Exclusivo Mota-Engil procura 50 milhões de euros para continuar a crescer além-fronteiras
A mais recente emissão obrigacionista da construtora arranca hoje. A construtora acena com um juro de 5,75% e um prémio que pode ir até 1,25 euros por obrigação.
A Mota-Engil volta hoje ao mercado obrigacionista com uma emissão associada a critérios de sustentabilidade. A construtora liderada por Gonçalo Moura Martins pretende angariar 50 milhões de euros junto dos pequenos investidores, através de um novo empréstimo obrigacionista denominado de “Obrigações Mota-Engil 2027”.
A operação arranca hoje a partir das 8h30 e decorrerá até 17 de outubro. Para convencer os pequenos investidores, a Mota-Engil coloca à disposição duas ofertas: uma Oferta Pública de Subscrição e uma Oferta Pública de Troca.
- Oferta pública de subscrição (OPS): Para os novos credores, a Mota-Engil assume o compromisso de pagar uma taxa de cupão anual de 5,75%, que será paga semestralmente até 20 de outubro de 2027. Os obrigacionistas poderão ainda ter direito a um prémio de 1,25 euros por obrigação, caso a Mota-Engil não seja capaz de atingir determinadas metas ligadas a práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) da empresa.
- Oferta pública de troca (OPT): Para os antigos credores da Mota-Engil titulares das “Obrigações Mota-Engil 2022”, títulos esses que oferecem uma taxa de cupão de 4,50% e que vencerão a 22 de novembro de 2022, a construtora aceita trocar essas obrigações pelas “Obrigações Mota-Engil 2027”. Além disso, os investidores que tomarem esta decisão ainda recebem um prémio em numerário no valor de 2,375 euros por obrigação.
De acordo com o prospeto da operação obrigacionista, a Mota-Engil espera utilizar o montante angariado para financiar a sua atividade corrente e continuar a promover a sua estratégia de expansão internacional.
Além disso, através da oferta pública de troca, a Mota-Engil conseguirá substituir parte da sua dívida com vencimento em 2022 por dívida com reembolso de capital em 2027, alongando assim a maturidade da sua dívida que está maioritariamente concentrada para vencer nos próximos três anos.
Ficha técnica das “Obrigações Mota-Engil 2027”
- ISIN: PTMENZOM0004
- Valor nominal: 500 euros
- Investimento mínimo: 5 obrigações, a que corresponde um investimento mínimo de 2500 euros
- Taxa de cupão: 5,75%
- Remuneração adicional: 1,25 euros por obrigação, caso a Mota-Engil não cumpra a meta definida ao nível do índice dos acidentes de trabalho não mortais com baixa até 30 de junho de 2027
- Prazo em que decorrem as ofertas: Entre 3 de março e 17 de outubro de 2022
- Data de reembolso: 20 de outubro de 2027
- Juros: O pagamento dos cupões será realizado semestralmente a 20 de abril e 20 de outubro de cada ano
- Admissão: As obrigações serão admitidas à negociação na Euronext Lisboa a 20 de outubro de 2022
Principais riscos da operação para os investidores
A Mota-Engil é a maior construtora nacional e uma das 30 maiores no continente europeu, contanto no seu portefólio com operações em 24 países.
Detida em 40% pela família Mota, através da holding da família FM Sociedade Controlo, desde maio do ano passado que a empresa tem na sua estrutura acionista um gigante mundial.
Com uma posição de 32,4% do capital, a Chinesa China Communications Construction, a quarta maior construtura mundial, é o segundo maior acionista da Mota-Engil.
No campo financeiro, no final do ano passado a empresa detinha uma dívida líquida de 1,1 mil milhões de euros, menos 9,4% do que em 2020. As contas da empresa revelam ainda que 42% da dívida bruta do grupo encontrava-se contratada a taxa variável e o custo médio da dívida bruta adicionada das operações de locação, factoring e de gestão de pagamentos a fornecedores ascendia a 5,1%.
Atendendo que na Europa, tal como em todo o mundo, vive-se um período marcado pela subida da generalidade taxas de juro, é natural que o custo a da dívida da Mota-Engil também tenha sentido um incremente este ano. A construtora revela que o custo médio da dívida bruta subiu para 5,5% em junho. E se nada for feito em contrário, chegará ao final do ano com um custo ainda maior.
“No exercício findo a 31 de dezembro de 2021, o impacto estimado nos resultados financeiros do grupo Mota-Engil de alterações no indexante da taxa de juro dos empréstimos obtidos por cada alteração de 1 ponto percentual tem um impacto de 7,74 milhões de euros”, lê-se no prospeto da emissão das “Obrigações Mota-Engil 2027”.
As últimas contas anuais da construtora revelam também uma empresa que em 2021 gerou 411,6 milhões de euros de EBITDA, mais 8,25% do que no ano anterior. Contudo, em junho deste ano, os resultados do grupo mostravam um “gap de liquidez” (diferença entre os ativos e passivos acima referidos em cada período de maturidade residual) a um ano de -323 milhões de euros.
A 30 de junho deste ano, por forma a manter uma reserva de liquidez adequada, a construtora revela que “dispunha de linhas de crédito contratadas e não utilizadas de cerca de 314 milhões de euros e após 30 de junho de 2022 já refinanciou ou está em processo de refinanciamento de mais 339 milhões de euros de dívida bancária”.
No capítulo dos riscos associados ao investimento em títulos de dívida da Mota-Engil, o prospeto da operação dá nota de a construtora estar sujeita ao risco de rédito de natureza operacional e de tesouraria. Isso acontece porque a “Mota-Engil tem vindo a aceitar, como forma de pagamento de faturas por trabalhos realizados, títulos de dívida pública emitidos por Estados africanos, nomeadamente Angola, Moçambique e Costa do Marfim, que representavam, em 2021, 54% do volume de negócios realizado na região de África e concentravam cerca de 27% da carteira de encomendas registada nessa região a 31 de dezembro de 2021.”
No primeiro semestre deste ano, estes mercados representavam 57% do volume de negócios realizado no segmento África – E&C e concentravam cerca de 30% da carteira de encomendas registada nesse segmento de negócio.
As contas dos pequenos investidores
A Mota-Engil tem o objetivo de emitir até 100 mil obrigações com o valor nominal unitário de 500 euros que, depois de descontado todos os encargos da operação, permitirá à construtora financiar-se em mais de 48 milhões de euros.
Para os pequenos investidores, a construtora acena com uma taxa de rendibilidade média anual de 5,75%. Mas é importante fazer as contas aos custos associados à sua negociação e aos impostos cobrados pelo Fisco antes de investir nestes títulos.
Para comprar títulos de dívida, os pequenos investidores têm de pagar comissões: de subscrição, de custódia ou guarda de títulos, de pagamento de juros e de reembolso. A essas somam-se os impostos, as despesas e as taxas inerentes a essas operações. E no caso da operação de troca, os investidores ao trocarem as “velhas” obrigações pelas “novas” têm de as vender, o que faz com que as mais-valias geradas desta “troca” sejam tributadas à taxa legal de 28% e haja lugar ao pagamento de uma segunda comissão de compra (subscrição das novas obrigações).
As “Obrigações Mota-Engil 2027” serão cotadas na Euronext Lisboa, podendo serem negociadas na bolsa de Lisboa ou no mercado secundário após a emissão dos títulos que terá lugar a 20 de outubro de 2022.
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