As reformas da Segurança Social, passadas e futuras, vão degradar-se. Se não quiser deixar o seu futuro dependente das decisões políticas, comece a preparar já a reforma.
Os portugueses não têm por hábito pensar na pensão de reforma. Segundo o último Inquérito à Literacia Financeira dos portugueses realizado pelo Banco de Portugal e publicado em junho de 2021, apenas 24% dos inquiridos refere que poupa para a reforma (menos de um quinto). A generalidade dos entrevistados (84,5%) deposita o seu futuro nas mãos do Estado, afirmando que irá financiar a sua reforma através dos descontos para a Segurança Social ou outro regime contributivo obrigatório.
Estes resultados não seriam preocupantes se estivéssemos em 2005, um ano antes da última reforma da Segurança Social. Nessa altura, para os reformados, os anos após a vida ativa tinham brilho: um trabalhador com 40 anos de descontos e um vencimento líquido de 730 euros (valor do salário médio nacional da altura) podia esperar uma reforma 13,2% superior ao último ordenado recebido. Era uma taxa de substituição recorde entre os países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) mas insustentável a longo prazo. Hoje, a realidade é bastante diferente.
Segundo as últimas projeções da Comissão Europeia, expressas no relatório “The 2021 Ageing Report”, o valor das reformas pagas pelo Estado vai cair para quase metade nos próximos anos, passando de um valor equivalente a 84,9% do último vencimento em 2025 para 43,5% em 2050. É um corte brutal no rendimento dos portugueses. Porém, é possível que as más notícias não se fiquem por aqui.
Numa próxima reforma da Segurança Social, como muitos economistas antecipam, é possível que depois da revisão do cálculo de pensões realizado recentemente pelo Governo, que levará a uma perda do poder de compra dos reformados em função da lei até agora vigente, as próximas alterações passem pelo aumento da idade de reforma ou pela redução ainda maior da taxa de substituição das pensões em relação ao último salário.
Isto significa que há o risco de os portugueses enfrentarem o cenário de terem de trabalhar mais anos para receberem uma pensão mais reduzida. Para quem está atualmente na vida ativa e só conta reformar-se dentro de 10 ou mais anos, esta perspetiva não é risonha.
O preço da demografia
O sistema da Segurança Social enfrenta uma enorme pressão por conta do preço da demografia. Se por um lado há cada vez menos nascimentos, por outro vive-se também mais tempo. Esta equação faz com que haja cada vez menos população a descontar e mais pensionistas a receber e durante mais tempo.
De acordo com dados da OCDE, se em 2019 havia 37 idosos por 100 trabalhadores, em 2030 esse rácio deverá subir para 47 e em 2050 serão 69 idosos por 100 trabalhadores, um rácio 21% acima da média dos países da União Europeia. Esta tendência implicará uma fatura mais pesada para as contas da Segurança Social que culminará com um aumento das contribuições (impostos) ou em novas reformas sobre o cálculo das pensões.
Quanto mais cedo começar a poupar melhor
O sucesso para alcançar uma reforma tranquila prepara-se no presente. Isso começa por abandonar a ideia de dependência exclusiva do Estado e, principalmente, tomar as rédeas da sua reforma o mais cedo possível.
Um ponto de partida é traçar um plano de poupança que siga a teoria do ciclo de vida, desenvolvida em 1953 pelo prémio Nobel da Economia Franco Modigliani. Esta teoria diz que o peso das despesas familiares sobre o rendimento baixa à medida que o tempo passa e, em contrapartida, a poupança aumenta sem comprometer o presente.
É fácil perceber a ideia defendida por Modigliani. Se no começo da vida profissional, quando os salários são mais reduzidos, as despesas como a prestação do crédito à habitação e as despesas com os filhos pesa mais no orçamento das famílias; com a evolução da carreira profissional, que proporciona salários mais elevados, essas despesas acabarão por ser acomodadas no orçamento com o crescimento dos rendimentos, pesando menos nas contas da família e gerando maiores níveis de poupança.
Na prática, a teoria do ciclo de vida aponta para uma decisão de consumo intemporal, em que se troca algum do consumo no presente por um consumo futuro. No contexto do investimento e da construção de um complemento de reforma robusto, isto significa que quanto mais cedo seguir este princípio, menor será o esforço da poupança e maior será a recompensa.
