na agricultura e na produção de energia

Estas condições “irão enfraquecer a produção agrícola” a curto prazo, considera a Moody’s, lembrando que a Península Ibérica é a região mais atingida pelos incêndios até à data (Portugal e Espanha contavam com cerca de 180 mil hectares queimados até 16 de julho), enquanto a Itália vive a sua pior seca dos últimos 70 anos.

Embora o setor agrícola represente uma pequena parte do valor acrescentado bruto na maioria dos países (1,85% em França; 2,18% em Itália; 2,54% em Portugal; 3,02% em Espanha; e 4,46% na Grécia a partir de 2021), “o declínio da produção irá exercer uma pressão adicional sobre os preços dos alimentos“, afirma a agência de rating.

Abordando também o impacto da seca na energia, numa altura em que a Europa atravessa uma crise energética desencadeada sobretudo pela invasão russa da Ucrânia, a Moody’s refere que as secas “reduziram a produção hidroelétrica em Portugal, Espanha e Itália em mais de 20%” quando comparado com a média de julho do período entre 2015 e 2021.

Os preços mais elevados da energia e dos alimentos irão exercer mais pressão sobre a inflação e corroer as despesas discricionárias, o que, por sua vez, abrandará o crescimento económico“, argumenta a agência.

Por outro lado, os governos destes cinco países irão incorrer em custos adicionais para extinguir incêndios e replantar árvores, sendo ainda “provável”, segundo a Moody’s, que seja necessário alargar as medidas de apoio aos territórios mais afetados pelos fogos. O Executivo italiano, exemplifica, adotou recentemente um pacote de ajuda humanitária de 36,5 milhões de euros (0,002% do PIB nominal) para ajudar as regiões afetadas pela seca.

Altas temperaturas “suscetíveis” de afetar saúde da população

O aumento das temperaturas é também suscetível de desencadear riscos sociais através dos seus efeitos na saúde humana, avisa também a agência. Aqui, Portugal e Espanha são mais uma vez exemplo: até 19 de julho, os dois países registaram mais de mil mortes relacionadas com o calor.

Ao mesmo tempo, os incêndios florestais constituem “uma das principais causas de poluição atmosférica” em toda a Europa do Sul, apresentando “graves efeitos para a saúde” da população.

(Notícia atualizada pela última vez às 17h48)

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