FMI corta crescimento económico e antecipa mais inflação

Se alguns dos riscos identificados pelo FMI se materializarem, então a desaceleração da economia mundial poderá ser maior: 2,6% este ano e 2% no próximo, algo que só aconteceu cinco vezes desde 1970.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa as previsões de crescimento para este ano e para o próximo, já que “vários choques” atingiram a economia mundial, que estava a começar a desenhar uma retoma após a pandemia. Uma inflação mais elevada do que o esperado, em particular nos EUA e nas economias europeias, forçou os bancos centrais a adotar políticas monetárias mais restritivas; um abrandamento mais forte do que o previsto na China devido aos confinamentos para travar a Covid-19; e os efeitos negativos da guerra na Ucrânia foram os fatores que levaram a instituição a cortar em 0,4 pontos percentuais (para 3,2%) as previsões de crescimento para 2022; e em 0,7 p.p., para 2,9%, no próximo ano. Mas se alguns riscos identificados pelo Fundo se materializarem, então a desaceleração poderá ser maior: 2,6% este ano e 2% no próximo, algo que apenas aconteceu cinco vezes desde 1970.

O corte mais significativo face às previsões de abril acontece nos Estados Unidos. A maior economia do mundo, afinal, só vai crescer 2,3% este ano (menos 1,4 pontos percentuais) e 1% no próximo. Um abrandamento explicado por um crescimento mais baixo no início do ano e pela quebra no poder de compra das famílias em resultado da inflação, que também conduziu à subida dos juros por parte da Reserva Federal norte-americana.

A Zona Euro tem um corte de 0,2 p.p., para 2,6% este ano e 1,2% no próximo, mas o comportamento das várias economias deste espaço monetário é muito diferente. Por exemplo, a Alemanha deverá crescer 1,2% (menos 0,9%) este ano e 0,8% no próximo, o que representa uma redução de 1,9 pontos percentuais. França deverá crescer 2,3% e 1% (-0,6 p.p. e -0,4 p.p.). Mas Itália até viu revisto em alta o desempenho previsto para a economia durante este ano (3%, ou seja, mais 0,7 p.p.), mas em 2023 vai crescer menos um ponto percentual (0,7%), graças às “melhores perspetivas do turismo e atividade industrial”.

O FMI não faz previsões para Portugal nesta atualização intercalar. Para a vizinha Espanha, as perspetivas são de um crescimento de 4% (um corte de apenas 0,8 pp), mas o próximo ano traz uma revisão em baixa de 1,3 p.p., para 2%. O Fundo reconhece que ainda que os fundos da “bazuca” ajudam a “suportar a atividade económica” em várias economias europeias.

O contágio dos efeitos da guerra ajuda a explicar as revisões em baixa do crescimento e em alta da taxa de inflação. A subida dos preços dos alimentos e da energia levaram o FMI a rever em alta a taxa de inflação para 8,3% para o quarto trimestre deste ano, contra os anteriores 6,9%. A revisão em alta foi mais significativa nas economias avançadas. Na Zona Euro, a instituição espera uma inflação de 7,3%, uma revisão em alta de 2,9 pontos percentuais. Porém, manteve as previsões para 2023, já que acredita que a política monetária será bem sucedida a travar a escalada dos preços.

O FMI considera ainda que sobre estas revisões pesam vários riscos. A começar por uma interrupção súbita dos fluxos do gás da Rússia, uma das consequências da guerra na Ucrânia. Por outro lado, a inflação pode permanecer “teimosamente” elevada se o mercado de trabalho se mantiver excessivamente rígido ou se as medidas para travar a inflação se revelarem mais caras do que inicialmente previsto.

FMI reviu inflação em alta

E se para travar a inflação o remédio é subir as taxas de juro, as condições financeiras mais restritivas podem criar problemas com o serviço da dívida em países altamente endividados, como Portugal.

A pandemia continua a ensombrar as perspetivas de crescimento, isto se houver novos surtos e for necessário recorrer a novos confinamentos. Já foi esse o caso na China no início deste ano, o que acabou por mitigar a evolução nesse período, sobretudo nas economias em desenvolvimento. São também estes os países mais expostos ao risco de escassez alimentar ou perturbações sociais devido à subida dos preços dos alimentos e da energia. E a fragmentação geopolítica poderá travar o comércio mundial e a cooperação entre países.

Em caso de materialização de alguns destes riscos, que levariam a economia mundial a desacelerar para 2,6% este ano e para 2% no próximo, tanto os Estados Unidos como a Zona Euro teriam um crescimento nulo, o que teria um efeito negativo óbvio para o resto do mundo.

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