Imagine dois investidores: A Maria, que começa a investir para a reforma aos 20 anos de idade, assim que entra no mercado de trabalho; E o António, que apenas começa a poupar para a sua reforma aos 35 anos. Assumindo uma rendibilidade média anual de 5% dos ativos em que ambos colocam as suas poupanças mensais, enquanto a Maria necessitará de poupar 65 euros por mês para chegar aos 60 anos com um “pé-de-meia” de 100 mil euros, o António, para chegar a essa fasquia, necessitará de poupar 167 euros todos os meses, quase o dobro que a Maria.
Esta diferença é explicada por dois elementos-chave: O número de anos em que é realizada a poupança (quanto maior o prazo de investimento, maior será o bolo no final) e o efeito matemático da capitalização dos juros ao longo do período de investimento que Albert Einstein, prémio Nobel da Física em 1921, um dia terá dito ser uma das maiores forças do universo.
Preparar o futuro sem hipotecar o presente
Num plano de poupança a longo prazo, como é a construção de um complemento reforma, quanto mais cedo começar a poupar, menor é o esforço no presente. Por exemplo, para atingir um “pé-de-meia” de 100 mil euros a 40 anos é necessário fazer um esforço mensal de apenas 65 euros por mês. Mas se o prazo do investimento for reduzido para 20 anos, a poupança mensal terá de ser 3,7 vezes superior, cerca de 242 euros*.
Nota: *Para efeitos de exemplo, foi considerado como referência para o cálculo destes valores uma taxa de rendibilidade anual do investimento de 5%.
Investir hoje para não hipotecar o futuro
Além de exigir um esforço menor, começar a poupar cedo para a reforma permite também arriscar mais. Por exemplo, alcançar ganhos anuais médios de 5% em vez de 3% numa aplicação mensal de 100 euros durante 30 anos significa ter um complemento de reforma superior em quase 41%.
Há muitas opções para multiplicar as poupanças por 2,3 ou 10 vezes. Porém, a maioria delas tem um grau de probabilidade de funcionar inversamente ao nosso desejo e, em vez de multiplicar o resultado é uma aniquilação repentina das poupanças. Veja-se o caso das ações.
De acordo com o trabalho académico de Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, da London Business School, que tomam como referência o desempenho de 35 mercados mundiais (o português incluído) durante 122 anos, as ações tendem a apresentar uma rendibilidade média anual de 5,3% acima da inflação. Nenhum outro ativo chega sequer perto. As obrigações corporativas ficam-se pelos 3,2% e as obrigações do Tesouro nos 0,7%.
O BPI Portugal, o fundo de investimento de ações mais antigo do mercado português, reflete a força destas estatísticas. Constituído a 11 de junho de 1991 e seguindo uma estratégia de investimento em ações de empresas europeias, o BPI Portugal acumula uma rendibilidade média anual de 5,22% em 31 anos.
Como o BPI Portugal há outros fundos de investimento e outros instrumentos financeiros expostos ao mercado acionista com igual prosperidade que apontam para que as ações sejam os ativos certos para engordar a sua reforma. E não é só porque as ações são o ativo que mais rende no longo prazo, mas porque o risco associado a este ativo no curto prazo acaba por ser diluído com uma estratégia de investimento de longo prazo e com uma política de reforços regulares.
A história mostra que o tempo é o mais fiel amigo dos investidores. Ajuda a mitigar perdas momentâneas e a “abafar” a volatilidade de curto prazo dos mercados. Assim, se a reforma ainda estiver longe do seu horizonte, um plano de poupança mensal estruturado e disciplinado tem um potencial de lhe oferecer uns “Anos Dourados” mais tranquilos, longe do stress que prometem ser os próximos anos em redor de novas reformas da Segurança Social.
Arriscar é deixar o dinheiro parado
Num plano de poupança de 100 euros a 40 anos, a diferença de dois pontos percentuais na taxa de rendibilidade anual dos ativos traduz-se numa diferença superior a 60% na dimensão do complemento reforma. São mais de 98 mil euros a menos entre ganhar 5% ou 7% por ano.
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Não dependa apenas do Estado. Prepare já hoje a sua reforma
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